Vivendo em confiança
por Elisabeth Cavalcante em EspiritualidadeAtualizado em 08/04/2020 11:35:05
Confiar, ainda que todas as possibilidades se apresentem contrárias a isto, remete-nos a algo muito importante: a capacidade de seguir um direcionamento que vem do coração e não da mente.
A mente é essencialmente criadora de dúvidas, medos e incertezas. Sempre que uma situação desconhecida se apresenta, ela nos leva a desconfiar, temer que algo dará errado e seremos punidos com dor e sofrimento.
A relação amorosa é a dimensão da vida em que a confiança mais se torna indispensável. Como entregar os sentimentos a alguém se não existir uma total confiança?
Entretanto, exatamente pelo peso e a importância que ela adquire no relacionamento, quando é quebrada - por uma traição ou pela rejeição, - o resultado é uma ferida que pode durar anos para ser curada.
Isto porque a confiança dá lugar ao medo e cria então uma verdadeira "muralha", que é erguida em torno do coração, uma defesa contra qualquer possibilidade de se entregar de novo ao sentimento.
O problema é que evitar o sofrimento nos leva a evitar a vida. Essa atitude de proteção pode nos dar uma sensação de segurança, mas também nos mantém estagnados e apáticos, sem usufruir da plenitude que só uma existência movida pela coragem e pela entrega pode nos proporcionar.
"Faça o que tem de fazer resolutamente, com todo o seu coração". Lembre-se da ênfase no coração. A mente jamais pode ser uma - por sua própria natureza ela é muitas.
E o coração é sempre um - pela sua própria natureza ele não pode ser muitos.
Você não pode ter muitos corações, mas você pode ter muitas mentes. Por quê?
Porque a mente vive na dúvida e o coração vive no amor. A mente vive na dúvida e o coração vive na confiança.
O coração sabe como confiar - é a confiança que o torna um. Quando você confia, de repente você fica centrado.
Daí a significância da confiança. Não importa se sua confiança é na pessoa certa ou não. Não importa se sua confiança será explorada ou não.
Não importa se você será enganado por causa de sua confiança ou não. Há toda a possibilidade de você ser enganado - o mundo é cheio de enganadores. O que importa é que você confiou.
É a partir de sua confiança que você se torna íntegro, que é muito mais importante do que qualquer outra coisa.
Não é uma questão de que primeiro você tem de estar certo se a pessoa é digna de confiança ou não. Como você estará certo?
E quem vai pesquisar? Será a mente, e a mente sabe somente como duvidar. Ela duvidará.
Ela duvidará mesmo de um homem como Cristo ou Buda. Ela não pode nem ajudar a ela mesma.
Assim, lembre-se: confiar não quer dizer que primeiro você tem de pesquisar, que primeiro você tem de deixar as coisas certas, garantidas e, então, confiar.
Isso não é confiança, isso realmente é dúvida - como você esgotou as possibilidades de duvidar, daí você confia. Se uma outra possibilidade de dúvida surgir, você duvidará novamente. Confie apesar de todas as dúvidas, apesar do que o homem é ou do que o homem vá fazer.
Isso é do coração, vem do amor.
Quando você confia e ama com um coração decidido, isso traz transformação. Então, você nunca hesita. A hesitação simplesmente o mantém aos pedaços.
Dando um salto quântico, sem nenhuma hesitação ou apesar de todas as hesitações, você se torna íntegro.
A hesitação desaparece, você se torna um. E tornar-se um significa libertar-se - libertar-se da própria multidão estúpida que existe dentro de você, libertar-se de seus pensamentos e desejos e memórias, libertar-se da própria mente".
Osho, The Dhammapada