Sinais da fumaça
por Rubia A. Dantés em EspiritualidadeAtualizado em 01/07/2002 12:05:58
Hoje estou assim... ciente de mim... esse é um tempo bom de recolhimento... quando a alma quer contato... quer se expressar... é assim que estou sentindo hoje...
Parece que ela me chama lá onde acaba o horizonte dentro de mim mesmo... é lá que ela me espera para o falar mudo...
Eu me conecto então e entro no tempo sem tempo onde o alimento que nutre é dado sem limites... lá tudo pode acontecer...
Hoje está sendo assim... só o silêncio mudo e profundo... eu vou lá um pouco pra ver o que é... eu sei que ela me chama pra algum recado novo... um religar... mas é um religar muito bom de sentir... eu vou, mas volto no vento trazendo as boas novas...
Vou vazia e volto grávida de esperança... como a estrela...
Sigo a luz que me ilumina os caminhos que devo percorrer agora... são caminhos do feminino redescoberto... com cheiro de ervas e fumaça de fogão de lenha...
Um caldeirão que espera pra revelar seu conteúdo, escondido pela fumaça que se mistura formando desenhos com o movimento lento da colher de pau girando em oito infinitos...
O que tem aí dentro só vou saber quando me entregar inteira ao novo chamado que está chegando pra mim... a magia está rondando tudo colorindo de mistério o ar...
É a magia da mulher que se relembra do poder do feminino, que por tanto tempo ficou escondido... E em colchas de retalho e brancos panos de crochê eu redescubro o caminho de misturar as ervas e colher os frutos... envolta no xale que acolhe, como a Mãe Terra, a saia comprida e colorida que roça os pés descalços em movimentos leves... tudo cheira a renascer...
Os galhos do alecrim do campo, pendurados no teto pra secar, lembram uma floresta de cabeça pra baixo... como se a terra estivesse no céu e o céu na terra... em harmonia...
As lembranças muito femininas de uma mulher... que é forte em sua sensibilidade...
Os talentos tão antigos e tão abafados... voltam a luz com uma força que assusta pelo poder delicado do rendilhado que se mistura com a costura da vida...
E a fumaça, em desenhos de luz, equilibrando o sagrado e o humano... revela magias antigas em novas fórmulas de ser feminina...