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Há bom sexo depois do Casamento?

por Flávio Gikovate em Psicologia
Atualizado em 15/07/2005 12:07:54


Ouvi inúmeras histórias de pessoas com vida sexual rica e instigante durante o namoro e que, depois do casamento, depararam com relações pobres e tediosas. Pesquisas recentes indicam que a maior parte dos casais tem, quando muito, uma relação sexual por semana. O dado é espantoso, especialmente para quem ainda está namorando. Não parece óbvio que o fato de poder dormir junto toda noite tornaria o sexo muito mais acessível e constante?

Somos obrigados a concluir que a excessiva facilidade pode provocar a diminuição da freqüência. Sim, porque o fato de aquela mulher – ou aquele homem – estar lá todas as noites faz com que tenhamos menos pressa de usufruir dos prazeres derivados de sua presença. Se nos sentirmos um tanto cansados, ou se tivermos tomado um copo de cerveja a mais, já tenderemos a “deixar para amanhã”.

Muitos outros fatores interferem na intensidade do desejo sexual, governado por processos psíquicos complexos e não apenas por nossos instintos. No namoro, a vontade recíproca de impressionar e de seduzir pode se realizar com a intimidade sexual. O homem quer se mostrar extremamente viril e proporcionar sensações desconhecidas à namorada. A mulher quer ser sensual e despertar um desejo irresistível. Revelar-se competente e agradar é também o meio de dominar o amado e assegurar a preservação do elo.

O que acontece após o casamento? A preocupação de se exibir diminui, uma vez que o objetivo foi atingido – o matrimônio é, infelizmente, vivido como a meta final dos que namoram. O ingrediente da sexualidade, que estava acoplado a esse projeto, cai por terra. É bom percebermos que o sexo não é vivido como fonte de prazer. Trata-se muito mais de um instrumento que nos ajuda a conseguir algo que buscamos para a nossa satisfação. A situação tende a piorar depois que nasce uma criança, pois então se alcança outro objetivo, o da reprodução.

Os casais costumam gastar a maior parte do tempo com problemas; raramente se lembram de que o fato de estar casados não lhes proíbe momentos semelhantes aos que desfrutavam antes. Discutem questões referentes a outros membros da família e a dinheiro. Tudo, enfim, que afasta qualquer mortal dos temas eróticos. Eles quase nunca se propõem a sair a pé para dar um passeio de mãos dadas, tomar um sorvete, sentar num banco e trocar carícias ou palavras carinhosas. Ficam em casa, engordam, assistem a qualquer programa de televisão, brigam e depois, na cama, não podem deixar de se virar um para cada lado. É muito pouco erótico o clima cotidiano dos casais.

Essa noção do casamento como objetivo final dos que se amam é grave. Na verdade, ele deveria ser entendido apenas como uma das etapas da procura de um convívio rico e gratificante. Somos educados de uma forma tola. Fomos induzidos a pensar que isso aconteceria naturalmente apenas porque nos gostamos e nos casamos. Só aprendemos que não é assim depois de batermos com a cabeça na parede. Nunca é tarde, porém, para mudar. Existem casais que vivem o cotidiano e uma sexualidade ricos. Eles devem servir de exemplo e também de estímulo: se é bom e possível, devemos querer a mesma coisa para nós.


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flavio
Flávio Gikovate é um eterno amigo e colaborador do STUM.
Foi médico psicoterapeuta, pioneiro da terapia sexual no Brasil.
Conheça o Instituto de Psicoterapia de São Paulo.
Faleceu em 13 de outubro de 2016, aos 73 anos em SP.

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