Como lidar com a síndrome do impostor ou falso self?
por Silvia Malamud em PsicologiaAtualizado em 08/04/2020 11:35:21
Já lhe aconteceu de ter sido elogiado, mas não se enxergar merecedor?
Já se sentiu como se fosse um impostor de si mesmo?
Às vezes, por mais que tenhamos construído estruturas de conhecimento, esse tipo de desconforto funciona como se tivéssemos recebido uma enorme rasteira com capacidade imediata de nos colocar na visão mais negativa que podemos ter sobre nós mesmos, sobre quem de verdade somos versus quem inventamos ser para o mundo. Seria o confronto com a evidência do quanto que a todo tempo estaríamos empenhados em mostrar ao mundo um falso eu que supostamente estaria funcionando numa versão muito melhor daquilo que realmente somos.
Para pessoas que tem esse tipo de sensibilidade, um simples elogio, uma crítica, um olhar atravessado ou uma alteração de humor independente, tem poder suficiente para as colocarem chão abaixo, fora de suas próprias vidas, histórias e conquistas.
Apesar de ter passado nos exames de pós-doutorado e de ser considerado excelente advogado e professor, um paciente que padecia desse mal, certa vez revelou que embora tivesse frequentado as aulas onde ele supostamente deveria ter aprendido tais lições, sentia como se não tivesse assimilado nada, como se estivesse passado anos de corpo presente, porém, ausente de si mesmo.
Com o tempo e com o processo terapêutico, foi resolvendo suas questões de autoestima e conquistando efetivamente o seu lugar dentro de si mesmo e no mundo. Durante algum tempo utilizou uma estratégia interessante quando precisava se expor em público: poucos minutos antes escrevia tudo o que havia feito e que havia colaborado para que estivesse naquele momento, naquele local e naquela posição. Com isso, pôde realimentar a sua rede neurológica viciada em se achar falsa, com dados de realidade sobre a sua jornada. Claro que não foi apenas este exercício que o reestruturou, o processo terapêutico também pôde lhe trazer outras percepções e significados sobre si mesmo, onde foi possível ele se autorresgatar nas suas jornadas de conhecimento e de conquistas pessoais.
Se frequentemente você se observa tenso em as suas relações de trabalho, afetivas e em geral, se é daquele tipo que fica criando estórias e mais estórias mentais sobre quais seriam as melhores possibilidades para se obter bons posicionamentos, mas que, na hora do vamos ver, nada do que faz ou fala o satisfaz, é bem provável que esteja passando pela síndrome do impostor. Na sensação de que existe um eu exterior que a todo custo necessita se mostrar perfeito, embora no mundo interno tal perfeição não se sustente.
Muitos daqueles que passam pelo silencioso desconforto de se acharem impostores, tentam superar a dor da falsa percepção de si mesmos em meio a várias condutas estratégicas, na maioria das vezes trabalham além da medida, na tentativa de mostrar ao mundo o quanto são bons, e nessas ações frenéticas, ansiosos, ainda tentam driblar aos outros para que não os descubram como falsos.
Por outro lado, alguns deixam de se esforçar ou de tentar algo novo com medo de falharem e serem desmascarados. São pessoas que fazem de tudo para se passarem como invisíveis aos olhos dos outros, para não serem julgados e checados a ponto de correrem o risco de serem descobertos.
Outros, ainda na sensação de serem impostores, passam a maior parte do tempo sob forte tensão emocional, e como reféns, buscam olhares de aprovação que confirmem para si mesmos que são reais. Uma tortura autoimposta e totalmente inconsciente. Um sofrimento ininterrupto permeado por sentimentos de vazios avassaladores e da sensação de falta de sentido e da não validade de si mesmo e da própria vida. Em casos mais graves, uma atenção redobrada por terapeutas, amigos e familiares se torna preciosa e preventiva para que situação emocional não se reverta em danos maiores como depressões profundas e até pensamentos suicidas. Quando em crise, o próprio protagonista deste tipo de cenário pode não ter clareza suficiente para sair dessa sozinho precisando de apoio externo.
Vários são os motivos que levam a pessoa para a síndrome do impostor, mas o interessante a saber é que este suposto eu impostor também faz parte válida da totalidade da pessoa e, portanto, não é tão impostor como é visto, apenas está dissociado da essência. Um bom trabalho psicoterapêutico pode renovar a pessoa de modo mais unificado e com a energia em abundância para que os propósitos de alma possam de verdade acontecer.
Quanto mais despertos, melhor!