Senhora do Destino
por Wilson Francisco em EspiritualidadeAtualizado em 19/11/2004 12:21:58
O ator José Wilker criou a palavra ‘felomenal’ e imprimiu nela uma característica muito peculiar e cômica, graças ao seu talento. Esta palavra, todavia, significa com exatidão o que foi o capítulo de sábado (06 de novembro de 2004), da novela SENHORA DO DESTINO, que nestes últimos dias está sendo a senhora dominadora da atenção dos brasileiros. Não, não há exagero no que digo. É a mais pura expressão da verdade.
Enquanto ficamos apalermados e por que não, um pouco indignados com o TIO SAM (ESTADOS UNIDOS), por enquadrar o Brasil como um recanto da perversidade e insensatez (no que não estão muito errados), dá-nos prazer assistir um programa tão exuberante de arte e cultura, como este que a TV Globo nos proporciona.
Destaco, para apreciação, o encontro singular entre Jenifer e Eleonora, cada uma expressando seus universos, em atitudes de grandeza pessoal impressionantes. Uma - lésbica assumida e resolvida - irradia amor e busca uma companheira, sua cara metade, para envolver-se e ser feliz, fazendo a felicidade da outra.
Sem banalidade nem preconceito.
Enquanto isso, Jenifer emerge de sua pura inocência, ainda intocada pelo Deus do Amor, para confrontar este nobre sentimento, corporificado por uma mulher e não por um homem, como está inscrito em sua história, em sua visão de adolescente.
Explodem os sentimentos e não sei o que acontecerá nos capítulos seguintes, mas aquele momento de amor e de aturdimento encantou minha alma, trazendo-me a lembrança de criaturas muito importantes que passaram por meu caminho e que protagonizaram, na vida, cenas e experiências semelhantes.
Em outro cenário da novela, no quarto em que Plinio adora descansar e dar vazão aos seus devaneios eróticos, Bruna - ainda menina - revela para sua avó Maria do Carmo os antagonismos da ainda alma virginal que se irradia por seus membros e sonhos. Ama de paixão o pai, trazendo nas veias o mesmo ímpeto deflagrador de ações do político sem fronteiras, mas ao mesmo tempo deixa surgir em seus impulsos a flama guerreira e virtuosa de jovem justa e generosa que é; sentimentos que ela não encontra no universo paterno que, satirizando - ou melhor - representando com fidelidade a saga dos políticos, permanece antenado, colando os ouvidos à porta para saber que rumo tomar.
E para dar um brilho maior a este café da manhã, na casa da matriarca vivida com grandeza e inteligência por Suzana Vieira, Bruna revela sua metamorfose. Ela agora é mulher. No entanto, já era totalmente mulher, quando enfrentou o político inconseqüente, para resgatar a dignidade no pai querido.
No outro lado da cidade, a engenhosidade do autor da novela nos premia com a conversa entre Rita - a ex-drogada - com Constantino, o amante perfeito, que salva a netinha da amante querida do fogo e luta com as armas da paixão para entender os meandros desse amor e das atitudes da amada.
Ela, golpeada por sentimentos contraditórios de sua própria história, pede tempo para recompor seus pensamentos e reintegrar-se nesse novo caminho. O caminho da paz e da parceria com amor.
Tudo isso se dá numa novela, mas são situações corriqueiras da vida humana, quando almas de nosso convívio são penalizadas pelo desamor, enquanto irrompem a cada pôr-do-Sol as aventuras daqueles que - integrados com o Universo - teimam em perdoar, em resgatar a dignidade humana, na certeza de que este mundo é viável.
Senhora do Destino nos diz isto: a paz e o amor ainda hão de reger nossas vidas. É uma questão de tempo.