Síndrome do Pânico e a busca frenética pelo sensacional da vida
por Silvia Malamud em EspiritualidadeAtualizado em 24/11/2003 12:48:00
Abordaremos algumas vertentes que podem culminar na hoje conhecida síndrome do pânico, sendo que o assunto não se encerra neste artigo.
Vivemos num tempo muitíssimo diferente daquele que nossos avós viviam. Em nossa atualidade, por todo momento somos permeados pelo que existe de mais “legal” para se vivenciar.
Hoje o que reina é a frenética busca por instâncias que nos dêem a sensação de prazer imediato e que nos tragam em curto espaço de tempo a sensação de êxtase.
Dentro deste contexto, leis e ordens pouco a pouco vão perdendo o sentido para os que cegamente buscam este tipo de situação. No lugar, fica um “vale tudo” a qualquer preço, onde a moral interna de cada um torna-se amoral. É a partir deste tipo de demanda que o caos começa a se instalar. Infelizmente um caos inconsciente e cego, posto que os que nele residem atuam como tratores avançando mais e mais em nome de prazeres egoísticos a serviço das demandas sociais.
A sociedade passa então a funcionar em meio a um bloco único que precisa constantemente se adicionar a algo para ter a ilusão de completude, muitas vezes distorcendo o encontro genuíno do ser com o seu existir prazeroso e criativo, chegando a situações distorcidas de prazer onde se cria espaço para o desenvolvimento de gostos mórbidos que podem gerar a destruição física tanto do próprio buscador como de outros.
A semana que se passou tivemos um exemplo clássico desta ordem em relação a um casal de jovens brutalmente assassinado. Não podemos colocar a desculpa no aspecto social que impede a maioria da população de valer-se de bens materiais, uma vez que o próprio rapaz morto é um exemplo de uma pessoa sem posses, que estava porém em busca de se formar numa pessoa/ser de modo coerente; outra porque temos também inúmeros jovens de muitas posses que também se perdem no caminho.
A questão aqui é mais profunda.
O simples e agradável perdeu o sentido dando espaço para o que foi acima abordado em relação às buscas frenéticas que visam gerar prazer imediatista. Como que drogados, jovens e mesmo adultos buscam a todo o tempo este estado de viver a vida de modo sensacional. Poucos são os que ousam ficar sozinhos consigo mesmos e menos são ainda os que se sentem bem quando sós. A grande maioria tem receio de se deparar em meio a um imenso vazio e por conta disso, a todo tempo fogem deste contato. Como resultado encaminham-se cada vez mais para fora, buscando o dentro sempre do lado de fora.
Sem se sentirem sendo, como autômatos e numa angustia silenciosa pela falta de contato com a sensação/ser interior, automatizam suas existências de modo sonambúlico ficando como que drogados, buscado do lado de fora o sensacional que sugere o êxtase sagrado da sensação genuína que é o existir.
Em sendo assim, o que chama cada vez mais é a demanda que vem de fora.
Não cabe a nós julgarmos e apontarmos os culpados de toda esta questão e sim de agirmos em nosso benefício. Mas como? Como poderíamos ter a experiência sensacional do existir sem precisar buscar fora de nós?
Estamos automatizados a associar prazer com compras e aquisição de bens materiais, ou na pior das hipóteses com tudo aquilo que referimos acima e que está relacionado com as distorções mórbidas de prazer em busca da sensação de ser.
Neste canal de observação a vida acaba se transformando em uma grande e perigosa diversão insana. O tempo acaba passando e nós podemos ficar sem a sensação de estarmos definitivamente existindo.
Deste modo não fica difícil de entender as crises de pânico que ultimamente vem assolando os mais diversos tipos de pessoas. Se a pessoa não está existindo em prazer genuíno, não pode ter a sensação de estar realmente vivo, acontecendo assim, um terreno fértil para a instalação da síndrome de pânico.
Na síndrome de pânico, o medo de se estar morrendo é porque não se está totalmente vivo como é possível de se estar.
A sensação de morte iminente pode ser vista como um grito da consciência, um apelo que vem de uma ordem maior para que o ser possa acordar e se expressar de uma vez por todas. Um acordar para tudo aquilo que dá prazer e que por consequência dá sentido para a trajetória do existir de modo real.
O que acaba acontecendo é que a todo o tempo vivemos abarrotados por solicitações, ficamos como que obrigados a responder de imediato a todas as demandas para nos sentimos fazendo parte integrante de um meio altamente mutante. Freqüentemente nos enganamos achando que ao responder a todas essas demandas estamos num lugar de plenitude em prazer. Ao contrário disso, somos jogados em situações de ansiedade, porque deste modo, nem de longe estamos nos apropriando dos nossos reais desejos e do que nos faz sentido para que possamos ser.
A grande maioria que está neste plano vive como turista, pouco ou nada se comprometendo com o que sentem e, como consequência, não hasteiam a sua própria bandeira pelo simples fato de não saberem quem são.
Enquanto o ser humano funcionar como um animal humano sem consciência sobre o seu si mesmo, o caos interno será projetado para fora e as pessoas continuarão fazendo deste planeta um local de turismo, degradação ecológica e pânico.
Mas, o que falta para que o “vir-a-ser” possa sentir “aconte-ser” o seu melhor?
- Falta nos implicarmos com tudo o que nos apaixona e fazermos valer estas questões que são somente nossas e que na maioria das vezes são independentes da demanda externa, mas que nem por isso deixam de ser importantes.
- Falta termos a coragem de ancorarmos em nós mesmos a nossa própria referência de vida, que é singular e única.
- Falta compreender que o verdadeiro sensacional é o nosso encontro com os nossos desejos mais profundos.
- Falta ousar mergulhar e fazer valer fora o resultado deste mergulho interno.
“Queremos provar toda a novidade que vem de fora, mas ainda não provamos do nosso próprio néctar”.