Treinando o Equilíbrio da Mente
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 17/11/2003 12:17:07
Como os demais aprendizados a que fomos submetidos ao longo de nossas vidas, o equilíbrio interior também exige prática, disciplina e paciência. Um dia, descobrimos que ele se tornou inerente a nós. Manifesta-se espontaneamente sem que para isso tenhamos que empreender qualquer esforço.
Mas para que aconteça, é necessário um desejo sincero e grande esforço de vontade. O resultado não será uma vida perfeita e isenta de problemas, mas uma nova forma de enfrentá-los, com muito mais serenidade e sabedoria.
Sakyong Mipham Rimpochê, é líder espiritual da linhagem Shambala, do budismo tibetano. Ao mesmo tempo, estudou em colégios ingleses, mora no Canadá e se sente perfeitamente à vontade no Ocidente. Essas duas influências opostas fazem com que ele conheça as dificuldades que uma pessoa comum pode ter para meditar, e também sabe todos os recursos da tradição oriental que podem ajudá-la nesse processo. Sakyong ensina uma técnica básica, chamada de shâmatha que todos podem praticar em casa:
Dezessete passos para tranqüilizar a mente
1. Escolha um lugar calmo, onde se sinta bem confortável. É preferível que medite sempre no mesmo espaço todos os dias;
2. Se desejar, pode fazer ao lado de um pequeno altar com imagens de sua devoção, cristais, flores e incenso. Mas, se não tiver espaço para isso, não tem importância, sua prática não será prejudicada;
3. O melhor horário para fazer a meditação é logo ao acordar, depois da higiene matinal e antes do café da manhã. Logo cedo, a mente está mais calma. Nos momentos que antecedem a ela, procure deixar suas preocupações de lado e, principalmente, evite pensar nos compromissos do dia. Agora é hora de silenciar e ganhar energia;
4. Sente-se numa cadeira com as costas retas ou numa almofada mais dura com as pernas cruzadas, se estiver acostumado a isso. Ajuste o corpo e tente ficar relaxado;
5. Procure ficar com a coluna reta sem forçá-la. Assim as energias circulam corretamente em todo o corpo. No Oriente, o ser humano é considerado uma ponte entre o céu e a terra, e o bom posicionamento da coluna facilita a conexão entre as energias celestes e terrestres;
6. Encaixe a cabeça no topo de coluna. Traga o queixo um pouco para trás de modo que a cabeça fique em linha reta, nem inclinada para frente nem jogada para trás. Deixe a língua relaxada na boca, com a ponta atrás. Deixe a língua relaxada na boca, com a ponta atrás dos dentes inferiores. Coloque as mãos, bem soltas, sobre as coxas;
7. Olhe para um ponto no chão a cerca de 1,5m a sua frente. Sua visão deve ficar imóvel. Uma das maneiras de tranqüilizar a mente é dar a ela um objeto de atenção fixo, como o olhar e a respiração. Nas meditações em grupo, um sininho ou um gongo anunciam o começo e o fim da prática. Em casa, ela começa quando você se sente preparado para iniciá-la;
8. Preste atenção na sua respiração, no ar que entra e sai. Não interfira em seu ritmo, apenas preste atenção. A respiração será o seu apoio principal, as rédeas que vão controlar sua mente;
9. Se perceber que suas emoções ou pensamentos já voaram para longe, gentilmente, mas com firmeza, volte a atenção para a respiração. Quando perceber um pensamento, apenas diga para você mesmo: “Pensando”. Com essa “etiqueta mental”, você percebe que existe um espaço entre você e suas preocupações;
10. Ver seus pensamentos é uma ação inédita para sua mente. É como sair de um rio turbulento, turvo, e ver que você é muito mais do que ele. Algo se separa. Desta nova perspectiva, você pode perceber como esteve submerso no rio de suas idéias sem perceber;
11. Ao distanciar-se dos pensamentos e vê-los de longe como nuvens que passam, você perceberá o quanto a mente é espaçosa e cristalina. No começo, você terá essa sensação apenas em breves segundos. Depois, a sensação de calma e pureza começa a durar mais tempo. Consciente do espaço que existe entre você e sua atividade mental, você passa a observá-los – e assim eles se acalmarão. Você os verá de longe, como quem olha um cavalo que come sereno no pasto;
12. Os pensamentos ainda insistirão em voltar, são como um potro selvagem que não quer ser domado. Aquilo que chamamos ego quer retornar para assumir seus pensamentos e preocupações;
13. Continue apenas prestando atenção na respiração. Se pensar, coloque a etiqueta “pensando” e volte à respiração. Sinta o corpo ir relaxando, mas mantenha a postura. Depois do combate inicial, a tendência natural da mente é ir se aquietando, se aquietando....
14. Comece a meditar entre dez e 15 minutos por dia. Chegue aos 20 e se conseguir, depois de algum período de prática, chegue aos 40 ou 50 minutos. Você também poderá praticar na hora de dormir por mais 20 minutos ou meia hora;
15. Você sairá da meditação em outro estado. As emoções e os pensamentos estarão mais tranqüilos e sua mente estará mais alerta. A acumulação dessa força fará muito bem à sua saúde. É como se você se encharcasse cada vez mais de boas e sutis energias;
16. Disciplina e constância são necessárias – a meditação é uma prática diária. Para isso acontecer, é preciso se convencer dos benefícios dela – e eles realmente acontecem ao longo do tempo;
17. Procure se ligar a algum grupo que pratique meditação ao menos uma vez por semana. Assim fica mais fácil manter a disciplina.