Será que o seu filho é um Narcisista Perverso?
por Silvia Malamud em PsicologiaAtualizado em 08/04/2020 11:35:21
Exemplos de filhos prepotentes, com excesso de exigências para com os pais é o que não faltam nos dias de hoje. Muitos se acham merecedores do céu na Terra e imaginam que os genitores têm obrigação de satisfazê-los.
Já ouvi relatos de pais que tiveram suas casas literalmente destruídas durante os episódios de fúrias de tais jovens.
Certa vez um casal veio ao meu consultório extremamente abatido e dentre várias de suas queixas, assustados e sem saber como agirem, deram esse breve relato de exemplo sobre como o filho se manifestava: "Ele exigia que todos os dias tivesse água de coco pura em casa e que esta ainda deveria ser comprada de um determinado vendedor ambulante das redondezas".
Naquele dia, porém, por não conseguirem encontrar o tal vendedor, decidiram passar pelo mercado para ao menos comprarem a água de coco de caixinha. Quando o filho a encontrou na cozinha, ficou tão bravo que começou a jogar violentamente nos pais tudo o que via pela frente, ainda empurrando-os a ponto de fazê-los caírem no chão enquanto que estes desesperadamente tentavam acalmar o filho. Esses pais estavam bastante fragilizados e sem saber como poderiam reverter a situação que estava armada. Tinham medo do filho. Revelam que desde cedo, sempre faziam de tudo para satisfazê-lo e que ambos sofriam só de imaginar que o seu rebento poderia passar por algum tipo de aperto.
Nas vezes em que o filho se machucava, tentavam distrai-lo cantando músicas ou envolvendo-o em alguma história que desviasse a sua atenção tanto da dor, como do fato ocorrido.
Outra mãe contou que o filho resolveu fazer uma faculdade longe de casa e que ela alugou um quarto para o mesmo, mas ele não aceitou fazendo um enorme escândalo exigindo que alugassem um apartamento completo.
A maioria dos pais que sofrem com filhos desse tipo acabam ficando reféns dos mesmos e chegam ao consultório com histórias educacionais semelhantes. Contam que tiveram pais austeros, onde normas e regras eram por demais autoritárias e que fizeram de tudo para criar os filhos de modo bem diferente do que passaram, ou seja, mais livres. Os fatos expostos sugerem que se perderam no que poderia significar uma autoridade saudável. Um tema difícil e bastante controverso onde muitos pais costumam pecar. Outros falam que tiveram que trabalhar demais e que deram tudo o que o filho precisava, mas talvez tenham falhado em estar emocionalmente presentes e conectados com real empatia, o que inauguraria uma visão apropriada de limites onde o si mesmo existe, mas o outro também é importante, existindo na mesmíssima medida.
Ao contrário dos pais narcisistas perversos, estes não buscam diminuir as percepções e a vida dos próprios filhos, ao contrário, impreterivelmente hiper valorizam tudo o que fazem, criando seres que se auto-observam como especiais e mais importantes do que a maioria. Um desenvolvimento adoecido da autoestima exacerbada que resulta nos comportamentos narcisistas negativos.
Em nome de bem cuidarem dos filhos, pelo excesso de zelo e proteção contra possíveis frustrações, arrumam "jeitos" deles se darem "bem" a qualquer custo. Com isso, acabam por desenvolver filhos narcisistas, desconectados de si mesmos e dos outros.
Como reverso da moeda, o eu deles acaba não se completando porque não existe espaço para que estruturas eficientes sejam sedimentadas. Como consequência, a autoestima legítima também não consegue ser dinamizada.
Com isso, algumas falhas graves de autopercepção acabam ocorrendo nesses filhos: Como são frágeis e desenvolveram poucos recursos, para eles é praticamente impensável ouvirem uma crítica sequer. Tem dificuldades severas de fazerem reflexões sobre si mesmos em nome de melhorarem em algum ponto. Esse é o pano de fundo emocional que aparece enquanto que na superfície costumam demonstrar um ar de superioridade impecável.
Não sabem lidar com as dificuldades da vida e muitos nem continuam o que se propõem a fazer por conta do que pode vir. Funcionam na maior parte do tempo exigindo dos outros autoafirmação sobre como eles são bons e capazes. Facilmente ficam abatidos frente ao menor tropeço ou mesmo na possibilidade de algo ocorrer nesse sentido. Alguns ficam furiosos quando as coisas não saem como imaginam que deveria ser. Ficam melindrados quando outros mostram poder ser melhor que eles mesmos e a todo custo tentam destruí-los ou desistem do que estavam fazendo dando-se facilmente por vencidos criticando e as vezes sentindo-se perseguidos por serem tão especiais.
Quando os pais percebem dificuldades de relacionamento com os filhos nessa amplitude e quando têm consciência de que algo vai muito errado no desenvolvimento deles, cabe um processo terapêutico individual para com o filho. O quanto mais cedo, mais chances de autorresgate acontece. Nessas ocasiões é importante que pais e irmãos também possam fazer terapia.
Quanto mais despertos, melhor!