Distúrbios que levam à SEPARAÇÃO: CUMPLICIDADE NEGATIVA com o OUTRO
por Luís Vasconcellos em PsicologiaAtualizado em 08/04/2020 11:34:52
Podemos caminhar para uma cumplicidade com o OUTRO quando temos problemas, conflitos e carências SEMELHANTES ou COMPLEMENTARES!
Pior do que o EU achar, por exemplo, que tem o direito de impor limites e controles
sobre alguém (com base em sua insegurança) é o OUTRO aceitar
este "contrato inconsciente" e pagar com a própria vida o preço
deste conformismo e cumplicidade para com o parceiro. Não importa o que
o segundo faça, quanto se esforce ou que preço pague, pois nada,
mas nada mesmo vai resolver o problema da desconfiança, quando enraizada
no EU, pois o problema é da pessoa que nutre a desconfiança.
Pior do que o EU, por exemplo, nutrir ciúme e desconfiança é
o OUTRO acreditar que deva fazer DE TUDO para diminuir (ou mesmo eliminar) os
motivos para que isto aconteça e se esforçar para JAMAIS dar motivos
para que o ciúme seja, por assim dizer, estimulado:
Ainda assim e apesar desta tentativa, a desconfiança do EU está
lá, à espreita, esperando para jogar-se sobre o parceiro ao menor
motivo!
Quando alguém sente ter feito algo de bom por nada ter feito para estimular
a insegurança arraigada do companheiro, está EQUIVOCADO, pois "proteger"
a outra pessoa em seus conflitos e dificuldades não necessariamente faz
(como não fez e nem nunca fará) com que o companheiro cresça
e se liberte de seus problemas de natureza íntima e pessoal (Isto aplica-se
à maioria dos problemas de relação).
Estamos também transmitindo, nesta hora, sem percebê-lo, algo mais ou
menos assim:
"Ah, ela(e) é tão fraquinha(o)! Ela(e) jamais conseguirá
vencer este problema. Coitada(o)!"
A Mãe postiça protege e absolve o filho incapaz. O Pai postiço
protege e absolve a fraca filha.
Há uma grande diferença entre:
A - "compreender uma limitação temporária do companheiro e procurar ajudar"
B - "conformar-se (para sempre, por desejo de proteção) a uma dificuldade do parceiro".
Compreender ou aceitar não é o mesmo que cumpliciar e conformar-se
!
Com essa atitude (cheia de sentimentos negativos) ajudamos a perpetuar a negação
da SOMBRA PESSOAL. Assim fazendo rendemo-nos a seu poder e domínio sobre
o parceiro. Sua natural dificuldade de ver seus próprios problemas é
acrescida da nossa dificuldade de compreende-lo em uma perspectiva mais ampla
do que aquela que alicerça o seu conflito e de ser-lhe útil, de
modo construtivo.
De papéis complementares se abastecem os conflitos entre os parceiros
amorosos.
Desta complementariedade depende a SOMBRA PESSOAL para se perpetuar no controle
de tudo.
Resultado mais comum =
Uma dificuldade cuja existência é negada por ambos, torna-se um
CONFLITO (sem saída), pois não pode vir à tona claramente
e, portanto, não pode algum dia (e que seja breve!) tornar-se um PROBLEMA,
do tipo que pode ser encarado, equacionado, encaminhado e resolvido.
É como se a falência de um fosse perdoar ou esconder a falência
do outro !
Alguém com insegurança muito grande, inconscientemente pode
eleger (para parceiro de relação) uma pessoa que não ameace
quebrar o esquema defensivo do EU e, assim sendo, acabar expondo-o ao seu próprio
medo; então a pessoa "escolhida" é apropriada para perpetuar
o medo do EU, que tudo fará para que este desejo inconsciente não
seja traído pelo OUTRO. Naturalmente este último percebe muito
bem onde deve e onde não deve se intrometer.
Contudo, forças outras trabalham para fazer, mais dia menos dia, com
que estas barreiras sejam quebradas. É saudável e construtivo
que isto ocorra, contudo poucos são os casais advertidos da necessidade
de encarar positivamente este "choque existencial" e superá-lo.
Na grande maioria dos casos, os casais, depois de passar muito tempo em cumplicidades
tolerantes, partem (sem qualquer aviso prévio e progressivamente) para
a fase de "denúncia da Sombra alheia", pois sempre parece mais
fácil dirigir acusações ao OUTRO e, ao mesmo tempo, manter
uma prudente auto indulgência com relação aos próprios
defeitos e limites.
Muito menos frequentemente casais se mostram capazes de assimilar a constatação
do alcance e dos limites de UM e do OUTRO em um clima de crescente compreensão
e desenvolvimento humano.