Platão e o Sono
por Acid em EspiritualidadeAtualizado em 23/05/2005 15:17:51
Na lista Voadores se comenta muito sobre a importância dos bons pensamentos e da boa alimentação para ter uma boa saída do corpo ao dormir (seja consciente ou não) evitando que, por sintonia e afinidade, possa o seu espírito ir para lugares não muito apropriados ao desenvolvimento (Que se refletem no consciente de alguma forma, mas geralmente dentro das três categorias de percepção: um sonho detalhado e coerente (sinal de que você estava consciente de sua projeção), onirismos (elefantes voando, essas coisas malucas que sua mente vai botando pra fora, numa limpeza mental semelhante ao desfragmentador do Windows) ou acordar com uma impressão ruim, de quem não dormiu muito bem.) espiritual(*). Pois bem: um velho Voador, há 2.400 anos atrás, já falava a mesma coisa, sem tirar nem pôr!
Quanto aos desejos e à natureza do homem tirânico. Do livro "A República", Cap. IX:
- Sócrates - Entre os prazeres e os desejos não necessários, alguns me parecem ilegítimos. Creio que sejam inatos em cada um de nós, mas reprimidos pelas leis e pelos desejos melhores, com a ajuda da razão, podem ser totalmente extirpados em alguns, ou ficarem só em pequeno número e enfraquecidos, ao passo que nos outros subsistem mais fortes e em maior número.
- Adimanto - A que desejos te referes?
- Sócrates - Aqueles que despertam durante o sono, quando repousa essa parte da alma que é racional, benigna e feita para comandar a outra, e a parte bestial e selvagem, empanturrada de comida ou de bebida, estremece e, depois de ter sacudido o sono, parte em busca da satisfação dos seus maus pendores. Tu sabes que em tais casos ela ousa tudo, como se fosse desembaraçada e livre de toda vergonha e de toda prudência. Não receia tentar, em pensamento, unir-se à sua mãe ou a quem quer que seja, homem, deus ou animal, envolver-se em qualquer tipo de crime e não deixar de ingerir nenhuma espécie de alimento. Numa palavra, não há loucura nem impudência de que não seja capaz.
Adimanto - É verdade o que dizes.
- Sócrates - Mas quando um homem, saudável de corpo e moderado, se entrega ao sono depois de ter despertado o elemento racional da sua alma e tê-lo alimentado de belos pensamentos e nobres especulações, pensando a respeito de si mesmo; quando evitou tanto reduzir à fome como saciar o elemento concupiscível, a fim de que se mantenha em repouso e não cause perturbações, pelas suas alegrias ou tristezas, ao princípio melhor, mas o deixe, só consigo mesmo e liberto, examinar e esforçar-se por apreender que ignora do passado, do presente e do futuro; quando este homem dominou de igual modo o elemento irascível e não adormece com o coração tomado de ira contra alguém; quando acalmou estes dois elementos da alma e estimulou o terceiro, em que reside a sabedoria, e, por fim, repousa, então, como sabes, toma contato com a verdade melhor do que nunca, e as visões dos seus sonhos não são de modo nenhum desregradas.
- Adimanto - Estou convicto disso.
- Sócrates - Mas alongamos em demasia este ponto. O que queríamos constatar era que há em cada um de nós, mesmo nos que parecem totalmente disciplinados, uma espécie de desejos terríveis, selvagens, sem leis, e isso é posto em relevo pelos sonhos. Vê se o que digo te parece verdadeiro e se concordas comigo.
- Adimanto - Sim, concordo.