Para seguir em frente, mantenha-se em movimento
por Bel Cesar em EspiritualidadeAtualizado em 11/09/2008 17:43:51
Esta noite tive um sonho muito curioso: estávamos reunidos num grande grupo com Lama Gangchen num congresso, e nos foi avisado que haveria uma catástrofe, como se estivéssemos diante do final do mundo. Algumas pessoas começaram a correr. Lembro-me de estar parada diante de uma televisão, escutando um homem falar: “vocês irão se ver diante de um clone de si mesmos, mas não se assustem, não são reais. No momento que vocês entrarem neles, eles se dissolverão”.
Acordei pensando no medo que surge quando estamos diante de certas tomadas de decisão, que nos levam a encarar de frente nossa própria imagem e responder com extrema honestidade: “Afinal, o que penso de mim mesmo?”.
Não sei o que responder. Mas creio que isso seja um bom sinal; afinal, quando não sabemos mais o que dizer a nós mesmos, é que estamos prestes a nos conhecer novamente!
É hora de reciclar nossa auto-imagem, quer dizer, termos a liberdade de dar uma nova chance ao reconhecer nossas mudanças internas. “Antes eu pensava assim, agora já não penso mais”.
Cada vez que atualizamos a visão que temos de nós mesmos, uma força renovadora surge para nos fortalecer. Há um certo sabor de vida nova. A imagem congelada sobre nós mesmos já começa a derreter. Como no sonho, quando entramos em nós mesmos, a antiga percepção de nossa auto-imagem começa a se dissolver.
Hoje cedo, um amigo querido com quem não falava havia algum tempo me telefonou. Ao final de nossa conversa ele me alertou: “Volte a escrever”. E eu respondi: “Não sei, estou sem inspiração”. Mas logo que desliguei o telefone, pensei que este sonho poderia ser um recomeço para dissolver a paralisia da minha criatividade.
Como fonte de inspiração, resolvi folhear um livro que há muito tempo estava parado na minha prateleira: Mulheres que correm com os lobos, da Clarissa Pinkola Estes. Logo encontrei um trecho sobre a história do Patinho Feio que me entusiasmou a escrever... Caso queira lê-lo na íntegra, está na página 232 (Ed.Rocco). Reescrevo-o com a intenção de descongelar a frieza que sentimos quando nossa criatividade fica congelada!
“Um ser humano congelado significa que ele está propositalmente sem sentimentos, em especial para consigo mesmo, mas também e às vezes ainda mais para com os outros. Embora esse seja um mecanismo de autoproteção, ele prejudica a psique-alma, porque a alma não reage ao gelo, mas ao calor. Uma atitude gélida apagará o fogo criativo da mulher. Ela inibirá a função criativa”... “Quando escritores, por exemplos, se sentem secos, áridos e sem vida, eles sabem que o jeito para voltar à fertilidade reside em escrever. Há pintores que estão ansiosos por pintar, mas dizem a si mesmos, ‘larga disso. Seus quadros estão estranhos e feios’.”... “Portanto, qual é a solução? Aja como o patinho. Siga em frente, supere tudo com a luta. Apanhe logo a caneta, comece a escrever e pare de resmungar. Escreva. Pegue o pincel e, para variar, seja má consigo mesma: pinte. Bailarina, vista sua malha, amarre fitas no cabelo, na cintura ou nos tornozelos e diga ao corpo que se mexa. Dance. Atriz, dramaturga, poeta, musicista ou qualquer outra. Em geral, pare de falar. Não pronuncie mais uma palavra sequer, a não ser que você seja cantora. Tranque-se num quarto com teto ou uma clareira sob os céus. Exerça sua arte. Sabe-se que o que está em movimento não se congela. Por isso, mexa-se. Vá em frente”.
Agradeço à Clarissa por ter me mantido em movimento!