Rompendo hábitos que nos prejudicam
por Silvia Malamud em PsicologiaAtualizado em 26/03/2023 18:55:30
Quando estamos no controle das nossas decisões de vida parece que tudo flui do modo como deveria ser, o problema é que muitas vezes nos deparamos com situações repetitivas que geram angústia e a sensação que fica é a de que não temos o menor poder para mudar essas tais realidades indesejáveis.
O modo como nos comportamos em família, com amigos e na afetividade revela bastante sobre esse tema. Como comemos, se fazemos exercícios físicos ou não, como lidamos com dinheiro e com outros inúmeros assuntos também fazem parte desses padrões repetitivos que muitas vezes fogem do nosso controle.
Ocorre que desde muito cedo, quando aprendemos a lidar com determinados temas que nos perturbavam, nossos cérebros automaticamente passaram a funcionar num padrão de sobrevivência em nome de resolver tais dificuldades.
Nossos sistemas aprendem, desde a mais tenra idade, os mais diversos mecanismos para darmos conta de tudo que de algum modo nos aflige.
Com o tempo, depois de alguns aprendizados, ao primeiro sinal de perigo, instantaneamente a nossa máquina cerebral escaneia e escolhe, em seus arquivos, ações que entende serem mais adequadas em prol da nossa segurança pessoal.
Num segundo momento, porém, na sequência da vida, o cérebro passa a funcionar como um programa de computador que gira no modo automático e não mais necessita entrar em contato com algo que lhe sugere algum tipo de perigo, pois aprendeu a funcionar de modo rotineiro dentro dos padrões de sobrevivência aprendidos sabe-se lá quando...
Acontece que a vida em si traz inúmeras outras informações e possibilidades existenciais que acabam sendo afetadas em qualidade por conta desse sistema funcionar por meio de um filtro perceptivo e numa espécie de piloto automático.
Além de tudo, sabe-se que um hábito de funcionamento aprendido gera uma série de recompensas que sugerem sobrevivência.
Vamos a um exemplo, um recorte de um caso que aconteceu com um dos meus pacientes e que evidencia um hábito de funcionamento repetitivo indesejável: se eu concordar e "entender" tudo o que me impõem, então, eu não corro o risco de perder as pessoas, então, entendo que não serei abandonado no sentido mais profundo da experiência humana. Esse pensamento/decreto surgiu por conta de determinada experiência difícil ocorrida num tempo distante, onde essa foi a melhor resolução encontrada na época. O que pode acontecer nesse tipo de situação é a conquista de uma realidade restritiva onde se consegue ter pessoas ao redor e onde não se é abandonado. Com o passar do tempo, porém, a pessoa da ação pode se sentir abusada e corrompida no que faz real sentido para si mesma e que provavelmente está muito além do fato de ter que concordar cegamente com o outro. Como consequência, a falência do eu fatalmente acabará por acontecer cedendo lugar à tristeza e à depressão como ordem do dia.
E essa será a hora de ir ao "mecânico". O momento-chave para buscar ajuda terapêutica. Oportunidade de se reeditar, de entrar em contato com a dor do passado que deu início ao tamanho dos conflitos que afetam o presente. Costumo dizer que é o tempo de se fazer uma viagem àquela casa antes enorme para que depois de reprocessar os conteúdos poder vê-la em sua real dimensão. É como quando revistamos um lugar distante depois que crescemos e vamos até ele cheios de recursos adquiridos ao longo da vida. Deste modo, podemos voltar a lugares e ambientes emocionais, antes difíceis, reprogramando e atualizando nosso software, ou seja, nossos tamanhos e potências!