O Poder da não-ação
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 21/01/2005 13:13:49
A não-ação é uma prática muito importante que a maioria das pessoas desconhece. Ela está relacionada a uma postura diante da vida totalmente baseada na intuição e nos sentimentos.
O seu inverso, a ação direcionada pela razão, leva a maioria das pessoas a um permanente estado de agitação e movimento, chamado de objetividade.
Já a não-ação é motivada pela subjetividade, por nosso mundo interior, onde o sentir é mais importante que o fazer.
A pessoa excessivamente objetiva tem grande dificuldade em permanecer só, relaxar e descansar. Ela necessita de atividade permanente e muitas vezes não relaxa nem mesmo durante o sono, durante o qual se agita e fala constantemente.
O conceito taoista da não-ação, denominado WEI-WU-WEI foi abordado pelo mestre Osho em uma de suas palestras, quando procurou explicar de que modo podemos trabalhar para aprendermos a não-ação na ação.
“... A pessoa objetiva sempre precisa fazer isto ou aquilo, ela não pode sentar-se só, não pode descansar... A pessoa subjetiva é inativa. É muito difícil ela passar para a ação. A pessoa religiosa é a reunião dos opostos: ação em inação, inação em ação.
Ela faz coisas, mas faz de tal maneira que nunca se torna um fazedor. Ela permanece um veículo de Deus, uma passagem - mesmo se estiver fazendo algo, não está fazendo... O fazer dela é muito brincalhão, não há nenhuma tensão nisto, nenhuma ansiedade, nenhuma obsessão. E até mesmo quando é inativa, não é pesada; mesmo sentada, ou deitada descansando, está cheia de energia. Ela não é letárgica - tem uma energia radiante. Porque os opostos encontraram-se nela numa síntese superior, ela pode agir como se estivesse num estado de inação e, ainda assim, você pode sentir a energia, você pode sentir uma vibração de tremenda atividade ao redor de seu ser. Onde quer que ela se mova, traz vida às pessoas. Só pela sua presença as pessoas mortas ficam vivas; só pelo seu toque as pessoas mortas voltam à vida.
... Atividade é SANSARA, atividade é o mundo; e quando as pessoas de Zen disserem “abandone o mundo”, eles não querem dizer “deixe sua casa, deixe a sociedade”, eles querem dizer “abandonem os apelos para agir”. Até mesmo se você tiver que fazer algo, faça mui passivamente. Se você está caminhando na rua faça-o passivamente. Dentro, o zazen continua, dentro você permanece sentado, movendo-se só no exterior. Se você estiver comendo, coma, mas dentro você permanece sentado. Pouco a pouco essa postura interna é atingida - em que você pode fazer coisas sem atividade. Uma vez aprendido isto, você pode fazer coisas e não será uma perturbação. Mas primeiro a pessoa tem que chegar às raízes, num centramento profundo.
Relaxar não é uma questão simples; é um dos mais complexos fenômenos, porque tudo aquilo que nos ensinaram foi tensão, ansiedade, angústia. Uma testemunha não é uma espectadora. Então o que é uma testemunha? Uma testemunha é aquele ser que mesmo participando permanece alerta. Uma testemunha está em um estado de WU-WEI. Uma testemunha não é aquele que escapou da vida. Experimente caminhando na rua: lembre-se que você é uma consciência. O caminhar continua, mas uma coisa nova é adicionada, uma riqueza nova. Você terá que aprender - é uma ação negativa. É uma das coisas mais significantes a serem aprendidas. Sabemos fazer coisas; este é o modo positivo, agressivo, masculino.
Há outro enfoque, mais sutil, mais gracioso, mais feminino: estar em um estado de deixar-se levar, estar em um estado de rendição, e permitir a existência fluir por você. Isto é o fazer através do não-fazer. De certo modo é negativo, porque você não está fazendo nada.
Significa permitir que as coisas aconteçam. Não faça nada, permita acontecer. E este é o caminho do coração.
O caminho do coração significa o caminho do amor. Você pode fazer o amor? É impossível fazer o amor. Você pode estar apaixonado, mas você não pode fazer o amor. Mas usamos expressões, como 'fazendo amor', que tolice! Como você pode fazer o amor? Quando amor é, você não é. Quando amor acontecer, o manipulador, o fazedor, desaparece. O amor não permite nenhuma manipulação de sua parte. Acontece. Acontece repentinamente, inesperadamente. É um presente. Da mesma maneira que vida é um presente, amor é um presente.
Estes são momentos raros, quando não há nenhuma ação e nenhuma inação, e você está imóvel. Não que você fique letárgico. Você tem energia, mas a energia não vai a nenhum lugar porque não há nenhum objetivo. A energia simplesmente está lá como um reservatório que sobe cada vez mais alto, mais e mais. Você está a ponto de explodir em algo absolutamente novo do qual você nem imagina. Você está à beira de um modo novo de vida: ação em inação. Então uma atividade nova começa na qual você não é o ator, no qual você é só um veículo, uma passagem.
Para ir até o seu centro, a pessoa precisa ser feminina, passiva, inativa, não-fazedora, não intrometida, WU-WEI, meditativa; é preciso meditação, relaxamento, não concentração. A pessoa tem que relaxar -se completa e totalmente. Quando você não está fazendo nada você está no seu centro; quando você está fazendo algo você saiu dele. Quando você fez muito, você afastou-se demais de seu centro. Chegar mais perto dele significa que você está abandonando todas atividades, você está aprendendo a ser inativo, você está aprendendo a ser um não-fazedor.
Primeiro fique feminino, depois masculino. Primeiro seja passivo, depois introduza a ação. E quando ação vier da inação, floresce a beatitude; algo do além. Mas a inação tem que ser aprendida primeiro, e depois a ação. Então esta ação não é, de jeito nenhum, agressiva, e é isto que a faz bela, graciosa, meditativa. E quando ambos são equilibrados a verdade acontece e a verdade liberta”.
(OSHO)