Reflexões sobre a ação das Polaridades Psíquicas
por Luís Vasconcellos em PsicologiaAtualizado em 31/07/2000 13:07:20
Polaridades são a divisão básica da energia primordial em duas facetas de si mesma. Apareceu na natureza desde sua estruturação e formação materializando-se em milhares e milhares de "formas complementares" como macho e fêmea, dia e noite, ativo e passivo, elétrico e magnético, simpatia e antipatia, estimulação e sedação, ação e reação, agressão e inibição, caçador e caça, coragem e medo, enfrentamento e fuga, atividade e inércia, pra fora e para dentro, interior e exterior, aberto e fechado, yin e yang, luz e sombra, consciente e inconsciente, eu e os outros, sujeito e objeto, e assim por diante.
Pode-se dizer que toda a estrutura de nosso mundo material é bi-polar. Os orientais chamavam à maneira uni-polar de percepção do mundo que usa-mos, de "ilusão", de "campo das mil formas de perdição", de Maia. Tendemos a sentir, agir e pensar de forma unipolarizada, identificando-nos com uma metade da totalidade e negando a outra. Nossa história de ser, de pensar , de sentir e de agir é unidimensional. Aceitamos e amamos aquilo com o que estamos IDEN-TIFICADOS e APEGADOS, vice-versa RENEGAMOS e DESGOSTAMOS tudo aquilo que, reprimido e negado em nós mesmos, acaba constituindo nossa SOMBRA PSICOLÓGICA.. Cada EGO enclausurado em sua campânula de auto-reflexão não atinge a realidade da presença e da significação do OUTRO, alienando-o em causa própria. Deste modo, o OUTRO, nunca tem razão, nunca merece respeito, nem tem qualquer valor ou significação real para o EU. Dar razão, concordar, baixar a guarda, submeter-se ou dar o braço a torcer são comportamentos inadmissíveis para algu-mas pessoas, enclausuradas em suas campânulas de auto-reflexão narcisística. O que fica e prevalece sobretudo para estas é o medo, a insegurança, o temor de entregar-se e vir a sofrer por este motivo. Em nossa experiência de vida, sem dúvida há muitos exemplos e casos em que alguma pessoa nos traiu, nos deixou na mão, levou todo o dinheiro, falou o que não aconteceu, deu falso testemunho e assim por diante. Fazer dessas evidências um único e totalitário critério de avaliação e de percepção de todos os outros é problema de quem assim sente, age e faz... e não do mundo, ainda que a experiência corrobore a necessidade de resguardo contra o OUTRO. Não tememos necessariamente o novo ou o desconhecido, mas a repetição de sofrimentos experimentados no passado.
Faz-se hoje em dia extremamente necessário demonstrar que no mais das vezes é um MECANISMO que TEM SUAS PRÓPRIAS LEIS aquele que comanda nossos atos, sentimentos, valores, opiniões etc. (em termos de polaridades), nas interações de paixão, de amor, de simpatia - mas também nas antipatias, ódios ou negações - MECANISMO INCONSCI-ENTE que, enquanto tal, nos domina.
Nossa única chance de influir sobre este MECANISMO é conseguir a maior consciência possível de sua ação, para podermos agir em suas etapas e ajudar a definir os seus resultados.
Precisamos exercitar a consciência para poder perceber quando se instala o robô em nossos atos, quando ele assume o controle de nossas res-postas e reações ao meio e a maneira como nossos atos tornam-se "adaptativos" e "naturais", o que quer dizer automáticos / inconscientes. Exemplo disso em RELACIONAMENTOS é o diálogo de surdos, as brigas que sempre têm previsíveis começos, rotineiros modos de se desenrolar e finais conhecidos de todos; de tal forma que fica evidente - para quem cumpre um papel no conflito - que "tudo se repete e nada leva a solução alguma".
Hoje é premente a necessidade de percebermos a ação dos PERSONAGENS que assumimos em nossas interações homem / mulher, na profissão, no local de trabalho, na família e assim por diante. Além de perceber é imprescindível dar uma nota pessoal aos mesmos, para que não sejamos vítimas do processo inconsciente de submissão aos PER-SONAGENS socialmente PRESCRITOS ou ADQUIRIDOS, com a conseqüente repressão da INDIVIDUALIDADE.Cada pessoa quando se define como um EU, acolhe e reúne de modo mais ou menos particular um conjunto considerável de IPEs ( Identificações Parciais do Ego - quebra do par de opostos ). Depois, com o "auxílio inestimável" da família e da cultura, a pessoa é levada a identificar-se com um conjunto "particular" de IPEs ( que configuram seu grupo, seu país, sua raça etc.) e também é guindada a repetir e a responsabilizar-se pela continuidade de seu funcionamento dentro das IPEs que constelou em seu EU. A este especial e quase particular conjunto de IPEs, damos o nome de EGO CONSCIENTE, apesar dele abarcar uma perímetro mais ou menos abrangente de camadas inconscientes (o INCONSCIENTE PESSOAL), facilmente identificáveis por respostas emocionais repetitivas frente a estímulos ou situações semelhantes, afetos que sempre "engolem" o EU e se mostram "dominantes da percepção e do estado emocional reinante", suposições quanto ao mundo, pressentimentos conscientemente projetados, medos inexplicáveis ou injustificados etc. Não é necessário perder muito tempo em demonstrar a eficácia e a realidade destas camadas do INCONSCIENTE PESSOAL. O que importa, em termos funcionais, ao EGO CONSCIENTE é considerar que o mesmo se apropria de categorias e preceitos de natureza coletiva, amalgamando de forma mais ou menos coerente os valores e percepções adquiridos pela sua própria experiência, identifi-cando-se e apegando-se àquilo que "faça sentido" - maior ou menor, aos seus olhos e, ao mesmo tempo, para sua maior segurança, buscando encontrar maneiras de justificar / julgar / explicar sua "coerência" no correspondente conjunto de crenças e de valores cultural / individualmente adquiridos. Modernamente faz-se, mais que nunca, necessária a consciência de que o número de PAR-TES ( Peculiaridades, especializações, idiossincrasias, manias, obsessões etc.) cresceu em maior proporção do que a capacidade de um indivíduo integra-las em TODOS SIGNIFICATIVOS. Há uma interdependência e uma correspondência entre os papeis sociais estabelecidos. O Algoz "pressupõe" uma Vítima, O Mestre um Discípulo, o Poderoso um Impotente ... Sendo este um dos exemplos mais identificáveis da ação inconsciente das POLARIDADES em nossas vidas de relação.
A repressão e supressão dos sentimentos faz com que hoje tenhamos uma completa e perigosa deterio-ração dos vínculos conjugais, da amizade, da lealdade, das liga-ções de fé ( não fanáticas - não devotas ), das comunhões de ideais e assim por diante. Na ausência da função SENTIMENTO temos como conseqüência a "solidão no meio da multidão", com as pessoas isoladas umas das outras, sem nada para comungar, sem sentir apoio ou consideração uns pelos outros. Outra conseqüência bastante comum é a perda do sentido de privacidade e a repressão / negação da experiência profunda da intimidade ou do segredo, dentro do âmbito individual. Chamamos a este processo de ATOMIZAÇÃO do HOMEM, na medida em que os "átomos" deixem de se sentir per-tencentes às moléculas e se vejam soltos no espaço sem seus naturais pontos de referência emocional (Cônjuge, amizades, família, companheiros).
Para tanto são exigidas muitas informações sobre POLARIDADES, erguendo pontes entre um EU e o OUTRO EU, conscientizando Pa-péis e Personagens, percebendo e acompanhando a dinâmica da repressão aos Instintos com a conseqüente perda da graça e da espontaneidade.
É de suma importância poder descrever e entender os mecanismos inconscientes que estão na base da experiência de relação.