Tensão
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 08/05/2008 15:48:56
Você já observou como, na maioria das pessoas, a mente sempre reage às situações da vida de maneira tensa? Para elas, qualquer problema, por menor que seja, detona uma tensão interior, um sentimento de medo, de ameaça ou uma sensação de raiva, quando um desejo é contrariado.
Estes sentimentos são todos geradores de tensão, que se cristaliza na mente e acaba se refletindo no corpo, gerando os desequilíbrios e as doenças. Como, então, evitar que este processo continue se repetindo indefinidamente?
Só há uma maneira de interromper o ciclo repetitivo da tensão interior: é colocar consciência em todos os momentos de nossa vida. Se observarmos atentamente nossas reações aos acontecimentos diários, conseguiremos perceber exatamente quando a mente começa a nos puxar para um estado de tensão.
Neste instante devemos analisar exatamente quais os sentimentos que estão por trás desta tensão e por que razão eles estão ali. Se estivermos muito atentos, acabaremos percebendo que, na maioria das vezes, a tensão se deve a motivos que nada têm a ver com aquele acontecimento em si.
O fato é que temos o hábito de acumular contrariedades e frustrações, que acabam se manifestando por motivos insignificantes. Ao invés de enfrentar estas dificuldades e procurar uma maneira de nos libertarmos delas, vamos juntando este lixo emocional, até que ele se torne uma bomba relógio, pronta para ser detonada a qualquer momento e pelas razões mais banais.
Existe um grau mínimo de tensão que é inerente à vida e à necessidade de sobrevivência. Mas uma mente excessivamente tensa não é nosso estado natural, ela é adquirida na medida em que os desejos do ego vão sendo contrariados e quando nossa necessidade primordial de amor não é suficientemente suprida.
Mudar este estado da mente exige um treino permanente da consciência e da vontade. Sem este esforço, continuaremos prisioneiros do desequilíbrio e da ansiedade, que as emoções negativas do ego insistem em nos impor.
... “comece a relaxar. Comece da circunferência - aí é que nós estamos, e somente podemos começar de onde estamos. Relaxe a circunferência do seu ser - relaxe seu corpo, relaxe seu comportamento, relaxe seus atos. Caminhe de uma maneira relaxada, coma de uma maneira relaxada, fale, escute de uma maneira relaxada. Diminua a velocidade de todos os processos. Não fique com pressa e não se precipite.
Mova-se como se toda a eternidade estivesse disponível para você - de fato, está disponível para você. Nós estamos aqui desde o princípio e estaremos aqui até o próprio fim, se houver um princípio e houver um fim.
De fato, não há princípio e não há fim. Nós sempre estivemos aqui e sempre estaremos aqui. As formas continuam mudando, mas não a alma. A tensão significa pressa, medo, dúvida. A tensão significa um constante esforço para proteger, para estar seguro, para estar a salvo.
A tensão significa se preparar para o amanhã agora, ou para o depois da vida - com medo de que amanhã você não seja capaz de encarar a realidade, então, esteja preparado. A tensão significa o passado que você ainda não viveu realmente, mas somente passou ao largo, de alguma forma; ele perdura, é uma ressaca, ele o rodeia. ...Você terá que relaxar a partir da circunferência. O primeiro passo no relaxar é o corpo.
Lembre-se tantas vezes quantas for possível para observar o corpo, se você está carregando uma tensão no corpo, em algum lugar no pescoço, na cabeça, nas pernas. Relaxe-o conscientemente. Apenas dirija-se àquela parte do corpo e convença aquela parte, diga-lhe amorosamente, "Relaxe!" E se surpreenderá de que se você se aproxima de qualquer parte do seu corpo, ele escuta, ele o segue - é o seu corpo!
Com olhos fechados, vá para dentro do corpo, do dedão do pé à cabeça, procurando por qualquer lugar onde exista uma tensão. E, então, fale com aquela parte como a um amigo; deixe existir um diálogo entre você e seu corpo.
Diga-lhe para relaxar, e diga a ele, "Não há nada com que se preocupar. Não tenha medo. Eu estou aqui para tomar cuidado - você pode relaxar". Pouco a pouco, você aprenderá o clique disto. Então, o corpo se torna relaxado.
Então, dê outro passo, um pouco maior; diga à mente para relaxar. E se o corpo escuta, a mente também escuta, mas você não pode começar com a mente - tem que começar do princípio. Não pode começar do meio. Muitas pessoas começam com a mente e falham; elas falham porque começaram de um lugar errado.
Tudo deve ser feito na ordem certa. Se você se torna capaz de relaxar o corpo voluntariamente, então será capaz de ajudar sua mente a relaxar voluntariamente. A mente é um fenômeno mais complexo. Uma vez que tenha se tornado confiante de que o corpo lhe ouve, terá uma nova confiança em si mesmo.
Agora, até mesmo a mente pode lhe ouvir. Levará um pouco mais de tempo com a mente, mas acontece. Quando a mente estiver relaxada, então comece a relaxar o seu coração, o mundo dos sentimentos, emoções - que é até mais complexo, mais sutil. Mas agora você estará se movendo com confiança, com grande confiança em si mesmo. Agora, você saberá que é possível. Se é possível com o corpo e é possível com a mente, é possível com o coração também.
E somente então, quando tiver dado estes três passos, você pode dar o quarto. Agora, pode ir ao núcleo mais profundo do seu ser, que está além do corpo, mente, coração; o próprio centro da sua existência. E você será capaz de relaxar lá também. E este relaxamento certamente traz a maior alegria possível, o derradeiro em êxtase, aceitação. Você estará cheio de bênçãos e regozijando. A sua vida terá a qualidade da dança nela.
... Mas comece com o corpo e então vá, pouco a pouco, mais fundo. E não comece com nenhuma outra coisa mais, a menos que tenha, primeiro, resolvido o mais básico. Se o seu corpo estiver tenso, não comece com a mente. Espere. Trabalhe com o corpo. E simplesmente coisas pequenas são de imensa ajuda. Você caminha com um certo passo; isto se tornou habitual, automático. Agora tente caminhar vagarosamente.
Buda costumava dizer a seus discípulos, "Caminhem muito vagarosamente, e dêem cada passo muito conscientemente."Se você der cada passo muito conscientemente, está fadado a caminhar lentamente. Se você estiver correndo, com pressa, esquecerá de se lembrar. Por esta razão, Buda caminha muito vagarosamente. Apenas tente caminhar muito vagarosamente, e se surpreenderá - uma nova qualidade de percepção começa a acontecer no corpo. Coma vagarosamente, e se surpreenderá - há um grande relaxamento.
Faça tudo vagarosamente... apenas para mudar o antigo padrão, apenas para sair de hábitos antigos. Primeiro, o corpo tem que se tornar completamente relaxado, como uma criança pequena; somente então comece com a mente. Mova-se cientificamente: primeiro o mais simples, então o complexo, então o mais complexo. E somente então você pode relaxar no centro definitivo...
Osho em The Dhammapada, volume 10.