Polaridades?!
por Luís Vasconcellos em PsicologiaAtualizado em 19/06/2000 22:24:35
Polaridades são a divisão básica da energia primordial em duas facetas de si mesma. Apareceu na natureza desde sua estruturação e formação materializando-se em milhares e milhares de "formas complementares" como macho e fêmea, dia e noite, ativo e passivo, elétrico e magnético, simpatia e antipatia, estimulação e sedação, ação e reação, agressão e inibição, caçador e caça, coragem e medo, enfrentamento e fuga, atividade e inércia, pra fora e para dentro, interior e exterior, aberto e fechado, yin e yang, luz e sombra, consciente e inconsciente, eu e os outros, sujeito e objeto, e assim por diante.
A quebra no par de opostos ! Esse é o dado cultural e civilizatório mais importante na diferenciação do homem face aos animais: tornamo-nos capazes de "conhecer a Árvore do Bem e do Mal", tornamo-nos capazes de co-nhecer a nós mesmos e ao mundo que nos rodeia, tornamo-nos peque-nos deuses ( e/ou demônios ), cada qual capaz de criar para si mesmo o mundo em que vive, ou de recriar, através de um ato de percepção e de "interpretação" o seu próprio habitat, suas formas, suas concepções, suas fantasias, suas obras, suas realizações.
Neste ato de natureza divina, perdemos a noção de que, o que vemos, do modo como o vemos ( do modo ao mesmo tempo particular e herdado em que cada qual o percebe) é fruto de nossa "interpretação pessoal ( e coletiva )" do dado real percebido. Nossa percepção é historicamente determinada, resultando da acumulação de séculos e séculos de contribuições de natureza cultural, racial e familiar. Ela é educada e treinada para "interpretar" de formas prescritas o que somos - assim como aos outros, aos objetos, situações etc. Somos sugestionados a acreditar em uma espécie de fofoca muito bem fundamentada a respeito de nós mesmos e do mundo. De uma maneira inconsciente limitamo-nos a repetir o que nos é ensinado e percebemos tudo e todos dentro de uma ótica ao mesmo tempo sentida como pessoal e própria, assim como coletiva e social. Não nos apercebemos de que estamos e somos unipolarizados, não nos damos conta do prejuízo de sê-lo, tornamo-nos egocentrados, específicos, singulares, com todo o universo perceptu-al organizado dentro de nosso ponto-de-vista aparentemente pessoal e particular. Temos assim explicações convenientes para tudo e sentimo-nos racionais, lógicos, inteligentes e coerentes enquanto agimos, pensamos e interpretamos tudo e todos sob nossa ótica pessoal / coletiva. Banimos de nossas controladas e disciplinadas vidas a dúvida, a perplexidade, a aventura perante o Desconhecido.
Para completar nosso transe esquecemos de confrontar conti-nuamente nossas diletas concepções com a REALIDADE VIVIDA e as-sim, não nos damos conta de que o TODO à nossa volta não está no compromisso de se submeter às nossas muito PARTICULARES necessidades e limites, sequer nos damos conta de que os outros, as si-tuações, o acaso e o destino - e porque não dizer o Universo - não foi avisado de que ele deva comportar-se direitinho para que não nos sintamos desadaptados, não nos sintamos em conflito com seus sig-nificados e experiências possíveis ou imagináveis. Quanto a isto vale a afirmativa:
Se a sua teoria ou modelo explicativo não é capaz de representar a totalidade das experiências e possibilidades da vida, então... dane-se a teoria !
Em assim não sendo, esforçamo-nos para estreitar o nosso universo de experiência, reduzindo-o a alguma coisa menor, mais pessoal, mais controlável e manipulável, e sobretudo, procuramos manipular e controlar tudo e todos para conter nosso medo e nos proteger contra o Des-conhecido, o Amplo, o Inconsciente. Enrijecemo-nos , contristamos nossos músculos, fechamo-nos no "mundinho familiar" que conseguimos englobar neste esforço, contentamo-nos ou nos frustramos com nossa criação, ficamos satisfeitos por ter conseguido o nosso intento (reduzir o incomensurável a algo manipulável) e, por outro lado, choramos a liberdade perdida: a aventura e a magia da visão primordial !