Viveka - O Discernimento Consciencial
por Wagner Borges em EspiritualidadeAtualizado em 20/06/2007 19:33:30
Se eu citar Jesus e seus ensinamentos e até pregar em seu nome, mas não respeitar a crença dos outros, tudo isso de nada adiantará.
Se eu admirar Krishna e cantar mantras e louvores ao divino, mas não tiver amor pela vida, então estarei perdido em mim mesmo.
Se eu meditar profundamente e falar dos ensinamentos dos (do sânscrito - sábios espirituais; mentores dos Upanishads
Upanishads do sânscrito - parte final dos Vedas. É o conjunto de ensinamentos dos rishis da antiga Índia sobre a natureza do atman – o espírito, a essência imperecível que habita no coração -, e Brahman - O TODO, O Grande Arquiteto do Universo.) rishis(*), mas não ver o divino em tudo, nada serei realmente.
Se eu seguir os ensinamentos de Buda e, até pregar em nome do iluminado, mas não praticá-los nas lides da vida cotidiana, então tudo continuará em trevas dentro do meu coração.
Se eu falar dos ensinamentos dos mestres, ou dos mentores espirituais, mas não viver com alegria e nem me apaixonar pelo Todo, com certeza terei perdido o tempo de vida e suas experiências.
Se eu falar de Shiva, mas não transformar o meu ego em servidor da luz, de que adiantará?
Se eu falar dos santos, dos ( do sânscrito - são aqueles seres bondosos que estão perto de se tornarem Budas ou Iluminados. Para facilitar a explicação, podemos dizer que eles são canais espirituais ou avatares conscientes do amor de todos os Budas.) boddhisattvas(*), dos ( do sânscrito - enviados celestes; emissários divinos; seres de luz.) avatares(*), ou mesmo dos anjos, mas ainda carregar violência em meu coração, tudo permanecerá estranho dentro de mim.
Se eu falar da luz, mas carregar maldade em meus anseios e portar as faixas escuras do ódio no coração, então andarei em trevas.
Se eu falar da Mãe Divina e de sua doçura incondicional, mas projetar as farpas do egoísmo e da maledicência sobre os outros, estarei em miséria consciencial.
E se eu estudar os temas conscienciais, mas permanecer cheio de medo diante do invisível e ainda temer as provas do caminho, então só restarão as cinzas de minha ignorância diante do meu olhar de impotência.
Mas, se, mesmo diante das dificuldades, eu assumir o comando de minha consciência e melhorar o que penso, o que sinto e o que faço, então serei eu mesmo melhorado.
E essa é a grande riqueza que alcançarei: eu mesmo melhorado!
Não é o que acredito, que faz o que eu sou. É o que eu sou, realmente, que me faz como sou.
Por todo tempo, por onde eu for, seja com quem for, que seja eu mesmo, sempre melhorado, sempre aprendendo...
Maravilha das maravilhas, eu mesmo, sempre feliz.
PS.: De que adiantam as vitórias efêmeras no mundo, se, por dentro, na casa do coração, reinam a desordem e a agitação?
De que adianta ter um corpo lindo, se a alma é pequena e cinzenta?
De que vale encher a cara de bebida, se, por dentro, tudo está ressecado e sem brilho?
De que adianta deitar com alguém na cama, se o coração não chama e o pensamento/sentimento voa para longe, para outro coração?
De que adianta ser arrogante por fora, se, por dentro, o medo de viver corrompe os melhores potenciais do ser?
De que adianta falar de amor, sem amar realmente?
De que adianta “viver sem viver”, só se arrastando, sem outros horizontes?
De que adianta a um homem ganhar o mundo, se ele perder sua alma?
Paz e Luz.
Wagner Borges – sujeito com qualidades e defeitos, mestre de coisa alguma e discípulo de coisa nenhuma, que sempre agradece ao Todo, por tudo.
São Paulo, 02 de maio de 2007.
* Enquanto passava esse material a limpo, lembrei-me de um texto do poeta Walt Whitman. Reproduzo o mesmo na seqüência.
CANTO A MIM MESMO
por Walt Whitman
Estão todas as verdades
À espera em todas as coisas:
Não apressam o próprio nascimento
Nem a ele se opõem;
Não carecem do fórceps do obstetra,
E para mim a menos significante
É grande como todas.
Que pode haver de maior ou menor do que um toque?
Sermões e lógicas jamais convencem;
O peso da noite cala bem mais
Fundo em minha alma.
Só o que se prova a qualquer homem ou mulher,
É o que é;
Só o que ninguém pode negar,
É o que é.
Um minuto e uma gota de mim
Tranqüilizam o meu cérebro:
Eu acredito que torrões de barro
Podem vir a ser lâmpadas e amantes;
Que um manual de manuais é a carne
De um homem ou de uma mulher;
E que num ápice ou numa flor
Está o sentimento de um pelo outro,
E hão de ramificar-se ao infinito,
A começar daí,
Até que essa lição venha a ser de todos,
E um e todos possam nos deleitar
E nós a eles.
- Texto extraído do livro “Folhas das Folhas de Relva”; Editora Ediouro.
Walt Whitman – 1819-1892 - grande poeta e escritor norte-americano.