Relacionar-se é um Grande Desafio
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 15/12/2003 11:05:11
Todos sonhamos com relações plenas. Entretanto, o medo de relacionar-se, de entregar-se por inteiro aos sentimentos é uma das dificuldades mais comuns nos dias em que vivemos. Por que para tantas pessoas vivenciar uma relação afetiva é motivo de medo e angústia?
Inúmeros fatores, conscientes e inconscientes, atuam para determinar estes sentimentos. O mestre indiano Osho falou sobre o tema com grande sabedoria. Vejamos como ele respondeu à pergunta de um discípulo: Por que é tão difícil relacionar-se?
“Porque você ainda não é... Você não é. Você ainda não nasceu, é apenas uma potencialidade. Você ainda não está preenchido e só duas pessoas preenchidas podem se relacionar. Relacionar-se é uma das melhores coisas da vida: relacionar-se significa compartilhar. Mas antes de poder compartilhar, você tem que ter. E antes de poder amar, você deve estar cheio de amor, transbordando de amor.
Duas sementes não podem se relacionar, elas estão fechadas. Duas flores podem se relacionar, elas estão abertas, podem mandar suas fragrâncias uma à outra, podem dançar no mesmo sol e no mesmo vento, podem dialogar, podem sussurrar. Mas isso não é possível para duas sementes. As sementes são totalmente fechadas, sem janelas – como podem se relacionar”?
E esta é a situação. O homem nasceu como uma semente. Ele pode se tornar flor ou não. Tudo depende de você, do que faz consigo mesmo; tudo depende de você crescer ou não. A escolha é sua – ela tem que ser encarada a cada momento; você está na encruzilhada a cada momento.
Milhões de pessoas decidem não crescer. Elas permanecem sementes, permanecem potencialidades, nunca se tornam realidade. Elas não sabem o que é auto-realização, não sabem o que é auto-concretização, não sabem nada do ser. Vazias elas vivem e totalmente vazias elas morrem. Como podem se relacionar?
....Sim, há um tipo de relacionamento, mas não o de se relacionar, é o de possuir: o marido possui a esposa, a esposa possui o marido, os pais possuem os filhos e assim por diante. Mas possuir não é se relacionar. Na verdade, possuir é destruir todas as possibilidades de se relacionar.
Se você se relaciona, você respeita, você não pode possuir. Se você se relaciona, há uma grande reverência. Se você se relaciona, chega perto, muito perto, em profunda intimidade, se sobrepõe.
Contudo, a liberdade do outro não é invadida, o outro permanece um indivíduo independente. O relacionamento é o do eu-você e não do eu-isso – se sobrepondo, interpenetrando, todavia num sentido independente.
Khalil Gibran diz: “Sejam como dois pilares que sustentam o mesmo teto, mas não comece a possuir o outro. Deixe o outro independente. Sustentem o mesmo teto: esse teto é o amor”.
Dois amantes sustentam algo invisível e algo imensamente valioso: uma certa poesia do ser, uma certa música nos mais profundos recantos da sua existência. Eles se apóiam, apóiam uma certa harmonia, mas mesmo assim permanecem independentes. Eles podem se expor ao outro, porque não há medo algum. Eles sabem quem são. Eles conhecem sua beleza interior, conhecem seu perfume interior, não há medo nenhum.
Mas normalmente o medo existe... Por isso milhões de pessoas decidem permanecer sementes, mas permanecer semente é permanecer morto, permanecer semente é não viver de modo algum. Certamente ela está segura, mas não tem vida. A morte é segura, a vida é insegura. A pessoa que realmente quer viver, tem que viver em perigo, em constante perigo. Aquele que quer escalar os mais altos picos tem que correr o risco de cair de algum lugar, de escorregar.
Quanto maior é o desejo de crescer, mais e mais perigo tem de ser aceito. O homem verdadeiro aceita o perigo como seu próprio estilo de vida, com seu próprio clima de crescimento. Você me pergunta: Por que é tão difícil se relacionar?
É difícil porque você ainda não é. Primeiro seja. Tudo mais é possível só depois disso: primeiro seja. Se você é, a coragem vem como conseqüência. Se você é, um grande desejo de se aventurar, de descobrir, surge. E quando você está pronto para descobrir, você pode se relacionar. Relacionar é descobrir – descobrir a consciência do outro, descobrir o território do outro. Mas quando você descobre o território do outro, tem que permitir e das as boas vindas para o outro descobrir você. Não pode ser um caminho de mão única. E você pode permitir que o outro o descubra somente quando tiver algum tesouro dentro de si.
Então não há medo. Na verdade você convida a pessoa, abraça o convidado, o chama para dentro, quer que ele entre. Você quer que ele veja o que você descobriu em si mesmo, quer compartilhar”.