Por um caminho mais suave...
por Rubia A. Dantés em EspiritualidadeAtualizado em 09/07/2004 12:03:44
Era um dia de final de outono e o céu de um azul muito intenso fazia um encontro perfeito com o verde da mata... que eu avistava, da varanda da casa da fazenda... onde o tempo não cobrava nada... estava todo disponível deslizando mansamente em harmonia com o movimento do vento... da luz... do som... do Todo.
Uma sensação de paz e bem estar me fizeram pensar que esse era um dia perfeito... Eu me sentia integrada e feliz... sem precisar de nenhum motivo para estar assim... só sentir...
Quando o grito de um gavião cortou o silêncio e me trouxe uma lembrança antiga...
Me vi em um tempo que passou, onde um grito assim marcou o inicio de uma situação aparentemente feliz... mas que se mostrou de muita dor depois... foi um período de um profundo aprendizado... mas que passava pelo sofrimento... onde precisei sofrer muito para conseguir me libertar de um padrão... justo por acreditar que a gente só aprende com o sofrimento... o que também é um padrão que faz com a gente só aprenda assim...
Isso de só aprender pela dor é uma história muito, muito antiga e que por ser aceita por muitas crenças... faz com ela seja tão arraigada, que a gente se acostuma... sem nem perceber... que esse é um padrão que podemos quebrar... como quebramos os outros...
Me lembrei de um sonho recente onde me vi diante da possibilidade de fechar essa história do crescer pela dor... e onde as lágrimas se transformaram em pequenos diamantes... e foi ficando mais claro para mim o significado desse sonho como sendo um marco onde escolhi me liberar desse padrão de precisar passar pelas lágrimas para aprender... escolhi aprender com suavidade e com alegria...
Sei que a partir dessa escolha eu vou ser testada e o meu lado que se acostumou tanto com esse tipo de aprendizado... vai tentar me puxar... É aqui que eu vou ficar atenta para não me deixar levar, fazendo um trabalho de levar luz a essas partes... e com isso vou ficando mais inteira nesse novo caminho...
Percebi que meus pensamentos me afastavam da beleza do dia que se oferecia assim para mim sem pedir nada em troca... E entendi como esse padrão do crescer pela dor tem a ver com o merecimento... com a culpa... acho que aprendemos a nos sentir culpados e acreditamos que não podemos receber nada assim impunemente... sem passar por uma provação...
Essa culpa tão arraigada... faz com que a gente... sem nem perceber... vá aceitando que precisa sofrer... sendo que podia alcançar o mesmo resultado sem passar por tanto sofrimento...
Me veio a imagem de uma rosa e das duas opções que eu podia escolher para colher a mesma rosa... ou passava o braço por entre os espinhos... ou simplesmente colhia a rosa pelo outro lado... Entendi que até agora eu muitas vezes escolhi passar pelos espinhos porque ainda não via essa outra possibilidade de simplesmente colher a rosa... Mas sei que aquele era o aprendizado que eu precisava no momento... ou era a única forma que eu acreditava de poder aprender...
Me lembrei de algumas vezes quando as coisas eram tão felizes... e de alguma forma vinha um sentimento de que alguma coisa estava errada... esse sentimento vinha na forma de uma preocupação de perder aquilo... na forma de um medo... ou de lembranças que me tiravam a oportunidade de desfrutar daquela sensação de inteireza...
Assim como hoje... nesse dia lindo e imaculado, eu logo fui buscar na memória situações que me tirassem da serenidade que o Universo estava me dando de presente... e ao invés de simplesmente desfrutar... eu já ia escolhendo viajar nas memórias antigas da dor...
Então... reforçando a escolha que fiz... de agora aprender com suavidade... eu deixei ir essa lembrança já antiga e voltei os olhos e o coração para o horizonte que já se fazia pintar de uma cor levemente alaranjada porque o sol se despedia do dia...
E mergulhei na leveza que aquela paisagem me inspirava sabendo que esse é um caminho que escolhi e vou estar inteira nele.