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Sentir a dor para poder curá-la

por Bel Cesar em Espiritualidade
Atualizado em 20/01/2010 15:17:02


“No budismo, existe muita ênfase em meditar sobre a verdade do sofrimento. Isto pode ser um pouco depressivo, mas quando vemos nossos defeitos claramente também vemos a possibilidade de nos livrar deles. Enxergar nossos defeitos tem muito a ver com nossa capacidade de despertar. Do ponto de vista budista, nenhum erro é impossível de ser mudado. Sempre há uma possibilidade de mudança. O reconhecimento de nossa inteligência humana pode nos ajudar a ter mais segurança ao encarar situações difíceis. Isto é muito importante”. É o que diz Dalai Lama em seu livro Mundos em Harmonia – diálogos sobre a prática da compaixão.

Nesta declaração, Dalai Lama conta com uma habilidade pouco cultivada em nossa cultura ocidental: a capacidade de encarar de frente os desafios da vida e de nosso mundo interior. Em geral, somos estimulados a nos distrair diante da dor. Como se encarar a dor pudesse nos levar a um estado ainda pior daquele em que já nos encontramos.

Se encarar a dor significar aumentar uma atitude destrutiva em relação a nossa autoimagem, de fato, corremos o risco de nos causar muito mal. Isto é, se nos cobrarmos de atitudes idealizadas, do que poderíamos ou deveríamos ter feito, estaremos apenas reforçando a atitude de evitar olhar o conflito de frente. Quanto mais exigimos de nós mesmos, mais nos distanciamos do ponto onde realmente nos encontramos.

No entanto, é preciso esclarecer que este olhar honesto, sincero e direto a respeito de nossa situação não é uma atitude de condenação! Como se admitir uma fragilidade fosse dar a si mesmo o veredicto derrotista: “sou assim mesmo...”.

Justamente, o contrário! Assim como Dalai Lama ressaltou: “Sempre há uma possibilidade de mudança”.

Mas, como mover-se em direção à mudança se não aprendemos a olhar além do sofrimento?

Para adquirimos o autoconhecimento, precisamos desenvolver algumas atitudes internas que não nos foram ensinadas, como a coragem e a honestidade de sentir o que pensamos a respeito de nós mesmos sem qualquer resistência, ou seja, sem nos denegrir.

Não nos conhecemos apenas para nos autodiagnosticar, mas para nos tratarmos!

Neste sentido, o budismo nos incentiva a sentir a dor para poder curá-la. Isso não significa deixar de receber uma medicação adequada ao seu estado psicofísico. Uma boa medicação não irá suprimir a dor, mas sim equilibrar nossa condição bioquímica para otimizar a capacidade de elaborá-la. Neste sentido, ansiolíticos, antidepressivos e estabilizadores de humor podem ser de grande ajuda.

“Primeiro, temos que tornar pequeno um problema que vemos como grande, a partir daí ele poderá ser dissipado”, nos alerta Lama Gangchen Rinpoche.

Na medida em que aprendemos a acolher nossa dor, deixamos de ter medo de sermos destruídos por ela. A dor que é sentida pode se dissolver no entanto, aquela que é posta de lado pode permanecer lá para sempre.

Converse com a sua dor. Pergunte a ela: “O que você quer me ensinar?”. Uma vez que tenha compreendido sua mensagem, faça algo prático com esta nova percepção. Desta forma, poderá testemunhar sua real transformação.



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bel
Bel Cesar é psicóloga, pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano desde 1990. Dedica-se ao tratamento do estresse traumático com os métodos de S.E.® - Somatic Experiencing (Experiência Somática) e de EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares). Desde 1991, dedica-se ao acompanhamento daqueles que enfrentam a morte. É também autora dos livros `Viagem Interior ao Tibete´ e `Morrer não se improvisa´, `O livro das Emoções´, `Mania de Sofrer´, `O sutil desequilíbrio do estresse´ em parceria com o psiquiatra Dr. Sergio Klepacz e `O Grande Amor - um objetivo de vida´ em parceria com Lama Michel Rinpoche. Todos editados pela Editora Gaia.
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