Como saber se o relacionamento é abusivo?
por Silvia Malamud em PsicologiaAtualizado em 08/04/2020 11:35:23
Se acaso você estiver num relacionamento onde frequentemente se sente acuado, sem liberdade de ser você mesmo, vivendo com receio de magoar ou de alterar o humor de sua parceria afetiva, atente aos detalhes de tudo o que vem ocorrendo, reveja como você estava antes de iniciar essa relação comparando com o seu estado atual. Se notar algum mal-estar, mesmo que seja intermitente, em hipótese alguma desqualifique o que sente e de imediato comece a observar objetivamente tudo o que tem passado com mais distanciamento.
Se ações antes comuns em sua vida têm ficado paralisadas, se você tem recuado evitando fazer as coisas mais corriqueiras que sempre fez e que sempre lhe deixaram feliz, como ficar em companhia de amigos queridos, muitas vezes de uma vida em nome de manter um relacionamento, você pode estar confundindo o que é saudável, com aprisionamento de alma. Em relacionamentos saudáveis, o clima costuma ser de leveza, cumplicidade, empatia e liberdade. Será que o seu está caminhando neste sentido?
Estar ao lado da pessoa que amamos vem por conta de uma escolha consciente. Escolhemos namorar, escolhemos casar, escolhemos estar com quem gostamos, ninguém nos mandou ou nos obrigou a estarmos com quem gostamos. Nenhuma relação pode funcionar na falta de confiança. Quem está junto com o outro escolhe por que gosta. Sempre é uma escolha.
Nos relacionamentos afetivos onde existe uma imposição tortuosa em nome de se estar junto para mostrar que se gosta ou o que seja, tem como resultado, o retraimento da alegria de viver de um dos pares, onde as culpas e deveres inferidos na maioria das vezes são infundadas. Se estiver passando por um relacionamento dessa ordem, observe se existe algo de imposição tirânica no ar e se perceber algo, mesmo que seja de modo sutil e velado, não banalize. Relacionamentos abusivos são de difícil detecção, mas muito mais comuns do que podemos imaginar, se surgir algum ruído emocional neste sentido, todo conhecimento sobre o assunto deve ser pesquisado.
Além dos conhecidos abusos físicos, hoje mais do que nunca, o alerta é para que todos fiquem atentos a um outro tipo de violência, atualmente configurada como abuso emocional. As marcas impressas por ambos se equivalem.
A questão do abuso emocional muitas vezes confunde as vítimas por surgir em meio a manipulações e funciona como se fosse um vírus de difícil detecção que em pouquíssimo tempo mostra evidências da sua força devastando a vida da maioria das pessoas. Na dúvida, observe também se você se vê obrigado a andar em trilhos desenhados por sua parceria afetiva mediante a uma lógica de terror que lhe ameaça de abandono se você ousar ser mais livre daquilo que lhe é imposto.
Observe se sentimentos de medo e de tristeza imperam e se os seus breves momentos de alegria ocorrem porque você não foi abandonado, e ainda se esses breves intervalos de paz apenas existem quando não está sendo ameaçado e outras vezes quando recebe um brisa de um suposto carinho que até pode vir em forma de sexo, artimanha que engana e ilude mais ainda quando sugere que esse encontro de fusão virá lhe garantir emocionalmente, mentira.
Evite confundir amor, com trégua de tranquilidade.
Quem duvida e coloca regras demais acuando o parceiro, além de transformar a vida do outro num verdadeiro inferno, inaugura um mar de tristezas sem fim onde tudo o que poderia ser amor é transformado em repressão, medo, dependência e depressão.
Ninguém em sã consciência, jamais desejaria isso para si mesmo.
Se suspeitar que está nesse tipo de roubada, saiba que algo de muito mal pode estar acontecendo em sua vida e que você pode estar num cárcere, sem saber disso.
Quando se está em um relacionamento abusivo, a pessoa pode ser alguém de sucesso, de boa posição social, de muitos amigos ou com o que seja que a constrói como identidade que essa parceria rapidamente lhe afastará de tudo isso, roubando muito mais da sua essência do que você pode imaginar. Em pouco tempo, a tendência é a vida virar de cabeça para baixo fazendo com que você se sinta isolado até que você perca suas próprias referências, até que a sua alma fique totalmente à mercê deste outro tirano que exercerá todo o seu poder sobre você, como se fosse seu dono.
Relacionamentos abusivos dessa ordem costumam ser tóxicos porque a vítima fica viciada nesse tipo de demanda que funciona mais ou mesmo assim: Faço o que você quer e você fica legal comigo e eu relaxo porque você não vai embora até vir próximo surto que me ameaça de que você vai ficar bravo com algo que eu supostamente fiz e você novamente fica magoada, com raiva e me ameaça de me abandonar e por aí vai... Com isso eu vou sempre ficando tenso e à espreita, no medo de falhar em algo com você, ininterruptamente o olhando e fazendo de tudo para que você não mude o seu humor e novamente me ameace.
Entorpecidas dentro desse padrão que não muda, as vítimas literalmente esquecem de que antes podiam viver sem essa pessoa e que, naquele tempo, seja o problema que estivessem passando, ainda assim eram mais felizes do que estão agora.
Se está num evento, num trabalho ou no que seja e que faz parte da sua individualidade e muitas vezes quando estão juntos, ele (ela) lhe roubam da sua cena, inventando coisas para que você se sinta culpado e você emocionalmente mal e com isso, gradativamente, a subtração da sua própria vida vai acontecendo.
Quanto mais cedo despertar, melhor. A vida é breve demais para se deixar cair em ciladas que podem ser fatais.
Relacionamentos tóxicos são devastadores. Na maioria das vezes, ajuda psicológica competente é mais do que necessária para que o resgate da vida aconteça.
Sua vida é e sempre será o seu bem maior.