Saúde emocional e psicodrama
por Sirley Bittú em PsicologiaAtualizado em 26/08/2002 11:41:32
Conviver não é fácil. Relacionar-se é uma arte.
O ser humano é um ser social. Estamos em relação todo o tempo; somos filhos, pais, irmãos, funcionários, chefes, amigos, esposas, maridos, namorados, amantes... enfim, desempenhamos vários papéis em nossa vida, e nem sempre estamos preparados para eles.
As relações que propomos, a forma como o fazemos, as pessoas com quem nos envolvemos; contam um pouco de nós, de nossas escolhas durante a vida.
São as nossas buscas que promovem nossas escolhas, que as direcionam, portanto entendê-las é criar possibilidades de viver melhor e com mais qualidade de vida.
PSICOTERAPIA é um espaço que nos reservamos para compreender as próprias alegrias e as
próprias dores, os próprios limites e descobrir as próprias potencialidades conscientizando-se de nossas responsabilidades sobre tudo isso.
Trata-se de uma "brecha" que criamos na nossa vida corrida e atribulada, para cuidar de nossas emoções, para crescer e transformar a própria vida. O terapeuta tem como compromisso iluminar esta busca, facilitando a visão dos caminhos possíveis.
O PSICODRAMA é uma teoria baseada no entendimento de que saúde e doença se dá nas relações que propomos. Surgiu na década de 20, numa época em que a sociedade valorizava o inconsciente, vivendo a divulgação das idéias de Freud.
Jacob Levy Moreno, criador do PSICODRAMA, acreditava no amor e no compartilhar mútuo como base para a vida e para as relações em grupo. Moreno nasceu na Romênia em 1886, era judeu, fez medicina em Viena e especializou-se em psiquiatria.
Todo o corpo teórico que desenvolveu baseava-se no pressuposto que nascemos totalmente criativos e espontâneos e à medida que vamos nos desenvolvendo, a cultura, e com ela as regras estabelecidas socialmente, vão tolhendo esse nosso tesouro natural e nos moldando.
Toda sua Teoria do desenvolvimento é voltada para a liberação de nossa capacidade espontânea e criativa imprescindível para nossa saúde emocional.
Somos o resultado de nossa história, contudo, recebemos influencia e influenciamos todo o tempo. Cada pessoa saudável, feliz, em plena capacidade de exercer sua autonomia, fazer escolhas, ser genuína, transforma-se num agente espontâneo capaz de difundir essa chama da saúde interna nas muitas pessoas com as quais se relaciona.
Moreno acreditava que devíamos fazer o bem, amar e compartilhar nossas experiências. Acreditava na centelha divina que existe em cada um de nós.
No início de sua carreira, ele não costumava assinar suas obras, trabalhava no anonimato. Era um homem carismático e generoso, ficou conhecido como “Doutor do Povo” por atender gratuitamente. Ainda jovem Moreno fundou uma espécie de movimento espiritual que se chamou de “Religião do Encontro”, um Teatro e uma revista próprios, e no ápice de sua carreira possuía um hospital psiquiátrico - onde atendia gratuitamente - uma escola e uma editora. Mantinha essas instituições através de doações feitas na maior parte por pessoas que ele havia atendido, parentes e amigos.
Fundou na década de 20 o Teatro da Espontaneidade; acreditava que os atores deviam representar a si mesmos e não a personagens, defendia a total imaginação e criatividade. Este teatro evoluiu para o Teatro Terapêutico, no momento em que Moreno percebeu que os atores que representavam seus próprios conflitos lidavam melhor com seus problemas pessoais, conseguiam aprender novas formas de lidar com velhos problemas.
Moreno queria trazer alegria, leveza e criatividade aos métodos psicoterapeuticos e certamente conseguiu. Sua idéias difundiram-se no mundo todo e tornaram-se a base das terapias de grupo.
Hoje temos só no Brasil cerca de 5.000 Psicodramatistas, segundo a Federação Brasileira de Psicodrama FEBRAP, desempenhando seus papeis nas organizações, nas escolas, nas clinicas e nas instituições, com um objetivo claro: a busca da saúde emocional e relacional tão necessária para a convivência humana.