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Alguns dos desafios que aparecem no caminho da consciência individual

por Luís Vasconcellos em Psicologia
Atualizado em 27/10/2003 12:24:59


Até mesmo a ciência “oficial” descobriu, com um alto custo de esforço e evolução, que existe, de modo apenas aparente, a REALIDADE a que chamamos de “mundo físico” e que este “plano material” pode ser subdividido em camadas e que aquela camada percebida é apenas a mais superficial, esconde-se aos sentidos humanos o fato, hoje corrente, de que a matéria é composta de energia organizada (átomos, prótons e elétrons) inclusive com ENORMES espaços vazios entre estas cargas polarizadas.
A MATÉRIA é, em essência, uma manifestação de uma ENERGIA ainda muito misteriosa.

Entretanto, popularmente falando, vivemos em uma sociedade que nutre uma concepção de mundo, predominantemente dependente e submissa ao “mundo conforme percebido pelos sentidos”. Em nossa época, de inominável pobreza filosófica, é irreal tudo aquilo que não tiver origem no mundo dos sentidos.
Mas então, o que é a matéria? Ninguém sabe, com certeza, a resposta a esta pergunta.

A mesma “descoberta” necessita ser feita por todos aqueles que se abram “em espírito” para a realidade psicológica humana.
Temos todos que sair da ilusão de que o universo esteja se importando com nossa tosca tentativa de regulamenta-lo e de circunscreve-lo aos nossos “pressupostos teóricos”. E digo isto tanto no sentido do Universo Psíquico quanto no do Universo Físico.

Em nós, seres humanos reais, sobre-existem e sub-existem planos de experiência da realidade, que não têm origem nos sentidos. Estou, claro, falando do plano psíquico inconsciente e também, por exemplo, da nossa capacidade mental. O pensamento é real ainda que ele não se refira, sempre, a uma realidade palpável.
Quando o pensamento não se refere a alguma “realidade percebida pelos sentidos” ele é hoje considerado fantástico, irreal, “fruto da imaginação” e até mesmo patológico.
E isto acontece a despeito da existência de uma imensidade de experiências humanas, como o já citado pensamento, a fantasia, a intuição, a imaginação, a religiosidade etc., que não podem ser simplesmente derivadas ou deduzidas do mundo dos sentidos.

Nosso mecanismo de explicar e de entender nossa vivência psíquica e, portanto, nossa real VIVÊNCIA psicológica, precisa de uma reforma urgentíssima.

Em cada um de nós, por entrarmos em sintonia com o pensamento da época, existe o perigo de que acontecimentos reais, da experiência diária, sejam MAL VISTOS pelo nosso JULGADOR/EXPLICADOR INTERNALIZADO que, de tão condicionado pelo modo corrente de pensar, ACABA REPRIMINDO e censurando A PRÓPRIA EXPERIÊNCIA PESSOAL roubando dela, tanto o VALOR, quanto o SENTIDO, que poderia ter para nós. Todo mundo acaba sentindo uma certa “vergonha” pelo simples fato de ter uma experiência psíquica intensa.
No entanto, é a nós mesmos, indivíduos reais, que este modo de conduta prejudica, pois nos vemos então privados de nossa CONEXÃO COM O INCONSCIENTE, em prol de uma adaptação a um mundo circunscrito - e regulamentado - pela concepção que se nutre a respeito do homem e da realidade.
Todos sabemos que uma CONCEPÇÃO COLETIVIZANTE é a antítese da cidadania responsável que todos esperamos da AÇÃO INDIVIDUAL engajada na busca do autoconhecimento.

Temos que nos lembrar, continuamente, que as concepções humanas são incompletas e momentâneas (historicamente datadas) e que, portanto, não constituem a única e absoluta palavra de ordem para o que possa ser encontrado ou experimentado no universo de vivência pessoal.
Faz muito tempo que eu digo: “se a sua TEORIA (julgamento, explicação, justificativa), não serve para compreender as EXPERIÊNCIAS VIVIDAS; então, dane-se a “teoria”...

Nosso desenvolvimento psicológico se dá por etapas ou estágios que são, todos eles - de um modo sempre surpreendente - REVELADORES de uma visão mais ampla, mais abrangente e mais relativa, que nos faz compreender, finalmente - com grande prazer - aquilo que antes nos “escapava” devido à nossa imaturidade...
A CONSCIÊNCIA de cada um cresce, na medida em que encara e se defronta com aquilo que foi, até então, de algum modo, ilusório.

A Psicologia é uma das “ciências modernas” que precisa - por obrigação e mérito - manter-se responsavelmente compromissada com a experiência psíquica propriamente dita - conforme VIVENCIADA – mais do que em cumplicidade com o que “se interpreta oficialmente” a respeito dela. E isto porquê nossa realidade psíquica não se reduz apenas aos pensamentos lineares, com base nas experiências dos sentidos.

Não é casual que, justamente quando o “pensamento da época” defende que, nossa prisão ao mundo dos sentidos, é a única verdade palpável, ocorra esta escalada para o oculto, para o mágico, para o místico e para o religioso.
Concomitantemente, a ciência (dita oficial), aventura-se no mundo energético, subjacente à matéria, mais do que no mundo da aparente (aos nossos sentidos), “realidade física”.
Parece que o Universo escondeu a VERDADE aos nossos ávidos sentidos... Isto se deve à unilateralidade da concepção ocidental (filosoficamente pobre) a respeito da realidade e de nós mesmos.
Por mais que se façam esforços para erradica-la deste suposto MAL, a nossa “realidade vivida” estará sempre “CONTAMINADA” (assim dizem as más línguas!) pelo misterioso, pelo mágico, pelo supra-sensível e pelo sobrenatural.

O “Cyborg” que está se insinuando no funcionamento humano (discussão que aprofundo em meu texto “Cyborgs versus Humanos”) é aquela capacidade (aparentemente inesgotável!), de encontrar (sempre!) uma resposta pronta pra todos os desafios que surjam, além da facilidade de estabelecer julgamentos, automáticos e sem nenhuma reflexão pessoal, para todas as experiências vividas.
Os esforços contínuos (dos poderes controladores da opinião pública vigente), que se fazem para conter e controlar a Mudança, a Fluência - e, portanto, a Evolução da CONSCIÊNCIA Humana – servem como instrumentos para fixar, rotular, julgar e prescrever receitas a serem seguidas pelo Cyborg que se está instalando em cada indivíduo privado de sua consciência individual.
Temos que aprender a filtrar e a selecionar o SENTIDO e o VALOR da informação que nos chega, a respeito de tudo...
Hoje em dia nutre-se a certeza ingênua de que é “bom”, “moderno” e “evoluído” permanecermos aprisionados aos limites prescritos do funcionamento do “pensamento correto”.Precisamos sair da ilusão de que o que hoje SE PENSA (impessoalmente, genericamente), a respeito de tudo (e, sobretudo, de nós mesmos) seja confiável.
Em algum sentido pode ser que SIM, mas do modo ingênuo, como a maioria de nós se coloca a este respeito, a resposta certamente é NÃO!
Os atos que denotam a presença da consciência individual possuem algumas características que os diferenciam dos atos “irreflexivos” do “cyborg” implantado em cada um de nós.

Estamos assistindo a uma situação em que, ao invés das máquinas se reduzirem aos homens, estamos, aos poucos, nos reduzindo a máquinas de fazer, de pensar, de ser...

O plano CONSCIENTE, que tem a ver com o nosso estado de vigília “normal”, tem o pensamento linear e sistemático, enquanto que a CONSCIÊNCIA é o poder humano de CRIAR e de ORIGINAR, de IMAGINAR e de EXPERIMENTAR ativamente. Poder “divino” do qual nenhum computador até hoje sequer se aproximou.
O que estou dizendo e deve surpreender o leitor é que podemos estar acordados e, no entanto, não estarmos despertos. Pode-se imaginar um despertar da CONSCIÊNCIA que se dá por camadas sucessivas, como fronteiras que vão sendo desbravadas e que se vão abrindo na medida do desenvolvimento de cada um.
O que não faltam são os ardis e as charadas postas ao longo da caminhada da consciência até o seu despertar final.

Desde muito cedo o INDIVIDUO se depara com um choque entre os seus desejos e impulsos naturais e o que o meio social e familiar exige dele. Desde cedo, quando ainda muito imaturos, nos convencemos de que se houver um choque de valores, desejos ou necessidades, entre a nossa emergente - e ainda frágil - CONSCIÊNCIA INDIVIDUAL e o grupo social, formado de pessoas aparentemente mais maduras e muito unidas em seus pontos de vista, então, provavelmente, o “errado” é o EU.
Como ficamos inseguros do valor e do sentido dos pensamentos verdadeiramente individuais, “deixamos de beber da água da fonte inconsciente” e acabamos por nos render ao “pensar da época” como se esta fosse a única maneira eficaz de nos fazermos queridos e aceitos pelo ambiente familiar e social.

Nosso temor à rejeição (por parte de pais e professores; patrões e gerentes; amigos e conhecidos), faz com que a gente selecione (e censure) nossos naturais impulsos de expressão, o tempo todo. Deste modo ficamos mais que atentos ao quê fazer, como fazer, o quê dizer, como dizer e assim por diante.
De modo geral, a importância relativa dos atos do EU, é perdida e então a pessoa segue as “DETERMINAÇÕES familiares, sociais e coletivas”.
Somos ensinados, desde o princípio, a nos tornarmos dissimuladores de tudo que é verdadeiramente pessoal e que, portanto, demanda decisões e escolhas eminentemente individuais. Estas decisões pessoais também envolvem “riscos” e a inconveniência (sentida pelos imaturos), de que tenhamos de escolher alternativas (de ser, de fazer, de se expressar), sem a SEGURANÇA da obtenção do sucesso ou prazer.

Hoje em dia, a pesquisa psicológica está avançando bastante e tenho que ESTIMULAR a demolição da crença ingênua de que, pelo simples fato de sermos humanos, possamos atingir CONSCIÊNCIA DE NÓS MESMOS sem qualquer esforço de nossa parte.

Cada um deve reformar e educar o seu “julgador/explicador internalizado” de modo que ele reflita, com pertinência e propriedade, a evolução da consciência individual em direção da sabedoria e da maturidade.

Uma Psicologia COM Alma tem que ser o resultado natural de um esforço da CONSCIÊNCIA HUMANA para vencer as barreiras (muitas vezes arbitrárias e totalmente artificiais), que nos impedem de compreender o significado (ou o valor) do fato de sermos humanos, na plenitude do exercício de nossas naturais e reais possibilidades de desenvolvimento.
Nossa evolução, como cultura, acabará por discutir a CONSCIÊNCIA POSSÍVEL NO HOMEM, suas alternativas e possibilidades - seus alcances e limites - e terminará por corrigir o hábito, hoje consagrado, de dar desmedido valor a uma concepção limitadora e restritiva (a respeito de nós mesmos) e que evita, a todo custo, o contato com a dimensão de Desconhecido que reside no Universo íntimo de cada um, tanto quanto no Universo físico propriamente dito.

Talvez faça algum sentido, a seguinte palavra de ordem:
Compreenda-se mais e explique-se menos!


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luis
Luís Vasconcellos é Psicólogo e atende
em seu consultório em São Paulo.



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