Com que máscara eu vou?
por Rosemeire Zago em PsicologiaAtualizado em 08/04/2020 11:35:14
Estamos no Carnaval e as fantasias e máscaras se fazem presente nessa época do ano. Mas hoje quero falar de outro tipo de máscaras, aquela que utilizamos todos os dias, e sequer percebemos.
Foi durante a Grécia antiga que surgiram as máscaras teatrais.
Mas não podemos falar de máscaras sem nos referirmos ao conceito de persona, termo derivado da palavra latina equivalente a máscara, que se refere às máscaras usadas pelos atores no drama grego para dar significado aos papéis que estavam representando. As palavras "pessoa" e "personalidade" também estão relacionadas a este termo. Ou seja, a palavra personalidade vem de persona que significa máscara.
personalidade → persona → máscara
Na Psicologia Analítica (Jung), a persona indica um aspecto da personalidade, a imagem como uma pessoa se mostra externamente, a atitude que assume como resposta aos outros e às situações.
Não podemos confundir identidade com personalidade. A Identidade é do indivíduo, própria e singular. Personalidade significa aquilo que representamos perante uma sociedade e nos relacionamos com os outros.
Começamos a desenvolver nossas máscaras muito cedo. Elas se formam pelas necessidades emocionais não supridas nos primeiros anos de vida. É como a criança que tenta se comportar bem, sendo "obediente" para receber aprovação de suas atitudes. Enquanto cresce, aos poucos desenvolve essa persona/máscara, que estará presente na profissão e nos papéis da vida. Mas com isso podemos nos esquecer de nosso verdadeiro eu, o self. Pensar que somos a própria máscara faz-nos perder de nós mesmos. Quando acontece da pessoa se identificar com a persona, por falta de autoconhecimento, seu mundo torna-se vazio, superficial, sem contato com sua vida interior.
Não é fácil identificá-las, mas você pode começar pensando sobre suas necessidades emocionais... você sabe quais são? A mais comum é a necessidade de reconhecimento e aprovação, e para obter começamos a agradar, inicialmente os pais, depois aos professores, amigos, cônjuges, com a necessidade inconsciente de ser aceito e amado. Conforme a necessidade não é suprida, mais a máscara se fortalece, numa busca externa, incessante e frustrante, como mostra o texto abaixo.
É importante entender que todos nós temos máscaras, e são essenciais a nossa saúde mental, mas a maioria das pessoas não as reconhece, e as usa sem a menor consciência de sua existência. Tão importante quanto ter consciência de nossas máscaras é saber qual usar de acordo com a situação, como um ator com seus personagens. O que torna possível o reconhecimento das máscaras que utilizamos é a análise, cujo processo tem como objetivo tornar consciente conteúdos inconscientes, e assim elevar o autoconhecimento. Quanto mais conscientes nos tornamos de quem somos verdadeiramente através do autoconhecimento, mais se reduzirá a ação das máscaras em nossa vida. Você pode e deve continuar a usá-las, pois precisamos das máscaras todos os dias, mas ter uma escolha consciente, e não mais inconsciente, de qual máscara deve ser utilizada nas situações, com certeza fará toda a diferença!
Abaixo segue um dos melhores textos que descreve o papel das máscaras em nossa vida. Leia o texto e reflita!
Gilbert B. Lazan
Cada vez que ponho uma máscara
para esconder minha realidade,
fingindo ser o que não sou,
faço-o para atrair o outro
e logo descubro
que só atraio a outros mascarados
distanciando-me dos outros devido a um estorvo:
A máscara.
Faço-o para evitar que os outros
vejam minhas debilidades
e logo descubro que,
ao não verem minha humanidade,
os outros não podem me querer pelo que sou,
senão pela máscara.
Faço-o para preservar minhas amizades
e logo descubro que,
quando perco um amigo,
por ter sido autêntico,
realmente não era meu amigo,
e, sim, da máscara.
Faço-o para evitar ofender alguém
e ser diplomático
e logo descubro que aquilo que mais ofende às pessoas,
das quais quero ser mais íntimo,
é a máscara.
Faço-o convencido de que é melhor que
posso fazer para ser amado
e logo descubro o triste paradoxo;
o que mais desejo obter com minhas
máscaras é, precisamente,
o que não consigo com elas.
Sugestão de filme: Persona
Quando duas mulheres pecam é um filme sueco de 1966, do gênero drama, escrito e dirigido por Ingmar Bergman. É um filme que retrata de forma bastante reflexiva e complexa as máscaras que o ser humano usa em sua vida, a ponto de não mais reconhecer a sua real face.
Sinopse: Alma, uma enfermeira, deve cuidar de Elisabeth Vogler, uma atriz que está com a saúde muito boa, mas se recusa a falar de qualquer jeito. Com a convivência, Alma fala a Elisabeth o tempo todo, inclusive sobre alguns de seus segredos, nunca recebendo resposta. Logo, Alma percebe que sua personalidade está sendo submergida na pessoa de Elisabeth.
Duração: 85 minutos
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