O verdadeiro espírito de Natal: Generosidade e Amor
por Sirley Bittú em PsicologiaAtualizado em 23/12/2002 11:29:42
É Natal e na grande magia, que envolve esta época do ano, desperta dentro de alguns um potencial de solidariedade e compaixão, surgem as campanhas contra a fome e a miséria humana, renasce dentro de nós a esperança na humanidade e em sua generosidade.
Muitas famílias passam juntas esta noite, pessoas perdoam-se mutuamente, desentendimentos são desfeitos, compartilha-se a emoção e a alegria que envolve a história do menino Jesus e a lenda do bom velhinho, tudo gira em torno do amor. É o aval que algumas pessoas precisavam para demonstrar seu carinho e sua gratidão às pessoas que querem bem.
A figura de JESUS simboliza a capacidade humana de ser humilde, generoso, de amar, compartilhar, preocupar-se com o outro e principalmente respeitar as pessoas, independente de classe social, ou mesmo das próprias crenças.
De forma geral, fomos educados dentro de uma concepção filosófico-religiosa onde aprendemos a valorizar o ser generoso, aquele que oferece toda a sua disponibilidade e bens para o outro, sem pedir nada em troca.
Só podemos oferecer o que temos, a generosidade é uma capacidade emocional que se relaciona ao desprendimento e a autoestima.
Quando você oferece algo para alguém esperando algo em troca, isto chama-se na verdade “investimento” e, portanto, você não está dando nada; quando você oferece algo e cobra o pagamento, isto é “venda” e, desse modo, o outro tem direito de saber o que está comprando e qual o preço do produto para decidir se o quer ou não.
As relações afetivas de todo tipo, sejam familiares, amorosas, sexuais, fraternas ou quaisquer outras, tem como base o compartilhar de afetos, pensamentos, emoções, respeito mútuo e, portanto, não se trata de investimentos no sentido que coloquei anteriormente, nem de venda. É como a garota que gasta todo seu salário com um lindo presente para seu namorado e na noite de natal ele chega com um “pacotinho de bombom” e sente-se culpado por ter sido tão “mesquinho”. Na verdade, nenhum dos dois estava satisfeito e seguro da própria atitude, ela esperava algo mais “substancioso”, pelo menos mais próximo do esforço que fez para agradá-lo, enquanto deveria, na verdade, reavaliar seu modo de sentir-se passível de ser amada. Esta equação: “tenho que oferecer muito para as pessoas perceberem como eu sou legal, e obviamente ser recompensada”, são velhas companheiras conscientes ou inconscientes das pessoas que se acham generosas demais para este mundo cruel e mesquinho que não reconhece sua grandeza e generosidade. Na verdade, o centro desta questão é uma autoestima muito baixa, uma dificuldade de perceber o próprio valor.
Como isso é possível numa sociedade capitalista e competitiva como a nossa? Como sermos ‘bons” sem nos sentirmos “bobos” ou nos tornarmos tirânicos?
Aprendemos com nosso desenvolvimento pessoal, que toda relação contém em si algum tipo de troca; buscamos ser aceitos em nossa forma de estarmos no mundo, sermos compreendidos em nossos motivos e principalmente, buscamos ser felizes.
Ser BOM é diferente de ser BOBO, como também querer ser “esperto” também é diferente de ser generoso.
E qual a diferença entre essas coisas?
O diferencial está na capacidade de perceber-se e aceitar-se, de ser autêntico em suas atitudes, respeitando a si e ao outro. O bobo é aquele que na verdade não sabe do que é capaz e portanto não consegue perceber do que o outro é capaz, justamente por não ter real conhecimento da própria natureza (humana), coloca-se numa posição de total desproteção, tornando-se vulnerável. O esperto é aquele que está sempre tentando ‘levar vantagem em tudo’, mas sempre vestido de “bom moço”, ele é produto do entendimento equivocado da palavra generosidade. E, finalmente, o bom é aquele que sabe que não é bom nem mau e ao mesmo tempo é simplesmente o 'interjogo' dessas duas forças que existem dentro de nós e as quais procuramos, através de nossa maturidade emocional, aprender a manter em equilíbrio para nos relacionarmos de forma harmoniosa e feliz.
O advento da generosidade é algo maior que o poder econômico. Podemos ser generosos sem necessariamente termos dinheiro, podemos oferecer gratuitamente amor, atenção, solidariedade e principalmente respeito, aprendendo a olhar as pessoas que estão à nossa volta como seres humanos, não apenas enxergando seus defeitos, mas as suas qualidades e potenciais pessoais.
Desejo a todos um Natal generosamente fraterno e feliz.