O Verdadeiro Herói
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 11/11/2005 12:19:15
Desde pequenos fomos acostumados a identificarmo-nos com os heróis das histórias infantis, dos quadrinhos, do cinema. Toda a literatura que fez parte de nosso imaginário está repleta de figuras heróicas, que nos impeliram a também querer provar, ao longo da vida, nossa coragem e valor.
Entretanto, em nossa sociedade, a figura arquetípica do herói, que defendia princípios elevados e nobres, tem sido cada vez mais identificada e confundida com a imagem do vencedor no mundo corporativo, onde alcançar uma posição de destaque é uma batalha a cada dia mais acirrada.
Não é à toa que a maioria de nós se vê na obrigação de colecionar, desde muito cedo, inúmeros sinais exteriores que atestam esta condição de vencedores na selva social: prestígio, status, riqueza material e poder social.
É claro que ter uma situação financeira confortável, que nos garanta viver com dignidade e poder realizar alguns sonhos, é o que todos desejamos e não há nada de errado nisso.
Porém, quando colocamos este objetivo como única meta de nossa vida, estamos abrindo a porta para uma postura excessivamente competitiva, que nos levará facilmente a abrir mão de princípios e valores para alcançar este objetivo.
A agressividade no mundo do trabalho, tão valorizada e estimulada atualmente, faz com que os jovens se tornem alvo fácil da ilusão material, visto que ainda não estão suficientemente maduros para conhecer o que realmente os fará felizes, deixando-se, portanto, enredar com grande facilidade pelos apelos da indústria do consumo.
Para consumir cada vez mais, é necessário ganhar cada vez mais. Para alcançar tal objetivo, a competição se torna cada vez maior e, provar que se é melhor do que o outro, torna-se não somente uma obrigação, mas uma verdadeira obsessão.
Nestes tempos de massificação exacerbada, é imprescindível refletirmos sobre a espécie de herói que queremos encarnar. Aquele que tem como objetivo a defesa de ideais elevados, que visam não apenas seu próprio benefício, mas também o de seus semelhantes, ou o que busca apenas o poder, a dominação e a obtenção permanente de vantagens individuais, como forma de compensar sua indigência espiritual?
Todo ser humano almeja um estado de satisfação interior que seja resultado de suas conquistas. Porém, esta satisfação é ainda maior quando as conquistas não são apenas de natureza material, mas principalmente aquelas alcançadas sobre nossos medos, fraquezas e limitações. Esta é a maior e mais valiosa batalha da qual precisamos sair vencedores.
Sem tal consciência continuaremos presas fáceis das ilusões e da pressão pela busca de resultados meramente materiais, que se não tiverem como base segurança e equilíbrio interior, podem, ao desaparecer, levar consigo nossa sanidade.
Mais uma parte do comentário de Osho sobre a obra “O Segredo da Flor Dourada”, que versa sobre o florescimento da visão taoista a respeito da vida e da existência:
"Esta é a primeira coisa a ser entendida. Uma vez que você tome a decisão de seguir o caminho para dentro, uma vez que você tome a decisão de ser um sannyasin, de ser um meditador, uma vez que você tome a decisão que agora o interior está chamando e você vai procurar e buscar pela questão 'Quem sou?', então a primeira coisa a ser lembrada é: não se mova de uma maneira tensa. Mova-se de uma maneira muito relaxada, certifique-se de que sua jornada interior está confortável. Isto agora é de imensa importância.
Normalmente este primeiro erro acontece a todo mundo. As pessoas começam a fazer sua jornada interior desnecessariamente complicada, desconfortável. Isto acontece por uma certa razão. As pessoas estão raivosas com os outros em sua vida normal. Elas estão violentas com os outros. Em suas extrovertidas jornadas normais elas são sádicas: elas gostam de torturar os outros, de derrotar os outros, de competir com os outros, de conquistar os outros. Todo o seu prazer está em como fazer os outros se sentirem inferiores a elas. Isto é a sua jornada extrovertida.
Isto é a política. Esta é a mente política, constantemente tentando tornar-se superior aos outros, legalmente ou ilegalmente, mas mantendo o constante esforço para derrotar os outros, a qualquer custo. Mesmo que o outro tenha que ser destruído, então que ele seja destruído. Mas há que se vencer: ser o primeiro-ministro, ser o presidente, ser isto ou aquilo, a qualquer custo. E todos são inimigos, pois todos são competidores.
... Sempre que há competição, é muito provável que exista inimizade. Como você pode ser amigável com pessoas que estão competindo consigo, que são perigosas para você e para quem você é perigoso? Ou elas vencerão e você será derrotado, ou você será o vencedor e elas terão que ser derrotadas. Assim, tudo o que vocês chamam de amizade, é simplesmente uma fachada, uma formalidade... Este mundo tornou-se um campo de guerra devido à educação orientada para a ambição e a política.
... Toda espécie de estupidez tornou-se possível por causa de um simples erro. O erro é: enquanto você vive externamente, você tenta fazer com que a vida seja difícil para os outros; e quando você começa a se voltar para dentro, existe uma possibilidade de que a velha mente tentará fazer com que a sua vida seja difícil.
Lembre-se de que o buscador interior tem que estar confortável, porque somente numa situação confortável, num estado relaxado, alguma coisa pode acontecer. Quando você está tenso e desconfortável, nada é possível. Quando você está tenso e desconfortável, sua mente está preocupada, você não está num espaço de silêncio.
... Esteja confortável, esteja relaxado. Não há qualquer necessidade de se torturar, nem de criar problemas desnecessários. Abandone essa mente de raiva, violência e agressão; e somente então você conseguirá mover-se para dentro. Porque somente numa consciência relaxada é possível flutuar internamente, cada vez mais fundo. Em completo relaxamento alcança-se o centro mais interno. (...) "
OSHO - The Secret of Secrets (O Segredo dos Segredos) - vol. II - Cap. 1 - Tradução: Sw. Bodhi Champak