Sexo e Amor no século XXI
por Flávio Gikovate em PsicologiaAtualizado em 26/08/2002 12:03:58
Ando entusiasmado com o que vem acontecendo e com as perspectivas que estão se abrindo para a vida afetiva e sexual, assunto central do meu trabalho desde 1976. Os jovens são os que têm nos mostrado os fatos novos de forma mais clara. Foram eles que inventaram o ficar, a troca de carícias sem compromisso com um parceiro momentâneo. Compreendem que o amor é algo completamente diferente do sexo e se sentem muito bem com isso. O amor corresponde à agradável sensação de paz e aconchego que nos preenche quando estamos na presença daquela pessoa muito especial e bem definida - a mãe, o amigo chegado, a namorada querida. Distinguem, sem dificuldade, a ternura típica desses casos do jogo erótico e da excitação sexual.
Não devemos subestimar a importância do ficar. Os adolescentes se entretêm com práticas sexuais descompromissadas que antes somente ocorriam entre crianças. Os rapazes têm uma oportunidade extraordinária de conhecer as manifestações de suas parceiras e vice-versa. Aprendem a lidar melhor consigo mesmos e também a se relacionar com o outro sexo. (Por que temos usado a expressão "sexo oposto"?!)
Presenciamos a diminuição das tensões que sempre existiram entre os sexos. Elas eram geradoras da raiva, inevitável quando as diferenças são muito grandes e evidentes. A associação entre o sexo e agressividade, base da tradicional guerra entre homens e mulheres, está se dissipando. Estamos presenciando o nascimento de um ambiente verdadeiramente unissex, uma forma de ser na qual nem os homens irão imitar o modo tradicional feminino nem as mulheres serão parecidas com os homens.
O individualismo, que cresceu em decorrência do avanço tecnológico, determinou o fim do amor romântico, em que cada um de nós é uma metade e só se completa com o encontro da outra. Uma análise superficial parece indicar que essa mudança é negativa, que estaremos mais sozinhos e desamparados. Não é como tenho pensado: ao nos conscientizarmos de que somos inteiros e não metades, ampliamos muito a liberdade individual. Vamos aprender a estabelecer relacionamentos em que o respeito pelas diferenças substituirá a antiga idéia de que é necessário fazer concessões para que a vida em comum não se destrua. O respeito mútuo diminuirá a possessividade e o excesso de direitos, que os amantes sempre julgaram ter sobre os amados. Estaremos criando um novo modo de amar, baseado em sinceridade, respeito, afinidades e genuína igualdade entre os sexos. Tenho chamado esse amor de mais amor, mais do que amor.
As novas vivências sexuais permitem a fim da hostilidade entre os sexos, e isso facilita ainda mais o estabelecimento desse modo de amar. Uma boa relação amorosa cria ótimas condições para um convívio sexual mais rico ainda. Penso que homens e mulheres serão, pela primeira vez, grandes parceiros no século que se inicia. Apenas um alerta: quem quiser usufruir de tudo isso terá que crescer muito interiormente e não deverá descuidar da indispensável e exigente tarefa de aprimorar ao máximo o autoconhecimento.