É incompreensível o conteúdo da maioria dos sonhos?
por Luís Vasconcellos em PsicologiaAtualizado em 16/06/2000 12:54:52
As percepções e as respostas emocionais que damos a tudo que
nos chega variam desde a indiferença e o desdém para o que nos
é familiar e conhecido até o temor que nos gera o que nos é
estranho, não familiar e, pior, inconcebível aos nossos olhos.
Exemplos de nossa dificuldade de aceitar a existência real do desconhecido
apareceram em todos os tempos sob variadas formas. Sobre esta área cercada
de medos e indefinições projetamos coisas tanto positivas quanto
negativas.
- Quando a Europa medieval iniciou sua aventura expansionista pelos mares, os
geógrafos de então desenhavam as áreas já mapeadas
e nas bordas invariavelmente desconhecidas dos seus mapas escreviam em latim:
HIC SUNT DRACONES, que quer dizer mais ou menos o seguinte: Daí pra frente
devem estar os dragões...
- Na mesma época era vigente e difundido o Mito do Eldorado, um reino
de ouro, diamantes e riqueza inimagináveis, o paraíso terrestre,
que alguns aventureiros de então denominavam "Terra de O'Brasil"
ou "Hy Brasil". O eden se localizava ora no oriente, ora no mundo
ocidental ainda inexplorado.
- Nosso horror ao vazio é imenso. No início do século XX,
congressos de cientistas positivistas ( com base na Física Newtoniana
de então ) afirmavam faltar um ou outro ponto para esclarecer de vez
o funcionamento do universo. Naturalmente morderam suas línguas pois
poucos anos depois veio à luz a Teoria da Relatividade, demolindo as
seguras fundações em que estes cientistas apoiaram suas afirmações.
- Há duas décadas Pierre Weill publicou uma pesquisa em que afirmações
de cientistas modernos se misturavam com afirmações de místicos
e teólogos de todo as épocas. Ao leitor cabia identificar quais
as fontes das quais haviam brotado tais afirmações... o resultado
é que muitas afirmações que o leitor atribuía a
cientistas eram de místicos e vice-versa.
Para a maioria de nós os Sonhos não têm valor nem explicativo
nem esclarecedor. Entre os povos "naturais" ( pelo menos aqui podemos
nos incluir entre os "civilizados") é comum relatar e discutir
socialmente a respeito dos conteúdos e significados dos sonhos, especialmente
diante da perspectiva de alguma situação ou evento importante.
Entre nós este hábito persiste mas envolto em uma aura de desconfiança
e de desdém. Contudo comentamos mesmo assim, sabendo que maior importância
não será dada ao fato, tido como irrelevante. Ainda assim alguns
de nós atribuem importância a determinados sonhos, especialmente
se eles impressionam ou causam especial estranheza.