Por que a obsessão em destruir a vida do outro após a separação?
por Silvia Malamud em PsicologiaAtualizado em 08/04/2020 11:35:08
No início, tudo vai às mil maravilhas. A sensação é a do encontro sonhado, da realização de algo prometido juntamente com a magia do inesperado. Tempos depois, porém, no desgaste da relação, o que reina são os sentimentos de ódio, de mágoas sem fim. O desejo é de vingança ilimitada, sendo que este vai preenchendo espaços onde antes um mais um somavam-se dois. A meta de agora se transforma na antítese de tudo o que já se viveu com o parceiro escolhido e as ações passam a ser literalmente direcionadas para destruir a todo custo a vida daquele que um dia já foi o suposto amor... Como pode?
Quando namoro, casamento ou algum tipo de envolvimento se rompe, exemplos desta ordem é o que não faltam. Como entender os motivos e os porquês disso ocorrer com muito mais frequência do que se imagina? E se você acaso estiver envolvido nesse tipo de situação, de que forma poderia se proteger dos maus presságios saindo dessa, no mínimo, fortalecido?
A pergunta que fica é, para onde teriam ido todos aqueles bons sentimentos e se eles foram apenas ilusão ou quem sabe alguma brincadeira de mau gosto?
Veremos os dois lados da moeda. No início de qualquer relacionamento, é claro que ambas as partes projetam um no outro os seus melhores sentimentos a fim de que, inclusive, o relacionamento dê certo. Com o passar do tempo, porém, às vezes parece que as coisas que antes eram boas se transformam exatamente no oposto.
Normalmente, o que se projeta no outro costumam ser os nossos ideais, nossas mais profundas carências, nossos desejos mais secretos. O grande problema é que a maioria não é autoconsciente nem da metade de tais desejos e ideais. Além de tudo isso, relacionamento a dois é campo fértil para que inclusive se projete no outro os aspectos mais sombrios e menos iluminados de cada um. Como consequência decretada, como dizem por aí, uma hora a casa cai, ou seja, tudo o que você menos gosta em si mesmo ficará evidenciado por meio de uma lente distorcida de realidade na pessoa da sua escolha afetiva. E o seu amor escolhido, este estranho que agora se apresenta a você, é e sempre será o seu pior inimigo enquanto você de algum modo temer reconhecer e transformar aspectos obscuros em si mesmo. O perigo insistirá em persegui-lo enquanto você não encarar frente a frente o seu pior inimigo, o seu aspecto de sombra.
Todos nós corremos risco de passar por experiências de vida passíveis de serem espelhos reversos das nossas raivas mais profundas, das nossas carências e insanidades. Exemplo, ao querer e mesmo entender que necessita ser amado mais do que tudo nessa vida, pode ser que lá na frente o seu parceiro o rejeite e, pior, espelhe na sua cara as suas maiores carências e complexos em relação ao tema...
Costumo contar para os meus pacientes um exemplo que, na verdade, também funciona como antídoto valioso para começar a busca de alvos internos e metas claras para transformação radical dentro deste assustador circuito de realidade: começo por perguntar se tem conhecimento de que algumas pessoas são passíveis de serem totalmente picadas por pernilongos, enquanto que outras podem estar junto das mesmas e não sofrerem uma picada sequer. Por que será que alguns são imunes e outros não? Dizem que as pessoas imunes aos ataques dos pernilongos tem quantidade de vitaminas do complexo B que os fazem passar longe delas. Como analogia, o processo terapêutico vai pela mesma ordem, ajudando na imunização com uma espécie de complexo B emocional. No caso de passar por obsessão em destruir a vida do outro depois do término de uma relação, a consequência é mais danosa do que picadas de pernilongo. A proposta, portanto, é a do autoconhecimento e o da iluminação de aspectos antes não visíveis. Onde não existe presença, o terreno é fértil para toda sorte de depósito emocional que vem do outro.
O antídoto é o de ocupar a si mesmo de modo saudável tratando devidamente a urgência dos acontecimentos, com terapia competente, pontual e de alvo no que antes não teve condições e suporte para vir à tona.
Preencher a si mesmo com o seu melhor significa se iluminar em segurança pessoal e autoestima alavancando mecanismos de sobrevivência maduros associados aos recursos que foram estruturados ao longo da vida. Não precisando projetar em nada e em ninguém o que falta, o que se odeia e muito menos o que se persegue. Entender definitiva e absolutamente que ninguém é -nem jamais será- muleta de ninguém. E se acaso por algum tempo for, cuidado, tudo tem um preço e às vezes custa caro demais.
Passar por processo terapêutico, a meu ver é e sempre será um caminho especial de transformação e de transcendência posto que ajuda a iluminar do melhor modo a nossa vida em geral.
O antídoto: buscar rapidamente ferramentas para que a sua transformação pessoal ocorra e na sequência fazer acontecer. Estar imune e fortalecido para lidar com esse tipo de situação agressiva e se habilitar a ter competências para se for o caso, tomar atitudes mais drásticas no sentido da autoproteção. O importante é agir com bom senso visando a sua saúde emocional.