Princípios Herméticos - Parte 3: Gênero
por Acid em EspiritualidadeAtualizado em 08/04/2020 11:34:58
O Sétimo Grande Princípio hermético -o Princípio de Gênero- diz que há Gênero manifestado em tudo, ou seja, que os Princípios Masculino e Feminino estão sempre presentes e em ação em todos os planos da vida. Entretanto, é preciso deixar claro que o Gênero, no sentido Hermético, é derivado da raiz latina que significa gerar, procriar, produzir. Essa palavra tem um significado mais extenso e mais geral que o termo sexo, que se refere às distinções físicas entre as coisas viventes: machos e fêmeas. O sexo é simplesmente uma manifestação do Gênero em certo plano (o plano físico, da vida orgânica).
Um bom exemplo de gênero pode ser encontrado no átomo: uma nuvem de corpúsculos negativos ao redor de um positivo. E a partir do átomo (e da interação entre essas forças) surge a construção de todas as coisas. O que nos lembra a sabedoria do verso 42 do Tao Te Ching:
O Tao gera o um
O um gera o dois
O dois gera o três
O três gera as dez-mil-coisas.
Que poderia ser interpretado hermeticamente assim: Do Tao (o insondável, o TODO) surge o um (que poderíamos chamar de "a malha do universo" ou a vibração -string- que dá origem à nossa realidade física) que gera o dois (a polaridade, o Gênero) que gera o três (a junção das energias, que forma o átomo, o movimento/ritmo) que gera as dez-mil-coisas (que representam todas as coisas do Universo).
A parte do princípio Masculino parece ser a de dirigir uma certa energia inerente para o princípio Feminino e assim pôr em atividade o processo criativo. Mas o princípio Feminino é sempre o único que faz a ativa obra criadora, e isto é assim em todos os planos. E ainda, cada princípio é incapaz de manifestar a energia operativa sem o outro. Em muitas formas da vida os dois princípios estão combinados em um só organismo. Por esta razão, tudo no mundo orgânico manifesta ambos os gêneros: há sempre o Masculino na forma Feminina, e o Feminino na forma Masculina.
No diagrama do Taijitu vemos os pólos Yin e Yang, masculino
e feminino, e como eles estão inseridos um no outro
Os estudantes de psicologia estão familiarizados com a teoria da mente dual, composta de consciente e inconsciente, pesquisada em 1893 por (Os estudantes de Hudson encontrarão no princípio do 2º capítulo da Lei dos Pensamentos Psíquicos a frase `A mística algaravia dos filósofos herméticos desenvolve a mesma idéia´, isto é, a dualidade da mente.) Thompson J. Hudson(*) e desenvolvida por Sigmund Freud no séc XX. Em linhas gerais, no Hermetismo o Princípio Masculino da Mente corresponde à chamada Mente Objetiva, Consciente, Ativa, etc., enquanto o Princípio Feminino corresponde à chamada Mente Subjetiva, Subconsciente, Passiva, etc..
A mesma relação pode ser observada no Eu e no Ego.
No livro Caibalion o "Eu" é considerado como sendo uma coisa mental em que os pensamentos, as idéias, as emoções, as sensações e outras condições são produzidas. Pode ser considerado como a matriz -a mãe- capaz de fazer a geração. Por isso mesmo é ele o aspecto feminino da consciência. O "Ego" é a força de Vontade, a Ação, é quem direciona as energias criativas no sentido da REALIZAÇÃO. Esse é o aspecto masculino da consciência. Se você reparar, vai ver que o ser humano é um microcosmo das mesmas energias que criaram o Cosmo, o que valida o princípio da correspondência: "O que está em cima é como o que está embaixo".
O Ego Masculino é capaz de sustentar e abrigar as operações da criação mental do Ego Feminino. A tendência do Princípio Feminino é sempre receber impressões, ao passo que a tendência do Princípio Masculino é sempre dá-las ou exprimi-las. O Princípio Feminino tem um campo de operação mais variado que o Princípio Masculino. O Feminino dirige a obra da geração de novos pensamentos, conceitos, idéias, incluindo a obra da imaginação. O Masculino contenta-se com a obra da Vontade, nas suas várias fases. O problema é que, sem o auxílio ativo da vontade do Princípio Masculino, o Feminino pode contentar-se com a geração de imagens mentais que são o resultado de impressões recebidas de fora, em vez de produzir criações mentais originais. As pessoas que prestam uma contínua atenção a um assunto empregam ativamente ambos os Princípios Mentais: o Feminino na obra da ativa geração mental e a Vontade Masculina na estimulação e fortificação da porção criativa da mente. O normal é que os Princípios Masculino e Feminino na mente de uma pessoa ajam harmoniosamente em conjunção com a de outra pessoa, mas infelizmente a maior parte delas emprega pouco o Princípio Masculino, e contenta-se em viver de acordo com os pensamentos e as idéias insinuadas no Eu pelo Ego das outras mentes (o famoso "gado", as criaturas presas na Matrix).
Nos fenômenos de telepatia vê-se como a energia vibratória do Princípio Masculino é projetada para o Princípio Feminino de outra pessoa, e como este toma o pensamento-semente e o desenvolve até a madureza. Pela mesma forma operam a sugestão e o hipnotismo. O Princípio Masculino da pessoa dando as sugestões dirige sua energia vibratória (ou Força-Vontade) para o Princípio Feminino de outra pessoa, e esta última, aceitando-a, interpreta-a como se fosse dela e age e pensa em conformidade com ela. Quem viu o filme A origem (Inception) vai perceber essa relação, e se divertir imaginando o roteiro sob o ponto de vista (A primeira Inception foi feita do masculino para o feminino. Mas, e para que fosse efetuada a Inception da Inception do protagonista?) energético(*).
A manifestação do Gênero Mental pode ser observada ao redor de nós todos os dias da vida. As pessoas magnéticas são as que podem empregar o Princípio Masculino a fim de imprimir as suas idéias nos outros. O ator -que faz o povo chorar ou rir como quer-, o faz empregando este princípio. E assim se dá com o orador, o político, o pregador, o escritor ou qualquer pessoa que tenha a atenção do público.
Um péssimo exemplo do Poder da Vontade aplicado no dia-a-dia
Já construímos os mais altos arranha-céus, já fomos à Lua, mas não há nada mais desafiador que a dinâmica homem/mulher. São criaturas de planetas diferentes, com energias opostas, justamente para que ocorra uma dinâmica, uma troca. E essa troca geralmente vem acompanhada de atritos, tensão, faíscas. E é essa tensão que gera crescimento interno. Seu equipamento eletrônico necessita de uma corrente elétrica em determinada tensão, ou seja, uma determinada "Força" em que os elétrons estejam se movimentando (110 ou 220V). Se essa tensão for muito alta, irá queimar seu aparelho. Se for muito baixa, não haverá energia pra funcionar. Na relação macho/fêmea essa tensão ocorre naturalmente por conta de todas essas diferenças, mas nada impede que ela ocorra (até mesmo em intensidade maior) em relacionamentos homossexuais. O fundamental é que haja a polaridade pra que ela ocorra. Carl Jung esboça um comentário sobre o assunto que mostra como isso pode não ocorrer em situações "perfeitas":
Tive uma vez um "casal de aspecto ideal" que veio consultar-me. Alguma coisa andava errada. Quando os olhei, perguntei a mim mesmo o que poderia tê-los trazido até mim. Pareciam perfeitamente ajustados um ao outro em todos os aspectos e, como não tardei em descobrir, eram bafejados com todas as coisas materiais que a vida podia oferecer. Mas, finalmente, apurei que o verdadeiro problema era que eles se ajustavam bem demais um ao outro. Isso impedia a existência de qualquer tensão em suas relações íntimas.Coincidiam tanto em tudo que nada acontecia - uma situação tão embaraçosa quanto o extremo oposto da total incompatibilidade.
Considere isso em termos de vida cotidiana. Existe alguma probabilidade de uma conversa ser interessante quando você sabe de antemão que seu parceiro concordará com tudo o que você disser? Qual a vantagem de discutir uma convicção já aceita e compartilhada por ambos como coisa banal? O incentivo para discutir morre se não existe potencial.
A diferença de opinião pode ser fecunda; as altercações também. São obstáculos no caminho da harmonização, da concordância, e tem que se fazer um esforço para superá-los. Mentalmente, moralmente, fisicamente - de todas estas maneiras a natureza criou uma diferença extrema entre homem e mulher, de modo que ele encontre seu oposto nela e ela nele. Isso gera tensão.
Se homem e mulher fossem a mesma coisa, estaríamos num beco-sem-saída. A terra seria estéril. Onde a terra é plana a água não corre; estagna. Para produzir energia tem que haver opostos: um acima e um abaixo. Tem que haver uma diferença de nível e quanto maior ela for mais veloz e mais impetuosamente a água flui.