Seqüestradores de Almas
por Silvia Malamud em PsicologiaAtualizado em 07/04/2010 16:15:38
E quando os seqüestradores de almas são os nossos familiares mais próximos? O que move um seqüestrador de alma?
Identifique se é isto que ocorre com você:
Existe clima de sedução subliminar permanente, mesmo quando a teia do seqüestrador já está instalada. A vítima encontra-se enredada num aprisionamento onde o código relacional inclui “amor”, necessidade de devoção e sentimentos de culpa, todos evidenciados na constante tentativa de sempre acertar.
A tática do seqüestrador, porém, é a de sempre informar de nunca se alcança o esperado e mesmo de ignorar tentativas feitas.
A vítima desta forma ora sente-se devedora, ora totalmente ignorada e desqualificada em seus intentos. O possível desenvolvimento de sentimentos saudáveis como raiva e indignação são, freqüentemente, dissolvidos por táticas habilidosas cujos objetivos são dissolução e despersonalização.
A situação fica, de fato, preocupante quando o protagonista desse cenário de horror é um ou mesmo ambos os pais, associados.
Sobre o funcionamento emocional dos seqüestradores e possíveis causas para essa violência:
São pessoas jamais nutridas suficientemente pelo amor do outro. Pessoas que costumam desviar a falta, o sentimento de completude e saciedade para caminho de prazer frio ao instaurarem esse padrão de sentimentos no outro. Negam a própria dor e sofrimento emocionais projetando isso na vítima e esta acaba sendo a evidência de sua falta e, por isso mesmo, existe ódio e desprezo subliminar por este que nunca faz a coisa certa. E a vítima se sente sempre devedora com necessidade da comprovação do afeto que nunca virá. A vítima acaba se tornando os raios-X emocional, daquilo que ocorre no íntimo do seqüestrador. Dor emocional não explicitada para o agressor, aparentemente sem solução, e fica sendo vingada ininterruptamente no outro, que funciona sendo, um aspecto de si mesmo.
O seqüestrador, por não ter condições emocionais de lidar com importantes questões que o frustraram, projeta no outro a sua vingança pessoal inconsciente.
Na verdade, estes também são vítimas macabras de si mesmo e ao contrário do suposto, não são livres e talvez jamais o serão. Estão cegamente impulsionados a funcionar de modo perverso jamais, sentindo-se satisfeitos. Profundo sentimento de angustia e insatisfação nunca resolvidos é a matriz essencial desses, sendo os mais comprometidos num sistema defensivo e cego, ficando a quilômetros de distancia das angustias geradoras desse padrão de atitude. São, assim, mais frágeis, porem, mais perigosos, posto que jamais entram em contato com o que os move. Toda insatisfação, angústia e sofrimentos transformam-se em tirania cega. Percebem a realidade e para conseguirem se nutrirem das suas faltas, por mais inconscientes que sejam, sabem da necessidade do outro. Especializam-se em entender tipos emocionais e suas carências e é aí que, literalmente, “deitam e rolam”.
Todas as situações desse tipo de atuação são terrivelmente destruidoras.
Imaginem pais que abusam de filhos quando estes precisam de todo suporte e continente para ser pessoas, esses os transformam, exatamente, naquilo que eles próprios são intimamente e num prazer distorcido, queixam-se eternamente destes. Anulam todos possíveis desejos, roubando da criança em desenvolvimento valores a serem construídos. Assassinato psicológico nem sempre denunciável e de difícil detecção. Isso pode ser evidenciado quando tudo o que a criança faz está errado ou perturba. Os seqüestradores dificultam a faculdade do livre pensar e do discernimento.
No futuro, essas vítimas podem revelar-se como novos seqüestradores ou por não saberem se manter, atraem novos seqüestradores e podem, efetivamente, destruir a si mesmas por meio de doenças psicossomáticas ou mesmo atraindo seus parceiros para essa prática, ou ainda, desenvolvendo nos filhos a continuidade deste tipo de relação adoecida. Isso pela necessidade real de ter um outro para pensar sobre si mesmo. Note que esse tipo de vivencia está longe de ser co-dependência, porque nesse tipo de relação, o final costuma ser trágico se não se busca algum tipo de ajuda externa. O seqüestrador é movido por hostilidade a outrem onde o pano de fundo é desejo de vingança dissimulado em si mesmo experiências traumáticas da infância vivenciadas de modo passivo. No adulto atuado como triunfo sobre a sua presa em infinita repetição de ações destruidoras do psiquismo alheio. A leitura é a do fracasso deste intento se for explicito, mas do triunfo, se for camuflado pelo vértice da sedução e da complexidade de ações de violência dissimulada.
As únicas vezes que a coerência macabra desaparece do seqüestrador é quando as vitimas acordam e se rebelam e, definitivamente, defendem-se dos ataques. Os seqüestradores de alma se bem observados, atuam por meio de rituais definidos de sedução, desqualificação e despersonalização do outro. Para um bom observador, depois de desvendada a atuação, embora possa adquirir requintes mais violentos, fica medíocre, mas nunca deixa de ser perigosa em amplo espectro.
Este tipo de situação também não é incomum ocorrer entre irmãos e costuma ser tão danosa e perigosa como entre cônjuges e de pais para filhos.
Como pode ficar a personalidade dessas vítimas:
Para o seqüestrador, esse outro tem status de coisa e não de pessoa e por este mesmo motivo uma estadia por demais prolongada com esses seqüestradores pode levar a vítima a ter depressões severas, paralisia do fazer e até mesmo desistir de tudo o que significa vida, pelo simples fato de não se sentir capaz para mais nada.
O que fazer para sair deste enredamento e que tipo de encaminhamento que se pode dar a vida:
Como já foi dito anteriormente, busca por ajuda terapêutica, de amigos ou de alguma convicção religiosa é preciosa.
Tenha em mente que seus sentimentos de que nada está bem devem ser levado extremamente a sério, principalmente porque na maioria dos momentos , se não em todos, você será seu único farol de luz acesa, pois a detecção deste status é dificílima de se capturar e os de fora são os que menos percebem a situação dramática vivenciada.
Ao contrário do que se costuma acontecer, quando todos de fora percebem atitudes hostis, maus tratos, etc, nesta situação o comum é que de fora nada se percebe e, se você não estiver muito atento, é provável que seja denunciado como insano, ou mesmo como “mal-agradecido” em meio a “tantas coisas boas” que o relacionamento aparentemente proporciona. No caso de filhos e pais, o mais comum de se ouvir é:
- Eles são seus pais e só querem o seu bem. O que é fato, mas que fica sendo um paradoxo quando coexiste este tipo de doença emocional.
Fique atento e leve a sério o que sente. Vá à luta, observe e pesquise se de modo mais objetivo possível. E antes e primeiro de tudo: AME-SE.