Quem é você realmente?
por Conceição Trucom em EspiritualidadeAtualizado em 20/10/2003 12:06:34
Uma aluna minha me perguntou: Nós nascemos para ser felizes, mas porque não somos?
Eu respondo: Porque os modelos que nos são colocados de felicidade, desde que nascemos, são meros modelos dos nossos pais, parentes, sociedade, cultura, religião, etc.
Eles não correspondem, de forma alguma, às nossas verdades e valores internos. Eles não consideram o indivíduo em sua essência e singularidade. Os modelos sociais são selvagens e massacrantes, e são os chamados condicionamentos.
Condicionamento é algo forçado de fora sobre você contra a sua vontade, contra a sua consciência.
O condicionamento tem o objetivo de destruí-lo, manipulá-lo, criar uma falsa personalidade para que seu estado humano essencial seja perdido.
A sociedade tem muito medo da sua realidade. A Igreja tem medo, o Estado tem medo, todos têm medo de sua pessoa essencial, de seu Ser essencial, pois o Ser essencial é rebelde, é inteligente. O Ser essencial é livre, independente e singular, ou seja, único.
O Ser essencial não pode ser facilmente reduzido à escravidão, e também não pode ser explorado. Ninguém pode usar o Ser essencial como um meio, pois Ele é um fim em si mesmo.
Daí, toda a sociedade tentar, de TODAS as maneiras possíveis, desconectá-lo de seu âmago essencial. Isso cria uma personalidade falsa e plástica a seu redor e o força a se identificar com ela. Durante muito tempo sofremos e perdemos MUITA energia quando tentamos ser hipócritas conosco mesmo.
A sensação é de vazio, fracasso, impotência. Enlouquecemos porque a nossa bússola simplesmente não consegue encontrar o sentido da “felicidade”.
Chama-se a esta grande “tabela” de condicionamentos de "educação", mas isso não é educação, é "deseducação". Isso é destrutivo e violento.
Toda essa sociedade sempre foi muito violenta com o indivíduo. Ela não acredita no indivíduo, é contra o indivíduo. Para seus próprios propósitos, ela tenta, de todas as maneiras, destruir você. Ela precisa de engenheiros, médicos, filhos vitoriosos, brilhantes, importantes, espertos, esbeltos, conquistadores... Ela não precisa de seres humanos serenos, pacíficos, simplistas, honestos sem relatividade, saudáveis emocionalmente.
Até o momento, fracassamos em criar uma sociedade que precise de seres humanos livres, simples seres humanos.
A sociedade está interessada em que você seja mais habilidoso, mais produtivo, mais competitivo, mais consumista e menos criativo ou criador de casos.
Ela deseja que você funcione como uma máquina, eficientemente, mas não deseja que você se torne desperto. Ela não deseja Budas e Cristos, Sócrates, Pitágoras, Lao Tzu ...
Não, essas pessoas de modo nenhum são necessárias para a sociedade. Se, de vez em quando elas acontecem, não acontecem devido à sociedade, mas apesar dela.
É um milagre, de vez em quando, algumas pessoas serem capazes de escapar desta enorme prisão. A prisão é muito grande, é muito difícil escapar dela. E mesmo ao escapar de uma prisão, você entrará em outra, pois toda a Terra se tornou uma prisão. De hindu você pode se tornar cristão, ou de cristão pode se tornar hindu, mas está simplesmente trocando de prisão. De indiano você pode se tornar alemão, ou de italiano se tornar chinês, mas está simplesmente trocando de prisões... prisões políticas, religiosas, sociais.
Talvez, por alguns dias, a nova prisão pareça com a liberdade, mas somente devido a ser uma novidade.
Fora isso, ela não é liberdade. Uma sociedade livre é ainda uma idéia que precisa ser materializada.
Toda essa escravidão das pessoas depende dos condicionamentos. Os condicionamentos começam no útero da mãe ou, no máximo, no momento em que você nasce. Você é circuncidado e se torna um judeu, é batizado e se torna um cristão, e assim por diante. Você é levado para a igreja ou para o templo e é criado numa certa atmosfera onde irá descobrir que todos são cristãos ou todos são hindus. E, naturalmente, é fatal que a criança siga as pessoas à sua volta.
Quando ela chegar aos 25 anos de idade e sair da universidade, estará completamente condicionada, e tão profundamente que nem estará ciente de seus condicionamentos.
Tudo tem modelo, inclusive e principalmente quanto aos relacionamentos. Todos necessitam casar, ter casa, ter filhos, ter empregos, e na época certa, e da forma certa, e com os modelos certos para ser competitivo, para ser invejado, para ser elogiado, para ser apreciado, para ...
E os bens? E a profissão?
Tudo foi despejado em seu biocomputador. E a sociedade pune aqueles que são relutantes, resistentes a esses condicionamentos, e com medalhas de ouro, prêmios, recompensa aqueles que estão muito ávidos a serem escravos, a servirem aos interesses do sistema.
Toda a sociedade, milhões de pessoas à sua volta estão condicionando-o, conscientemente ou não. Elas foram condicionadas. Elas podem não estar cientes de que são destrutivas e violentas e que estão se auto destruindo. Elas podem pensar que estão sendo de ajuda a você devido à compaixão, pois amam a humanidade. Elas foram condicionadas tão profundamente que não estão cientes do que fazem às suas crianças e vidas.
Os pais, os parentes, professores, conferencistas, instrutores, eles são os instrumentos, os sutis instrumentos de condicionar pessoas.
Os sacerdotes, os psicanalistas, estas são pessoas muito espertas e eficientes em condicionar. Elas conhecem toda a estratégia, sabem como manipular, distorcer, como lhe dar uma falsa personalidade e afastar sua essência.
Como sair dos condicionamentos?
1) Ir lá dentro de você e descobrir quem é você realmente. Qual a sua natureza, suas qualidades, seus dons, seus desafios. Para esta viagem interna é necessário se dar espaço DIÁRIO de silêncio, MEDITAÇÃO, introspecção. Espaços de autoconhecimento e esclarecimento. Ler, estudar, aprender, meditar, pois ignorar e ignorar-se é pura escravidão.
2) Estar 100% alerta e desperto. Meditar sobre nossas atitudes, sonhos e desejos e perceber quanto deles pertencem aos modelos de nossos pais, parentes e sociedade, e quanto deles pertencem REALMENTE à nossa alma.
3) Uma vez detectado, sair dos condicionamentos e entrar na sintonia do Ser essencial e descobrir o que é Ser feliz para Ele.
OSHO
Texto adaptado por Conceição Trucom