A minha vida era muito melhor sem você!
por Silvia Malamud em PsicologiaAtualizado em 08/04/2020 11:35:18
Uma rainha prisioneira dentro do próprio castelo
- Eu acho que o meu problema é você, Robson...
- Como?
Paula estava engasgada e essas palavras saíram com imensa dificuldade.
- É você, Robson. Não sei direito como, mas a minha vida era muito melhor sem você.
- Querida, você está sem noção de como as coisas estão, você não está numa boa fase da sua vida, deixa que eu te ajude. O problema está em você e não em mim.
- Com certeza que não. Eu não tenho, ou pelo menos nunca tive problema algum de confiança em mim mesma sobre como eu deveria ou não me colocar em meu trabalho e, pensando bem, também não tive nenhuma questão desta ordem em nenhuma área da minha vida antes de te conhecer.
- Está vendo? Você é orgulhosa e nem consegue admitir a sua responsabilidade quando se dá mal.
- A única coisa que consigo admitir -Paula respirou fundo- é que eu me sentia melhor quando estava sozinha.
Robson sentiu o baque, mas manteve-se seguro e continuou impassível:
- É uma desculpa sua. Você não deu certo com seu ex-marido e diz que não dá certo comigo agora. Você não consegue entender que você é a causadora dos seus problemas?
- Como assim? Estou começando a achar que você é quem pode estar minando a minha segurança...
- Vai me dizer que eu roubei isso de você?
- Não é isso. Acontece que...
Paula sentia-se como uma rainha. Uma rainha prisioneira dentro do próprio castelo. Não conseguia traduzir em palavras seus sentimentos, mas tinha plena consciência de que, no momento, era uma pessoa infeliz. Desmotivada, acima do peso, (Robson sempre tinha um prato calórico para a ceia), com problemas no trabalho, problemas financeiros. O casal dividia as despesas, mas Robson era o responsável pelas contas e passava a ligeira impressão de estar ficando no prejuízo. Mais um detalhe: Paula não tinha mais privacidade. Robson não demonstrava um ciúme, mas fazia questão de controlar todos os seus hábitos. Nas conversas com terceiros, a última palavra era sempre a dele. Se alguém perguntava algo diretamente a Paula, ele sempre dava um jeitinho de responder em seu lugar.
- No fundo, Paula, você é uma egoísta. Só pensa em você. E mesmo assim não consegue nem se defender nesse seu "empreguinho".
- Sou muito competente no que faço.
- É mesmo? Você me disse que está quase sendo despedida. Se não sou eu para te dar um apoio, você já tinha desabado.
- Robson. Eu quero que você vá embora.
- Embora? Embora da nossa casa? Ficou louca?
Ela já nem sabia quando a casa tinha se tornado dos dois. Mas ele falava com tanta propriedade.
- Robson, nós não estamos felizes juntos.
- Mas eu estou feliz com você.
- Mas eu não.
- Eu garanto que no seu outro casamento você não recebia nem um quarto do carinho que eu te dou. É ou não é?
- É, mas...
- Aposto que seu ex-marido tentava, mas você nunca abria a guarda. Sempre reservada. Sempre egoísta.
- Isso não é verdade.
- Reconheça, Paula. Seu casamento acabou por sua culpa e agora você quer acabar com esse. Quer que eu, que te amo tanto, vá embora. Você está desperdiçando a sua felicidade. Quer saber? Eu não vou embora. E sabe por quê? Porque eu te amo. Eu não vou deixar você jogar fora aquilo que tem de melhor e além do mais você não está bem, não vou te deixar assim, deste modo.
Na empresa que Paula trabalhava havia um limite e ela acabou sendo demitida. Sabia que aquele dia chegaria, pois não mais conseguia se concentrar no trabalho.
Robson não perdoava.
- A culpa foi sua Paula! Você não demonstrou segurança. Não demonstrou competência. Agora a nossa situação financeira só vai depender de mim. Eu só gostaria de saber o que você faria se eu não estivesse aqui para te proteger?
(Texto extraído do Livro Sequestradores de Almas, de Silvia Malamud)
Participe do Lançamento do Livro Sequestradores de Almas, no dia 13 de Abril próximo, na Livraria da Vila, na Alameda Lorena, 1731 - Jardins - SP, das 18:30h às 21:30h