Reencarnação - Parte 1
por Acid em EspiritualidadeAtualizado em 30/08/2007 14:49:33
Já conhecemos que a reencarnação é uma crença difundida no hinduísmo, no judaísmo, no cristianismo original, e no budismo. Todas estas doutrinas bebem da fonte da cultura oriental, mas esta linha de pensamento (a sobrevivência e retorno da alma após a morte) também era cultivada no ocidente.
Os gregos Órficos, por exemplo, expunham sua Doutrina Palingenésica numa roupagem filosoficamente avançada, que influenciou Sócrates e Platão (na obra Fédon), dentre outros. Antes dele, Pitágoras também a adotou como condição sine qua non para a evolução plena da alma. Clemente de Alexandria (posteriormente cassado pela Igreja Católica) e Orígenes, o Cristão (considerado "o maior erudito da Igreja antiga") também a divulgariam.
Na Europa gaulesa e britânica, os druidas acreditavam na reencarnação em termos semelhantes aos gregos e budistas. Tal crença foi parte integrante da doutrina cristã até o Concílio de Constantinopla, em 533 D.C., quando, por motivos políticos, foi formalmente repudiada pelo clero. Mesmo assim, a idéia persistiu entre alguns cristãos, especialmente os Cátaros, no século XII. Suas idéias (bem interessantes, que com certeza inspiraram os criadores de The Matrix) se chocavam diretamente com a da Igreja Católica, e por isso a "Santa" Inquisição lançou mão de uma campanha militar de 20 anos pra erradicar os Cátaros da face da Terra (Amém). Além deles, Giordano Bruno (queimado vivo em 1600) sentiu na pele a intolerância da ICAR ao defender idéias heréticas, como o Hermetismo, o Heliocentrismo e a Metempsicose.
Enfim, a reencarnação é mais uma regra do que exceção. Mas as razões e meios pelos quais a reencarnação se processa são meio obscuros nessas religiões, e só a doutrina espírita procurou botar os "pingos nos is", com a codificação de Allan Kardec e, no Brasil, com os relatos em forma de romances espirituais psicografados por Chico Xavier (carregados de lições de moral e conteúdo didático, como todo bom guia espiritual). Assim, ficamos meio que bitolados com os romances e deixamos de questionar novas possibilidades, novas visões, novos processos que não entenderíamos nos anos 50 (época de ouro dos livros de Chico) mas que hoje, quase 60 anos depois, poderíamos "ousar" entender. O pensamento abaixo não tem a pretensão de reescrever a teoria da reencarnação pra qualquer doutrina, apenas fornecer um ponto de vista alternativo, paralelo. O texto não é exatamente meu; é sim uma coletânea de coisas que foram debatidas na lista Voadores, principalmente por Lázaro Freire, Patrícia Montini e Arauto Draconiano. Apoderei-me sem piedade dos textos deles, mudando coisas aqui e ali, e acrescentando tantas outras.
Vejamos então alguns dados que comprometem o raciocínio reencarnacionista tradicional:
1) Nascidos nesse planeta até meados de 2002 = 106.456.367.669 pessoas.
2) Pessoas ainda vivas até meados de 2002 = 6.215.000.000 pessoas. (Fonte: Population Reference Bureau)
3) Razão entre total de espíritos encarnados e total de espíritos desencarnados aguardando reencarnação = 1:10. (Fonte: Várias obras espíritas)
4) Total de espíritos que já nasceram alguma vez nesse planeta, mas que já passaram a habitar planetas mais adiantados e não mais encarnarão aqui (digamos uma estimativa conservadora de 10% do total de nascidos) = 10.645.636.766,9. (Fonte: Chute brabo)
CONCLUSÃO:
1) 95.810.730.902.1 vidas já foram realizadas, distribuídas entre 68.365.000.000 espíritos, o que dá uma média de 1,4 vidas por espírito, o que significa que, se cada um dos 68 bilhões de espíritos ainda ligados a esse planeta tivesse tido o mesmo número de encarnações que os demais, então cada espírito teria reencarnado 1,4 vezes.
2) Prosseguindo nos cálculos, vemos que, para que pelo menos 10% dos espíritos ainda ligados a este planeta (encarnados ou não) tenham tido 5 encarnações, os outros 90% teriam que ter tido SOMENTE UMA ENCARNAÇÃO.
Estranho, não? Então vejamos abaixo um diálogo do filme Waking Life, que é uma espécie de Quem Somos Nós da Filosofia e dos sonhos lúcidos, e que eu recomendo a todos os meus leitores:
- Não me sai da cabeça algo que você me disse. Sobre a sensação de que você observa a sua vida, da perspectiva de uma velha à beira da morte... Lembra?
- Sim... Ainda me sinto assim, às vezes. Como se visse minha vida atrás de mim. Como se minha vida desperta fosse de lembranças...
- Exatamente. Ouvi dizer que Tim Leary, quando estava morrendo, disse que olhava para seu corpo que estava morto, mas seu cérebro estava vivo. Aqueles 6 a 12 minutos de atividade cerebral depois que tudo se apaga. E um segundo nos sonhos é infinitamente mais longo do que na vida desperta. Entende?
- Claro. Tipo, eu acordo às 10:12h. Então, eu volto a dormir e tenho sonhos longos, complexos, que parecem durar horas. Aí eu acordo e são 10:13h.
- Exato. Então aqueles 6 a 12 minutos de atividade cerebral... podem ser a sua vida inteira! Quero dizer, você é aquela velha, olhando para trás e vendo tudo.
- Se eu sou, o que você seria nisso?
- O que eu sou agora. Quero dizer, talvez eu só exista na sua mente. Eu sou apenas tão real quanto qualquer outra coisa.
- É... Andei pensando sobre algo que você disse. Sobre reencarnação, e de onde todas as novas almas vêm ao longo do tempo. Todo mundo sempre diz ser a reencarnação de Cleópatra, ou de Alexandre, o Grande... Não passam de bestas quadradas, como todo mundo. Quero dizer, é impossível. Pense sobre isso: a população mundial duplicou nos últimos 40 anos, certo? Então, se você acredita nessa história egóica de ter uma alma eterna, há 50% de chance de a sua alma ter mais de 40 anos. Para que ela tenha mais de 150 anos, é... uma chance em seis.
- O que você está dizendo? Reencarnação não existe? Ou somos todos almas jovens? Metade de nós é de humanos de primeira viagem? Aonde você quer chegar?
- Eu acredito que de alguma forma a reencarnação é uma expressão poética... do que realmente é a memória coletiva...
Eu li um artigo de um bioquímico, não faz muito tempo. Ele dizia que, quando um membro de uma espécie nasce, ele tem um bilhão de anos de memória para usar. É assim que herdamos nossos instintos.
- Eu gosto disso. É como se houvesse uma ordem telepática da qual nós fazemos parte, conscientes ou não. Isso explicaria os saltos aparentemente espontâneos, universais e inovadores na ciência e na arte. Como os mesmos resultados surgindo em toda parte, independentemente. Um cara num computador descobre algo e, simultaneamente, várias outras pessoas descobrem a mesma coisa.
Houve um estudo em que isolaram um grupo por um tempo e monitoraram suas habilidades em fazer palavras cruzadas em relação à população em geral. Então, deram-lhes um jogo da véspera, que as pessoas já tinham respondido. A sua pontuação subiu dramaticamente. Tipo 20%. É como se, uma vez que as respostas estejam no ar, pudessem ser pescadas. É como se estivéssemos partilhando nossas experiências telepaticamente...
Não precisa de muita conta ou chute para ver que, matematicamente, quase todos estão na primeira "encarnação" aqui. Ou que o que chamamos de reencarnação pode ser algo bem mais coletivo, assim como a evolução, se "Somos Todos Um". Será por isso que tantas pessoas diferentes dizem acreditar (mesmo!) ter sido Cleópatra - ou Allan Kardec? Será que não está na hora de abrirmos a mente para um modelo um pouco mais akáshico e coletivo para reencarnação?
Por outro lado, é inegável (aos espiritualistas e sensitivos) que acessamos, senão "vidas", pelo menos "vivências passadas", até como parte de nossa experiência pessoal.
Podemos inclusive ter lembranças e sincronicidades. Mas será que vem mesmo de um ego de nossa "propriedade"? Será que o que acessamos em TVP, akash e sonhos, vem mesmo da continuidade de nosso ego pessoal? E se somos todos um só, por que precisamos "ter" um ego tão pessoal assim?
Num artigo publicado essa semana pela revista Science, o Dr. H. Henrik Ehrsson, do Departamento de Neurociências Clínicas do Instituto Karolinska, em Estocolmo (Suécia), conseguiu induzir pessoas sadias a uma experiência extra-corporal. Segundo Ehrsson, o fenômeno é "uma ilusão perceptiva na qual os indivíduos experimentam que seu centro de consciência, ou seu 'eu', está situado fora de seus corpos físicos, e que olham para seus corpos do ponto de vista de outra pessoa. Esta ilusão demonstra que o sentido de 'ser', localizado dentro do corpo físico, pode estar determinado plenamente por processos perceptivos, isto é pela perspectiva visual junto com o estímulo multi-sensorial do corpo". Caso não tenham entendido, é um cientista neuronal dizendo que seu EU não necessariamente existe dentro do seu corpo!!! E baseado em métodos científicos, publicados na prestigiada revista Science!
Lázaro conta que certa vez teve certezas íntimas de ter sido um personagem conhecido. Para não 'viajar' muito, aceitou talvez ter sido um conhecido do cara, um colaborador. Mas o fato é que ele pegava um livro e lhe vinha tudo, fora sincronicidades variadas. Tudo o que faria um espírita (ou ufólogo místico) pensar ter sido "o" cara, e tentar recuperar sua "missão". Por precaução, preferiu confirmar para si mesmo do que sair revivendo sua "encarnação" anterior. E obteve algumas confirmações. Até que começou a acessar a vida de outro autor B, com a mesma sinceridade e intensidade. Mais confirmações vieram, do mesmo modo. Mais tarde, ao pegar em um livro de um autor C, um pacote de conhecimentos lhe veio à mente. Ele já sabia o que estava escrito, escrevia parecido com ele, se identificou muito com o autor. O mesmo valeu para D, que referências de espiritualidades confiáveis lhe disseram mais tarde ter sido ele em uma outra vida. De fato, ele se identificava com todos eles. E os vários karmas de A, B, C e D explicavam bem sua vida, tanto nos defeitos quanto nas qualidades. O problema é que essas pessoas tinham vivido praticamente no mesmo tempo!! Ainda tentaram lhe dizer que talvez eles tivessem se encontrado, ou que talvez ele tivesse sido um intelectual que estudou muito os quatro, mas no íntimo ele sabe que os "acessou" de alguma forma.
O fato é que o nosso "hardware", mesmo sendo de última geração, parece poder acessar os "softwares" mais antigos via emulação.
Um modelo mais "dilatado" dos Arquivos/Registros Akáshicos pode responder por estes fenômenos. Pra quem não sabe, esses arquivos são como registros de eventos que acontecem em determinado lugar. Um sensitivo, por exemplo, poderia, ao caminhar nas praias da Normandia (França), "acessar" algumas cenas do desembarque do Dia-D (mais ou menos como aquela propaganda do History Channel, o "descubra onde você está") que ficaram impressas no "éter" ou "Akash" (a matéria-prima do Universo, na metafísica). Seria pelos mesmos motivos que certos lugares ficam "mal assombrados".
Tenho até uma história interessante pra compartilhar sobre isso. Há alguns anos, no Carnaval aqui em Recife, estava eu à noite seguindo o "Batutas de São José" e cantando o Hino dos Batutas, quando, ao entrar pela Av. Marquês de Olinda, próximo ao Marco Zero, entrei numa espécie de limbo, onde "via", com os olhos da mente (e superposicionados acima da minha visão "real") personagens de outros carnavais. Pude perceber claramente pierrots e colombinas debruçados nas janelas dos casarões (há muito abandonados), jogando confetes e serpentinas. Foi uma experiência muito, muito diferente do que simplesmente imaginar aquilo. Eu estava VENDO, e ao mesmo tempo não vendo! Achei aquilo tão estranho (ver uma janela aberta com um palhaço de gola larga, e por trás a mesma janela fechada) e tão lindo (a chuva de confetes, as serpentinas ligando um prédio a outro) que acabei saindo daquele estado, com lágrimas nos olhos por não termos isso hoje em dia.
Explicações pra isso podem envolver que eu tenha "lembrado" de outra encarnação minha em Recife, naquele mesmo ponto, num Carnaval qualquer. Posso ter acessado os registros akáshicos, ou simplesmente me desloquei na linha do tempo (como aquele filme Projeto Philadelfia). Ou eu surtei e deveria ter tomado remédios... Mas são questões que não deveriam estar em um ou outro compartimento de crenças: elas devem ser abordadas por todos os ângulos, pois não temos a certeza de NADA.
Uma pessoa faz Terapia de vidas passadas para saber por que não gosta da nora, e então descobre que ela roubou seu marido em outra vida. Tudo faz sentido, tudo se encaixa magicamente como num romance da Zíbia Gasparetto, e a pessoa sai dali dizendo que "se resolveu". Pode até ser que isso tenha vindo de uma vida passada sim (há outras possibilidades), e talvez até tenha sido a dela (há outras também). Mas não basta, a meu ver, saber que o peso daqui é igual ao de lá, e que tudo está certo na mesma proporção. Ao contrário, creio que as coisas se encaixam tão magicamente assim (em sonhos, regressões ou romances da Zíbia) exatamente porque foram "feitas sob medida", ou seja, são a perfeita compensação da mente. É como uma equação, o problema (nora) está de um lado da igualdade de tal modo que tudo se equlibre, SE... (E aí vem o conteúdo da regressão). É nessa hora que o terapeuta tem como compreender de QUAL tipo de igualdade e variáveis estamos falando, e começar a atuar de modo a criar uma nova relação entre a sogra e a nora - e, provavelmente, de um grande Édipo que haveria nesse tipo de compensação (roubar meu filho = roubar meu homem).
Pode ser que a pessoa tenha mesmo vivido aquilo em outra vida. Mas ela viveu inúmeras outras coisas, e se o inconsciente foi buscar AQUILO, é porque ali deve estar o simbolismo para reequilíbrio e resolução. Pelo mesmo motivo, ele poderia buscar no Akash, na vida de outra pessoa, em um mito do inconsciente coletivo redramatizado oniricamente pelo transe, ou mesmo fabricado na hora, oniricamente, como forte imagem de compensação. No final das contas, tanto faz.
(Sigmund Freud)