O poder dos Seis Sentidos
por Bel Cesar em EspiritualidadeAtualizado em 21/10/2005 11:06:00
Lama Gangchen nos alerta para a realidade de que o mundo, tal como o conhecemos, é criado por nossas mentes, como explica em seu livro Autocura Tântrica III (Ed. Gaia): “O resultado da causa e condição do surgimento interdependente negativo de nosso renascimento com uma mente e corpo impuros (nosso samsara interno) é o desenvolvimento em nossos órgãos embrionários dos seis ventos de energia poluídos ligados aos seis sentidos. No útero de nossa mãe, nosso corpo e mente são como uma casa recém-construída com seis entradas: olhos, ouvidos, nariz, língua, ventos do sentido do tato e vento de energia Sogdzin de sustentação da mente (sem os sentidos grosseiros nem consciência mental). Nossos ventos de energia dos seis sentidos surgidos interdependentemente fazem com que as sombras de nosso apego e raiva egoístas se desenvolvam e cresçam: a autodestruição - o oposto da autocura.”
O cérebro processa as informações transmitidas pelos órgãos sensoriais e as transforma em imagens e pensamentos. Por exemplo, quando escutamos uma música que nos desagrada, o nível de cortisol (o composto químico do estresse) aumenta. Sentimos mal-estar e ficamos irritados. No entanto, quando escutamos uma música que nos agrada, o nível de cortisol diminui e a DHEA, o hormônio sexual produzido principalmente nas supra-renais, aumenta, colocando as moléculas sexuais em movimento. Começamos a sorrir. Assim como relata a Dra.Theresa Crenshaw, em seu livro A alquimia do amor e do tesão (Ed. Record): “E você fica sorrindo com tanto prazer que sua dopamina também deve estar fluindo. A dopamina lhe motiva e mobiliza. De fato, um aumento de dopamina é a razão pela qual as pessoas pulam de alegria e dançam, quando estão felizes. Talvez seja também a razão pela qual elas se movem com a música. E então o que acontece? Dê as boas-vindas à ocitocina. Quando dançamos, nos tocamos. Ou, pelo menos, esperamos tocar em alguém, mais cedo ou mais tarde. Seus peptídeos entram na dança. A ocitocina aumenta. Algumas músicas animadas - exercício físico - e outros hormônios vão subindo. Sua temperatura sobe demais e a vasopressina lhe diz para fazer uma pausa. Quando você se cansa vem uma música lenta. Você está pingando suor e exalando feromônios. Você volta a ter contato físico, desta vez um contato frontal completo - sobrecarga de ocitocina. Suas endorfinas aumentam. Você vai às nuvens...”
Daí ser tão importante nos conscientizarmos sobre o poder dos estímulos sensoriais sobre nossas decisões e escolhas. A mente integra, traduz, decodifica as impressões dos cinco sentidos. Enquanto vivermos sob o domínio dos estímulos sensoriais, estaremos à mercê de nossa química interna!
Heloisa Gioia escreve em Um caminho iluminado (Ed.ABDR): “O íntimo funcionamento Psicofísico (Mente/Corpo) é responsável pela formação e pela ação dos Seis Sentidos que temos: os cinco que estão no nosso corpo, como vista, audição, olfato, paladar, tato e o sexto sentido, que está na mente, compreendido como aqueles sentido que possibilitam experimentar o mundo sem utilizar os cinco primeiros. O sexto sentido, por ser mental, refere-se sobretudo à capacidade de pensar, conhecer, memorizar, imaginar, visualizar. Através do sexto sentido é possível, por exemplo, visualizarmos claramente alguma coisa mesmo de olhos fechados, sem nem termos conhecimento anterior dela”. A mente é ampla e transcende os limites da matéria.
O quinto Elo interdependente está simbolizado no desenho da Roda da Vida por uma casa vazia com seis janelas. O fato delas estarem vazias indica que, em essência, somos puros. Ou seja, a leitura que temos do mundo externo é uma expressão dos dados que carregamos em nosso mundo interno. Aqueles que realizaram o potencial pleno de suas mentes, isto é, que eliminaram os vícios mentais negativos, podem ver, ouvir, tocar, cheirar e saborear sempre positivamente.
Por isso, as práticas budistas nos estimulam a purificar nossa percepção sensorial como forma de purificar a nossa mente. Lama Gangchen Rinpoche sempre nos diz: “Olhe com paz, escute com paz, toque com paz, cheire com paz, saboreie com paz. Assim, vocês poderão mudar suas vidas positivamente”.
A primeira vez que o escutei dizendo isto, estávamos sentados numa sala de meditação escutando seus ensinamentos, quando inesperadamente ele parava de falar e percutia uns címbalos (tubos sonoros) que vibravam sons graves e agudos por toda sala. Ele apenas dizia: “Escutem com paz”. Nas primeiras vezes, percebi que minha mente ficava mais agitada. Sem saber como lidar com os inesperados sons aleatórios, sentia-me mais ansiosa ao tentar relaxar. Mas, aos poucos, a cada vez que Rinpoche tocada os címbalos, eu me emocionava ao sentir que há muito tempo não me abria para escutar com paz. Esta experiência ficou marcada em mim até hoje. Ela me ajuda a observar a freqüência com que minha mente critica antes de apreciar, reclama do que nem experimentou ou mesmo evita o que poderia ser bom. De fato, estamos estressados de ver e ouvir, pois nossa percepção sensorial está sobrecarregada de imagens violentas e sons agressivos e, por isso, nos fechamos para novas idéias e oportunidades. Sem nos darmos conta, afastamos as pessoas de nós apenas por olhá-las com um olhar crítico. Não saboreamos mais o que comemos por estarmos tão acostumados com os alimentos de nosso cotidiano. Ao observarmos como nossa mente tem escutado, saboreado, tocado, olhado o mundo à nossa volta, podemos superar o tédio ao nos surpreender com o frescor de um mundo que já nos parecia óbvio!
Última atualização em 21/8/6