Paulo de Tarso
por Acid em EspiritualidadeAtualizado em 25/02/2005 12:19:09
Para muitos teólogos, Paulo foi um personagem fundamental nos primeiros anos do cristianismo. Seu trabalho de evangelização foi, em grande parte, responsável pelo caráter universal da doutrina cristã e sua mensagem, expressa em cartas enviadas às comunidades que fundava, ainda hoje é considerada o alicerce da jurisprudência, da moral e da filosofia modernas do Ocidente. Enquanto a maioria dos apóstolos que conviveram com Jesus restringiram sua pregação à Palestina, Paulo levou a palavra de Cristo para lugares distantes, como a Grécia e Roma. Sua importância na construção da Igreja primitiva é tão grande que muitos estudiosos atribuem a ele o título de pai do cristianismo.
O historiador André Chevitarese, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), especialista em cristianismo e judaísmo antigos, concorda: "O cristianismo, tal como existe hoje, deve muito a Paulo. Se não fosse o apóstolo, ele provavelmente não teria passado de mais uma seita judaica". Isso não quer dizer que o trabalho dos 12 apóstolos tenha sido irrelevante, mas eles pregaram numa região, a Palestina, que viria a ser devastada pelos romanos entre os anos 66 e 70. "Sem dúvida, Paulo foi o apóstolo que teve maior repercussão com o passar dos séculos", afirma o teólogo Pedro Lima Vasconcellos, professor do Departamento de Teologia e Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo. O termo apóstolo, no sentido de evangelizador, é freqüentemente usado para se referir a São Paulo. Não há evidências históricas, entretanto, de que ele tenha conhecido Jesus Cristo.
A influência de Paulo é indiscutível. Mas, para uma corrente de historiadores e teólogos, ele deturpou os ensinamentos de Jesus Cristo – a ponto de a mensagem cristã que sobreviveu ao longo dos séculos ter origem não em Cristo, mas em Paulo. Esses pensadores julgam ser mais correto dizer que o que existe hoje é um "paulinismo", não um cristianismo. "As cartas de São Paulo são uma fraude nos ensinamentos de Cristo. São comentários pessoais à parte da experiência pessoal de Cristo", afirmou o líder pacifista indiano Mahatma Ghandi, em 1928. Opinião semelhante tem o prêmio Nobel da Paz de 1952, o alemão Albert Schweitzer, que declarou: "Paulo nos mostra com que completa indiferença a vida terrena de Jesus foi tomada".
As principais críticas da corrente antipaulina concentram-se em pontos polêmicos das cartas do apóstolo. Nelas, entre outras coisas, Paulo defende a obediência dos cristãos ao opressivo Império Romano, bem como o pagamento de impostos, faz apologia da escravidão, legitima a submissão feminina e esboça uma doutrina da salvação distinta daquela que, segundo teólogos antipaulinos, teria sido defendida por Jesus. "A mentira que foi Paulo tem durado tanto tempo à base da violência. Sua conversão foi uma farsa", afirma Fernando Travi, fundador e líder da Igreja Essênia Brasileira. Os essênios eram uma das correntes do judaísmo há 2 mil anos, convertidos na primeira hora ao cristianismo. "Ele criou uma religião híbrida. A prova disso é o mundo que nos cerca. Um mundo cheio de guerra, de sofrimentos e de desespero".
Os trechos entre aspas acima são da revista Superinteressante
Agora é moda atacar Paulo de Tarso. Moleza falar isso agora. Afinal, o cristianismo já está mais do que difundido, qualquer pessoa tem acesso aos evangelhos apócrifos pela internet, sem correr o risco de ser queimado vivo ou apedrejado. É como eu ou você, que não fizemos nem um milésimo do que fez um Chico Xavier no auxílio aos mais necessitados, ousássemos criticá-lo por comer carne ou por não ter se imposto diante de situações controversas. QUEM SOMOS NÓS PARA JULGAR A VIDA DOS OUTROS? Há um ditado indígena norte-americano que diz "Antes de julgar um homem, deixe-me primeiro andar uma milha usando seus (Sapatos) mocassins(*)". Sem falar no adágio que Jesus nos legou:
(Mat 7:1-5)
Quem são as pessoas que julgam Paulo de Tarso? O que elas fizeram em busca do seu ideal de fé? O quão longe elas foram para falar de amor a completos estranhos, sem ganhar nada em troca, e por vezes ainda ser recebido com pedradas, prisões e ameaças de morte?
Também não concordo com a (Comentário ou dissertação que tem por objetivo esclarecer ou interpretar minuciosamente um texto ou uma palavra.) exegese(*) feita por Paulo em algumas ocasiões, mas eu os analiso, além do aspecto religioso, sob o ponto de vista histórico e social. Concessões tiveram de ser feitas em nome da popularização da doutrina cristã. Você acha ruim? Então que tal ficar no radicalismo dos apóstolos, que exigiam que TODO convertido tivesse de ser circuncidado? A coisa muda de figura, não? Graças a Paulo, que enfrentou os apóstolos, isso não é mais necessário. Aliás, somente graças a Paulo é que nós, aqui no Brasil, sabemos tão bem quem foi Jesus, porque, se dependesse dos apóstolos, o cristianismo seria mais uma obscura dissidência judaica, como os essênios, e Jesus provavelmente ia ser menos popular que Buda.
Eu quero acreditar que as pessoas têm cérebro pra separar o que é Divino do que não é Divino, o que se deve guardar no coração e o que não se deve:
Contudo queria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem de Deus o seu próprio dom, um deste modo, e outro daquele. Digo, porém, aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficarem como eu. Mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se. Todavia, aos casados, mando, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido; se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher. Mas aos outros digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem mulher incrédula, e ela consente em habitar com ele, não se separe dela. E se alguma mulher tem marido incrédulo, e ele consente em habitar com ela, não se separe dele.
(1Co 7:7-13)Usem o bom-senso e vejam que são regras sociais, rígidas e formais, algo muito diferente da amplitude com que Jesus abarcava os mesquinhos assuntos sociais e tornava suas palavras válidas para a eternidade. A sociedade da época era patriarcal, retrógrada e rígida. Aí vemos o imenso abismo que separa um iluminado como Jesus de um apóstolo (por mais dedicado e bem-intencionado que seja) como Paulo. Jesus, que se colocava no mesmo patamar das mulheres, ajudava prostitutas e leprosos (a ralé da ralé) e, se os evangelhos apócrifos estiverem corretos, confidenciou seus mais complexos ensinamentos para Maria Madalena, sua amada (Mas isso é coisa pra outro texto).
É engraçado como as mesmas pessoas que usam Paulo para justificar suas atitudes sabem separar o que é bom pra eles do que não é:
Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também; se, porém, para a mulher é vergonhoso ser tosquiada ou rapada, cubra-se com véu. Pois o homem, na verdade, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus; mas a mulher é a glória do homem. Porque o homem não proveio da mulher, mas a mulher do homem; nem foi o homem criado por causa da mulher, mas sim, a mulher por causa do homem. Portanto, a mulher deve trazer sobre a cabeça um sinal de submissão, por causa dos anjos. Todavia, no Senhor, nem a mulher é independente do homem, nem o homem é independente da mulher. Pois, assim como a mulher veio do homem, assim também o homem nasce da mulher, mas tudo vem de Deus. Julgai entre vós mesmos: é conveniente que uma mulher com a cabeça descoberta ore a Deus? Não vos ensina a própria natureza que se o homem tiver cabelo comprido, é para ele uma desonra; mas se a mulher tiver o cabelo comprido, é para ela uma glória? Pois a cabeleira lhe foi dada em lugar de véu. Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem tampouco as igrejas de Deus.
(1Co 11:6-16)
Por que será que as mulheres vão tão enfeitadas para a igreja, e não usam sequer um chapéu? Provavelmente porque sabem distinguir (quando querem, ou quando lhes é conveniente) os valores humanos dos espirituais. Já está mais do que na hora de nos soltarmos da mão de Paulo e andarmos por conta própria em direção ao mais puro cristianismo. Mas isso não significa repudiar por completo o imenso e valoroso trabalho desse homem, que escreveu "E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria".(1Co 13:2)
Em vez de me irritar com Paulo, na verdade só cresce minha admiração, quanto mais eu pesquiso sua história: um homem criado na (Tinha 28 anos quando ocorreu sua conversão, portanto não teve idade para adentrar nos mistérios (e flexibilidade) da Cabalá.) rígida(*) disciplina teológica do judaísmo, perseguidor implacável (e assassino) de cristãos, teve de rever radicalmente seus conceitos (e tudo o que aprendeu como fé e verdade) e dedicar o resto da sua vida a defender o cristianismo, conciliando-o com a doutrina de Moisés (que ele nunca renegou) o que é muito difícil, considerando a rigidez patriarcal a que estava (Mesmo Jesus, que veio "cumprir a Lei", teve de quebrar alguns "tabus" por conta da mentalidade pequena do povo judeu daquela época... aliás... não só daquela época) atrelada(*). Ele teve de lutar não só com a mentalidade religiosa da época, como também a sua própria, combatendo seus próprios preconceitos! Em alguns itens, pode ter perdido, mas em outros com certeza ganhou.
Por fim, uma mensagem de Joanna de Angelis, sobre como as informações espirituais se destinam à determinada faixa, e os erros que podem advir do transmissor pensar que está destilando o mais puro e genérico ensinamento Divino para o mundo:
PREGANDO SEMPRE
Observando as pessoas, tens a impressão de que, nestes dias da Informática, todas se encontram esclarecidas e orientadas a respeito da vida. Supões que reiterar os ensinos morais do Evangelho pode produzir-lhes desagrado e mal-estar, tão ágeis mentalmente se apresentam, nos círculos sociais do mundo.
Algumas vezes pensas que não há receptividade para os conceitos espíritas de que és portador.
Apresentando-se utilitaristas, essas pessoas vivem ávidas de emoções fortes, saturadas que estão pelos dramas e tragédias de cada hora.
Ocorre que as informações que mais se transmitem raramente são corretas.
Elaboradas para atender a determinadas faixas, carregam condicionamentos psicológicos que devem atingir finalidades especificas.
Servindo a interesses muito especiais não visam a esclarecer nem libertar consciências.
Outrossim, no jogo das paixões a que se arrojam e se exaurem as pessoas, o amor é, ainda, a emoção mais forte, porque muito buscado nas áreas erradas e raramente encontrado para ser vivido. Além disso, a imortalidade da alma prossegue constituindo um desafio e um mistério para a quase totalidade dos homens. Ora aparece envolta em fórmulas, símbolos, ritos e praxes; noutros momentos é negada com acrimônia, e, vezes outras, faz-se examinada sob condições místicas.
Portanto, a informação clara e simples produz emulação e constitui motivo para sérias reflexões. Afinal, todos os que se movimentam no corpo despir-se-ão dele, quando o mesmo morrer. É de relevância que se informem todos a respeito do que ocorrerá depois.
*
Aplica bem o tempo de que disponham quando a serviço da Mensagem. Não desperdices oportunidade. Elucida alguém, quando não o possas fazer a muitos. O importante é a contribuição, modesta que seja, à obra da libertação espiritual.
O Apóstolo Paulo pregava às multidões quando lhe era facultado, todavia, realizava o trabalho de fixação das bases das Igrejas nascentes em cada conversa, na intimidade do lar, ou aos pequenos grupos que se acercavam, mais intimamente, sequiosos. As experiências psíquicas com o Mestre, as revelações de que participava, os fenômenos mediúnicos que vivia eram relatados com doçura e calor nas reduzidas assembléias, sustentando a fé em despertamento, e transmitindo segurança a respeito da imortalidade. Ele vivia em razão do porvir. Seu ontem era lição vigorosa que estruturava o hoje na ação para o futuro.
Nunca desanimou, nem mesmo quando abandonado, padecendo suspeitas atrozes ou apedrejado até quase a morte, como se estivesse ao abandono do Senhor. Levantava-se do abismo a que o arrojavam e volvia à atividade iluminativa.
Não desperdiçava ocasião.
*
Todos, na Terra, têm problemas. Com discrição atinge-lhes os centros de atenção e condutos a Jesus. Narra com delicadeza, mas com valor as tuas vivências, sem exibição, tomando o Mestre como exemplo e os Seus discípulos como marcos definitivos do processo de evolução espiritual da Humanidade, quanto te facultem as oportunidades. Age, no entanto, testemunhando pelo comportamento a tua convicção e, mesmo em silêncio, estarás ensinando alegria de viver e tranqüilidade quanto ao futuro imortal.
Joanna de Angelis; Divaldo Pereira Franco