Eu não tenho medo de tomar pancada!
por Silvia Malamud em PsicologiaAtualizado em 26/05/2021 16:28:09
Segue abaixo estudo de caso, onde os nomes foram trocados para preservar as identidades.
Paciente "João". Cena: Numa festa entre amigos, "Antonio" bebe além das medidas e numa "brincadeira" me prende com os braços. Quando tento escapar, ele tenta me conter com um chute direto em minha boca quebrando os dois dentes da frente pela metade. Não consigo superar isso. Todos do grupo que lá estavam são amigos de infância e na hora fiquei perplexo, com raiva, mas sem ação.
- "João" tem 25 anos.
Depois de fazer todo o protocolo em EMDR , com histórico da pessoa, costuma-se pedir o flash da cena a ser reprocessada, lembrando que nesta estarão provavelmente condensados inúmeros sentimentos, imagens reais e simbólicas, sensações corporais e outros.
A partir desta cena, aqui serão apresentadas algumas etapas do que ocorreu no seu reprocessamento onde de tempos em tempos o paciente conta o que seu cérebro vivencia:
1) Apareceu em minha mente que não tenho medo de tomar pancada, tenho medo de bater, medo do meu soco ser muito forte. Eu me vi batendo muito nele e me deu medo... Também, sempre fui ensinado a não bater, a ser mais político, a evitar todo tipo de conflito. Porque um dia eu poderia precisar do outro... lembrei da minha mãe dizendo muito isso... Engraçado, tinha me esquecido disso que ela sempre costumava falar... (crenças que norteiam).
2) Sou depreciável porque não posso pôr minha raiva pra fora... (Emociona-se.)
3) Lembrei-me de smoking e quando o dente quebrou... e eu com vergonha e raiva querendo arrebentar ele. (reprocessando...)
4) O que você fez não se faz, sou seu amigo, mas agora não sou mais... Por mais que eu tenha errado, nós éramos muito jovens e queríamos ganhar as meninas. Eu ficava tirando uma com a cara dele, aliás tirava demais com a cara dele. Ai... Eu era muito mal com ele... (reprocessando...)
5) Será que é isso que o fez ficar com tanta raiva assim de mim a ponto de repentinamente me dar um chute na boca, quebrando meus dentes? Nossa... Eu não era tão bonzinho assim... (reprocessando...)
6) Será que eu fui tão agressivo assim com ele e o maltratei bastante durante tanto tempo que não percebi que fui além da conta? Nossa! Lembrei de cenas em que tirava muito sarro dele, que ficava com as meninas que ele queria ficar, mas me parecia que era tudo na brincadeira, mas agora vejo que eu não era tão bonzinho assim. (reprocessando...)
7) Sempre me achei vítima da violência dele. Tenho vergonha de ter próteses nos dentes, embora ninguém veja, a marca ficou em mim. Estou com ânsia de vômito até... (com raiva, reprocessando...)
8) Me veio o primo dele me falando: você aprontou tanta coisa com ele e você acha que nunca ia ter volta? Pois é, talvez ele tenha lavado a alma da raiva que tinha de mim. Ele ligou só uma ou duas vezes pra saber como eu estava. Agora vejo que para ele deve ter sido um pouco de vingança. (reprocessando...)
9) O que muda é que eu só me achava vítima dessa história porque ele havia bebido um pouco além da conta naquele dia, mas agora vejo que ele tinha um acúmulo de raiva de mim e que tinha razão... infelizmente tinha. Nunca fui legal com ele, sempre passava das medidas e fazia de tudo para diminui-lo na frente de todos e principalmente das garotas. O problema é que na hora de eu ser agressivo pra valer, nunca fiz, só de modo camuflado... E pior, camuflado pra mim mesmo! Isso que é o pior!!!! (reprocessando...)
Após muitas outras cenas:
10) Hahaha... tô me vendo cheio de mochilas indo pro Canadá fazer um estudo que eu tô muito a fim há muito tempo e não tinha iniciativa... Agora eu vou!!!!!!!! Não... Agora eu fui!
Resumindo: Depois de mais reprocessamento, lembrando que estes são apenas fragmentos, "João" sente-se livre para usar sua agressividade do lado positivo em sua vida, percebeu que suas crenças e medos o limitavam fazendo com que a sua boa agressividade não acontecesse, mas que acabava por se expressar de modo totalmente distorcido. Nesse pequeno recorte, tem muito mais coisas que se sucederam para que este resultado fabuloso ocorresse.
Sua vida mudou e hoje ele está vivendo o seu sonho no Canadá. Ousando e conquistando, usando sua agressividade no impulso consciente do fazer, do se defender, do se proteger entre outros e não sendo tomado por essa energia poderosa de modo cego.
Um pouco mais de conhecimento sobre EMDR:
Existe uma crença, não totalmente infundada, de que quando se faz terapia aprende-se a conhecer e reconhecer os nossos problemas e limitações, mas que a mudança ou nunca ocorre ou demora "séculos"para acontecer. Encontros significativos em terapia sempre são altamente eficientes para que mudanças substanciais ocorram na vida das pessoas que buscam se auto-superar.
Infelizmente, porém, isso não ocorre 100/% das vezes. Em muitas situações somente dor e sofrimento infindáveis ficam rondando a vida do buscador ao longo dos processos terapêuticos. Já ouvi muitas pessoas que foram para diversos tipos de terapias, pessoas que ouviram mentores falarem de suas supostas outras vidas e quando pergunto o que mudou na vida delas depois dessas "revelações" que na hora fizeram muito sentido, comumente param, surpresas, e dizem terem se sentido mais aliviadas, porém, confessam que na vida prática nada mudou. Apenas compreenderam o porquê de serem deste ou daquele modo.
Notem que isso não é para todo mundo e que muitas pessoas podem mudar se a terapia se "encaixa"... Mas hoje podemos falar de uma nova forma de fazer psicologia, onde nossos pacientes podem também comemorar suas vitórias, ou seja, a integração tão desejada que nos permite usufruir e existir no mundo com muito mais qualidade na vida.Estamos falando do EMDR, que significa Cura das Experiências Traumáticas através da Estimulação Bilateral dos Hemisférios Cerebrais. Esta abordagem traz uma nova possibilidade à realidade dos processos psicoterapêuticos. Podemos experimentar a concretização dos resultados desejados de modo preciso, reprocessando muitas vezes nas experiências difíceis pelas quais passamos, resgatando a alegria de viver e a possibilidade experienciar a vida de modo inimaginável anteriormente.
É claro que não estamos falando de recuperação mágica, mas da realização de um trabalho direcionado, com excelentes resultados e de forma rápida. Em determinados momentos, pode-se necessitar de um tempo um pouco maior. O que determina ou não esta possibilidade é a singularidade de cada um, que deve ser cuidadosamente observada e respeitada pelo terapeuta treinado. Mesmo assim, se demorar um tempo um pouco maior, comparativamente, sempre será menor do que as outras abordagens. Sempre que procuramos ajuda terapêutica, existe alguma angústia que nos move clamando por uma mudança significativa em nosso modo de ser e de estar no mundo. De nada vale se sairmos de uma consulta terapêutica do mesmo modo como entramos e pior... Às vezes, mais desestabilizados e confusos...
O EMDR funciona, dependendo da situação, primeiro como estimulador de recursos positivos pré-existentes que, pelo sofrimento atual, ficam impedidos de se manifestarem. Algo como se a totalidade do paciente fosse feita só de tristeza, agonia, solidão, ou o que seja. São nestes difíceis momentos de angústia extrema que as pessoas sentem dificuldade de se projetarem num futuro ou mesmo num agora mais feliz.
Existem técnicas onde ajudamos o paciente a encontrar as experiências positivas de sua vida, pois se chegamos até aqui foi porque estas experiências nos permitiram seguir adiante. Buscar o valor positivo das nossas vivências e alegrias que na maioria das vezes deixamos que se percam em meio aos entulhos que acumulamos em nossas vidas. O paciente abre espaço para comemorar o que, quem sabe, nunca pode ser. A partir daí fazemos a instalação destes recursos positivos, utilizando a possibilidade que o EMDR traz.
O segundo momento acontece quando vemos as mudanças desejadas acontecerem não apenas no consultório, mas em todas as áreas da vida do paciente.
Você pode obter mais informações sobre o EMDR (Cura das experiências traumáticas através da estimulação bilateral dos hemisférios cerebrais) buscando pelo Google a palavra EMDR e em literaturas relacionadas por inúmeros psiquiatras, psicoterapeutas, neurologistas, psicólogos e médicos ao redor do mundo. Existem vários livros e trabalhos científicos abordando esta fantástica metodologia cerebral de cura emocional na máxima velocidade!
O que o EMDR pode tratar de questões relacionadas a auto-estima, bullyng, traumas de todo o tipo, luto, separação, mudanças de vida por quaisquer motivos, sexualidade, obesidade, compulsões, enfim, tudo que traz um grau de perturbação na pessoa pode ser reprocessado.
Obs.: Transtornos psiquiátricos e dissociações graves devem ser observados com cautela e na maioria das vezes a aplicação do EMDR é contra-indicada.