No amor, escolhemos ou somos escolhidos?
por Sirley Bittú em PsicologiaAtualizado em 05/08/2005 12:55:07
Quando alguém me procura para iniciar uma psicoterapia por se sentir sozinho, ou descontente com algum aspecto de sua vida, costumo sugerir inicialmente uma “checagem” de sua vida emocional e afetiva. As perguntas “Por que estou sozinho?” “Porque não consigo encontrar alguém para mim?” Podem ser substituídas por: “O que fiz com minha vida”? “Que pessoas eu encontrei e quais eu não me permiti encontrar”? “O que estou buscando”? “Quem estou realmente buscando”? Ou mesmo: “Quero ter alguém neste momento em minha vida?”.
As escolhas que fazemos estão sempre ligadas a nossos desejos, sejam eles conscientes ou não. Se você hoje tem alguém ao seu lado que não lhe satisfaz, ou que te traz algum sofrimento, certamente esta pessoa atende alguma outra necessidade que pouco você percebe, mas que no momento é a mais importante e a mais forte.
Se você não tem ninguém ao seu lado pode ser porque de alguma forma preferiu isso; ou por medo ou por egoísmo ou por achar que ninguém é bom o suficiente, ou por algum outro motivo que nem você tem consciência ainda.
Ninguém está fadado a ficar sozinho, pois a solidão afetiva é uma escolha pessoal como a maior parte dos caminhos que tomamos em nossa vida.
É verdade! A solidão não é obra do acaso ou de falta de sorte. Você escolhe estar sozinho ou acompanhado baseado - é claro - no seu entendimento do que é melhor para você e no que vai lhe fazer sofrer ou não. Muitas pessoas entram em depressão por sentirem-se sozinhas, não escolhidas, abandonadas, pouco interessantes e na maioria das vezes elas se tornam assim mesmo, confirmando suas próprias previsões. Interagir, relacionar-se é viver; vida é emoção, é saúde, é alegria e amor.
Não existe um lugar certo para encontrar alguém especial, o que existe é a percepção do quanto você é especial e importante em sua própria vida. Estar disponível para viver a própria vida, permitir-se saboreá-la, seja de que forma for, é uma atitude que interfere e modifica a qualidade dos relacionamentos que você empreende.
Você pode ter alguém a seu lado que você nunca realmente olhou como homem ou como mulher, simplesmente por estar muito preocupada(o) com um ideal de companheiro(a), ou mesmo de namorado(a).
A pessoa perfeita não existe, porque o ser humano é genialmente imperfeito, o que faz com que as relações sejam ainda mais interessantes e excitantes. Para entender isso, basta olhar a natureza, onde a diferença e complementaridade propicia a interação das espécies e sua sobrevivência.
Nas relações dos contos de fadas a princesa precisa ser bela, ingênua e pura em seus sentimentos para, “no final da estória”, ser recompensada com um lindo, ingênuo e puro príncipe. No mundo real queremos ser felizes já! Além do mais, estas relações não se sustentariam, afinal, qual príncipe suportaria uma princesa mal-humorada, em TPM, com dor de cabeça, mimada e eternamente insatisfeita? E o inverso então? O príncipe viraria sapo rapidinho!
As relações que fazemos de forma saudável têm o caráter da troca e relacionam-se a um entendimento mais amplo desse forte sentimento humano que é o amor. Amar significa relacionar-se ao pacote completo, encantar-se com as qualidades sem negar os defeitos, ou seja, amar apesar dos defeitos.
Na relação estamos aprendendo e ensinando algo também. Dando e recebendo. Para isso é preciso primeiro saber que você tem algo a oferecer ao mundo. Sempre terá e não é necessário ser o ápice da beleza e perfeição corporal, ou um Einstein, tampouco a própria gueixa subserviente e passiva aos caprichos e desejos de alguém, para merecer ser amada(o).
Respeito próprio, amor próprio, auto-estima, autoconfiança, aceitação, determinação. São as bases para uma possibilidade de relacionamento. Veja que todos esses conceitos remetem primeiro a você próprio e depois ao outro.
A forma de buscar relações muda, mas a necessidade humana continua a mesma. O ser humano necessita se relacionar, precisa desse élan vital que a troca de experiências propicia para sobreviver, se desenvolver e se sentir feliz. Encontramo-nos então com um novo desafio: como conseguir estabelecer uma relação mais íntima mais cúmplice, baseada na confiança verdadeira e genuína?
Primeiramente comece com você mesmo, estreite as relações consigo mesmo, se conheça mais, se respeite e acima de tudo se aceite, olhe para seus medos, trabalhe-os, procure resolvê-los, valorize o que tem de bom e cuide do que te atrapalha, só assim conseguirá ser livre o suficiente para se relacionar com alguém.