O povo que se veste de Natureza
por Adília Belotti em EspiritualidadeAtualizado em 27/11/2008 16:09:41
Uma amiga me envia a apresentação que você vê lá embaixo e eu me pego muito tempo depois grudada na tela, clicando, assombrada…
As imagens são puro deslumbramento, como fazer caber na imaginação esses seres, vivendo ali ao lado, hoje ainda, tão magnificamente entrelaçados na Natureza?
A parte mais baixa do Vale de Omo, no sudoeste da Etiópia, isolada pelas montanhas etíopes ao norte, os pântanos do rio Nilo a oeste, e o deserto do Quênia, ao sul, é um dos lugares mais selvagens do planeta. Aprendo que o vale foi tombado pela UNESCO, para preservar a quantidade de achados arqueológicos encontrados na região, e não estou falando de artefatos, coisa recente, não. No subsolo do Vale do Omo escondem-se vestígios de nossos ancestrais, hominídeos de 4 milhões de anos!
O que me leva a imaginar que um dia, há milhões de anos, o vale deve ter sido uma espécie de esquina do mundo, onde se encontravam e conviviam humanos de todos os tipos, andarilhos caminhando pela terra recém-nascida. Uma espécie de Nova Iorque pré-histórica…
Nova Iorque, sim, porque ali até hoje convivem (e brigam) uma imensa variedade de grupos étnicos. Leio que numa área de menos do que 15 mil quilômetros quadrados são faladas mais do que 10 línguas diferentes, fora os dialetos!
O fotógrafo alemão passou muitos meses entre algumas destas tribos, os Mursi e os Surma, para compor seu Ethiopia: Peoples of the Omo Valley, dois grandes volumes com as fotos que você viu lá em cima e textos explicativos dos rituais e das artes envolvidas na confecção dessas obras de arte humanas.
Embora pareçam saídos de alguma “Semana de Moda” de Paris, embora exibam-se tão modernos diante de nossos olhos ávidos de “propostas” que nos chacoalhem a alma, esses povos estão ameaçados. Viver no vale é um exercício duro de sobrevivência, as mudanças climáticas alteram o regime dos rios, as diferenças transformam-se facilmente em guerras, os olhares estrangeiros dos turistas enchem de furos a trama delicada e frágil da existência.
Preservá-los, como? Incluí-los no quê? Somos tão arrogantes de achar que nosso jeito de viver é tão melhor que todos, você também não acha?
Deixá-los lá, cobertos com um manto de invisibilidade, brincarem com as folhas, as flores, os galhos e todas as cores do planeta!