Vencendo os obstáculos
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 29/10/2009 15:46:56
Compreender o que nos impede de alcançar um estado de paz interior é um passo fundamental para tirar do caminho os obstáculos. Eles sempre são criados a partir de nossa mente.
Muitas pessoas se vêem de tal maneira dominadas pelas emoções, que nem sequer conseguem perceber o mecanismo que a mente utiliza para criar as limitações que -elas acreditam- existem em suas vidas.
Ao invés de focar no exterior, o movimento deve ser contrário, ou seja, voltar-se para seu próprio interior e buscar ali as razões do sofrimento. Não é fácil perceber isto, e muitos chegam até mesmo a odiar o terapeuta ou qualquer outra pessoa que tente lhes fazer enxergar esta verdade.
É muito comum que nesta etapa do processo muitos abandonem o tratamento, por considerar um absurdo que não tenham suas queixas compreendidas, e seu sentimento de vitima legitimado.
Somente quando se consegue ultrapassar este primeiro estágio, que constitui um verdadeiro choque, é possível começar a adquirir alguma consciência a respeito dos truques que a mente cria para nos manter sob seu domínio.
Aos poucos, vamos conseguindo perceber nas mais diversas situações, os pensamentos recorrentes que dominam nossa mente e nos mantém presos aos padrões de comportamento que insistimos em repetir.
Libertar-se da inconsciência só se torna possível através da prática permanente da atenção. Ela é a chave mágica que pode nos libertar da dualidade e levar-nos a um estado de consciência mais elevado, onde o sentimento de unidade com tudo o que existe passa a prevalecer.
"A coisa mais difícil, quase impossível, para a mente, é permanecer no meio, é permanecer equilibrada. E o mais fácil é movimentar-se de um pensamento para o seu oposto. Movimentar-se de uma polaridade para a polaridade oposta é a natureza da mente. Isso tem que ser entendido muito profundamente, porque sem que você entenda isso, nada poderá levar você à meditação.
...Quando você permanece no meio, você não está reunindo momento algum. E essa é a beleza disso: um homem que não está reunindo momento algum para se mover a qualquer lugar, pode estar à vontade consigo mesmo, pode sentir-se em casa.
...O tempo é criado pelo movimento da mente, exatamente como o movimento do pêndulo. A mente move-se, você sente o tempo.
Quando a mente não está se movimentando, como você pode sentir o tempo? Quando não há qualquer movimento, o tempo não pode ser sentido.
Cientistas e místicos concordam nesse ponto: que o movimento cria o fenômeno do tempo. Se você não está se movendo, se você está parado, o tempo desaparece, a eternidade chega à existência.
...A segunda coisa a ser entendida a respeito da mente é que a mente sempre quer o que está distante, nunca o que está perto.
O que está perto é enfadonho, você fica farto dele.
O distante lhe dá sonhos, esperanças, possibilidades de prazer. Assim, a mente sempre está pensando no distante.
...Para a mente, o oposto é magnético e a não ser que, através da compreensão, você transcenda isso, a mente continuará movendo-se da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, e o relógio continua.
Ele tem continuado por muitas vidas e é assim que você tem sido enganado - porque você não compreende o mecanismo.
De novo, o distante torna-se atraente e de novo você começa uma nova caminhada.
...A mente é dialética, ela faz com que você se mova repetidas vezes em direção aos opostos. E isso é um processo infinito, ele nunca se acaba, a não ser que você, de repente, o abandone; a não ser que, de repente, você se torne consciente do jogo; a não ser que, de repente, você se torne alerta a respeito da trapaça da mente, e você pare no meio.
Parar no meio é meditação.
A terceira coisa:
Porque a mente consiste em polaridades, você nunca é um todo. A mente não pode ser um todo, ela é sempre metade. ...A mente não é um mecanismo simples. Ela é muito complexa e através da mente você nunca pode tornar-se simples, porque a mente segue criando enganos.
Ser meditativo significa estar alerta para o fato de que a mente está escondendo alguma coisa de si, de que você está fechando os olhos para alguns fatos que estão perturbando.
Mais cedo ou mais tarde, aqueles fatos perturbadores virão à tona, vão apoderar-se de si, e você irá em direção ao oposto. E o oposto não está longe, num lugar distante, em alguma estrela. O oposto está escondido atrás de si, dentro de si, na sua mente, no próprio funcionamento da mente.
Se você puder compreender isso, você irá parar no meio.
...Quando você está equilibrado, a mente não está lá - então, você é um todo. Quando você é um todo, você é sagrado, mas a mente não está lá. Assim, meditação é um estado de não-mente.
Através da mente esse estado não é alcançado. Através da mente, qualquer coisa que você fizer, ele nunca será alcançado.
...Quando eu digo meditação, eu quero dizer: ir além das polaridades opostas, deixar de lado todo o jogo, olhar para o absurdo disso e transcendê-lo.
A própria compreensão se torna transcendência.
...Se você puder compreender isso, a meditação acontecerá em si.
Na verdade, ela não é algo a ser feito, ela é uma questão de compreensão. Ela não é um esforço, ela não é algo a ser cultivado. Ela é algo a ser profundamente compreendido.
Compreensão dá liberdade. Conhecer todo o mecanismo da mente é transformação.
...A felicidade somente pode acontecer para o todo, nunca para a parte... Você é um reino dividido, existe um conflito constante dentro de si. Você diz alguma coisa mas aquilo nunca é o que você quer dizer, porque o oposto está ali impedindo, criando uma barreira.
A mente entra quando você está dividido. A mente alimenta-se com a divisão.
...O que é felicidade? Felicidade é a sensação que surge em si quando o observador se torna o observado. Felicidade é a sensação que surge em si quando você está em harmonia, não fragmentado, uma unidade, não desintegrado, não dividido. Essa sensação não é algo que vem de fora. Ela é a melodia que cresce em si a partir da sua harmonia interior.
...Muitas vezes, em meditação, você tem alguns vislumbres. Lembre-se: sempre que você sentir tais vislumbres, não diga: "quão belo é", não diga "quão amoroso é", porque é assim que você perde o vislumbre. Sempre que o vislumbre vier, deixe que ele esteja ali.
...Quando em meditação você tiver um vislumbre de algum êxtase, deixe que ele aconteça, deixe-o ir fundo. Não divida a si mesmo. Não faça qualquer declaração, senão o contato será perdido". Osho – do livro, The Empty Boat.