Distúrbios que levam à SEPARAÇÃO: 1 Egocentrismo e separatividade.
por Luís Vasconcellos em PsicologiaAtualizado em 04/07/2000 11:21:30
O egocentrismo se caracteriza pelo amor narcisista e pelo culto às características individuais - é uma religião do EU. Neste estágio do desenvolvimento psicológico as tensões são grandes e há um conflito impedindo a aceitação do OUTRO (do MUNDO, do INCONSCIENTE), pois este recusa adequar-se aos desejos e carências da Personalidade. Muita gente acha que o egocêntrico conhece muito a si mesmo. Grande engano, pois este explora uma parte relativamente pequena das possibilidades e alternativas humanas. Sendo tão seletivo ele filtra tudo e todos de acordo com suas necessidades e interesses (... aos olhos da Personalidade, é claro !). Esse processo seletivo é normal, contudo pode chegar a um tal grau de exigência, que boa parte da energia psíquica disponível acaba dirigida a algumas poucas tarefas: o controle do inesperado, a fuga da eventual possibilidade de sofrer alguma dor, a defesa ferrenha da imagem favorável de si mesmo e a manutenção da vaidade pessoal. Uma outra significativa parcela de energia é gasta na auto complacência (encontra-se sempre desculpas para tudo ) e na repressão dos fatores humanos negados no âmbito da Personalidade. Não sobra quase nada de energia para outras funções.
Estes "programas" (se me permitem a analogia) consomem literalmente toda a "memória RAM" e também a "memória ROM" ocupando a quase totalidade das funções do "processador". Qualquer outra função psíquica terá que se contentar com pequenos lapsos e folgas na atividade consciente para poder se insinuar. Como realizar então "elaboradas e custosas" tarefas psicológicas como, por exemplo, a integração entre opostos, a desidentificação dos valores pessoais ou o desapego do EU para que a tão desejada transformação se faça possível.
É difícil realizar este tipo de tarefa psicológica sem energia disponível. O EGOCENTRISMO é um transe e várias experiências podem ajudar o Ser a acordar, porém nada é mais eficiente do que a aterradora constatação de que a vida não é eterna. Em assim sendo, ninguém tem tempo para gastar com bobagens que não levaram a nada de bom antes, não levam a nada de positivo agora e nunca levarão a nada de valioso no futuro! Insistir em algo que não está funcionando bem, apenas porque já é conhecido e porque foi assim que aprendemos não altera, em absoluto, o resultado final: o fracasso na relação. É fatal, ainda mais se considerarmos que o egocentrismo é um distúrbio pessoal e auto centrado. No egocentrismo não se precisa do OUTRO, ele nem é percebido como tal, ele existe como algo estranho e incompreensível, pois sempre se usam os mais diletos e estimados pontos-de-vista pessoais para medir e avaliar este OUTRO. Este não tem de fato uma importância para o mundo do egocêntrico. Ele não fará assim tanta falta, pois comumente o egocêntrico jamais se arrisca a precisar efetivamente dele, a depender sadiamente dele ou a comungar uma existência baseada em autêntica e espontânea reciprocidade:
O estado de separatividade e de isolamento é pré existente.
Ninguém consegue ajudar alguém a sair do casulo em que se fechou, ainda mais se "aquele que deveria ser o maior interessado" não quiser. O fato é que, se não há real entrega, não se correu REALMENTE risco algum e pode-se virar as costas para o OUTRO sem nenhum temor. Isto só é possível se não houve entrega nem amor.
Vive-se a ilusão de ter medo do outro, porém o medo vem da possibilidade (sempre real) de que uma experiência dolorosa do passado se repita ! Isto é de cada um e só na experiência da Individualidade pode ser resolvido. Não há real confiança quando dependemos do OUTRO para confiar. Como fenômeno energético que é, a confiança ou emana para fora do EU (no amor) ou não existe de modo algum.
Só o egocêntrico exige sempre uma garantia: a de levar alguma vantagem ou lucro com o que dá ou faz para o OUTRO.
