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Somos compostos de Polaridades

por Luís Vasconcellos em Psicologia
Atualizado em 08/04/2020 11:35:00


A consciência é um ponto de vista, um foco e a possibilidade de uma perspectiva relativista que amplia o horizonte do pensamento e ensina a quem é aberto aos significados e símbolos presentes em todo lugar.
Esta vista (imagem) oferece uma boa comparação relativista do tamanho de nossa Terra frente ao gigante solar. O que seria de nós frente ao "bom sol" se não estivéssemos separados por 150 milhões de quilômetros? Um pouco mais perto, queimaríamos, mais longe congelaríamos...

Pense bem... O sol não é somente BOM nem somente MAU: o sol é impessoal como o universo inteiro é.
Somos os "filhos" resultantes do equilíbrio (e da harmonia!) entre polaridades e temos que reconhecer a boa sorte com que fomos agraciados.
O que seria de nós se a Terra não girasse sobre si mesma? Não teríamos, por exemplo, as estações de ano com alternâncias entre o quente e o frio, entre o úmido e o seco. No entanto, tem gente que reclama quando chove e reclama quanto não chove, tem gente que reclama sempre de tudo e de todos... Falta perspectiva ao ego humano.
Há tanto que se falar e escrever e até meditar a respeito de polaridades e seus efeitos em nós mesmos. Tanto se faz em prol de "Identificações Parciais do Ego" com esta ou aquela polaridade, como se esta fosse a nossa tarefa primordial e que, uma vez atingido tal objetivo, estejamos perto de uma realização palpável e completa. Infelizmente no universo as coisas não funcionam assim, de modo algum e somos os resultados ou conseqüências das forças que agem no universo como um todo, portanto, cabe-nos entendê-lo e compreendê-lo mais do que tentar alguma imposição ou preferência pessoal sobre ele.

Primeiro de tudo, somos tipos psicológicos, somos modelos de funcionamento e o número e as qualidades envolvidas em cada tipo são finitas e mensuráveis; de algum modo, são quantificáveis...
Peguemos algo como as qualidades QUENTE e FRIO, por exemplo. Alguém duvida que existam na natureza? Pois bem, isto posto: dependendo do nosso ano terrestre e em função da inclinação do eixo da Terra em relação ao eixo da eclíptica, o sol parece serpentear no céu, ao norte a ao sul, ao longo do ano.
Quando ele se dirige ao norte, nós no hemisfério sul sentimos sua falta, pois dias mais curtos e noites mais longas implica em menor calor solar e, portanto, mais frio aqui para nós. Vice-versa, os moradores do hemisfério norte encontram nestas mesmas épocas do ano, um acréscimo do dia e uma diminuição das noites, resultado em algo como o verão, ou seja, quente e seco.
Bem, o que terá isso a ver conosco?
Sofremos nós (a espécie humana) estes efeitos todos os anos e, mesmo antes do desenvolvimento de nossa espécie, o ser vivo sofreu estes efeitos mesmo quando tudo era uma apenas uma sopa de células vivas procurando sobreviver e se organizar em sistemas de pouca complexidade, mesmo então, estes fatores universais (do nosso universo local) nos acompanhavam em todos os sentidos. Não há espécie que não tenha uma adaptação prevista para o calor e para o frio. Nem mesmo a nossa. Então, se começarmos nossa reflexão sobre estas qualidades simples como o QUENTE e o FRIO, podemos perfeitamente contar que elas estejam se manifestando entre nós, mesmo hoje. Mas, não apenas fora de nós, no clima e no mundo e, sim, dentro de nós, em nossa composição íntima e em nosso funcionamento consciente/inconsciente.

Podemos pensar em termos de pessoas Quentes e pessoas Frias? Claro...
Mas quais seriam suas características expressões na vida prática -identificáveis e notáveis- que serviriam para destaque das idiossincrasias e costumes típicos de um grupo e do seu oponente natural?
Sim, existe entre estas qualidades uma natural oposição, com todos os graus de intensidade possíveis e imagináveis entre elas. É quase teórico imaginar um tipo unicamente Quente, assim como o seu oponente natural, um Frio típico, irrepreensivelmente Frio.
Que práticas e áreas de nossas vidas tomam a conotação do Quente e do Frio? Bem, todas, sem exceção alguma. Elas precisam existir para que cada qual possa ter algum ponto de vista a respeito delas e criar, então, uma identificação com alguma delas.

Somos tendenciosos e acabamos tomando partido de um lado em detrimento do outro.
Então, ficar perto da lareira no inverno, reunidos em torno do fogo (alimentação) é o próprio símbolo da família reunida e em segurança. Ter aquecimento em casa, ou ao menos, proteção contra o frio vindo de fora cria uma fronteira delimitadora do que é seguro e confortável e do que é hostil e nocivo, claro, qualquer um percebe isso.
Ninguém em sã consciência, pensando assim, vai preferir o frio ao calor. Somos seres quentes e lutamos toda a nossa vida para manter nossa temperatura estável, isso é tão essencial ao corpo que uma variação pequena nestes parâmetros nos coloca em franca aproximação do frio total, que é, sob este ponto de vista, a própria morte. Mas, quem, hoje em dia teme a morte em um dia frio? Ora, eu vivo em área tropical, 23° Sul, portanto não conheço nem tenho prática com estes extremos, mas qualquer pessoa, grupo ou tribo que viva em latitudes altas, norte ou sul, sabe muito bem, que a morte está sempre perto. E agora, em especial, a Europa está enterrada em neve por todos os lados.
Naturalmente, instintos próprios a este fato tão simples são ativados todo o tempo.
Isto está residente em nosso plano instintivo básico.
Do mesmo modo, a constante exposição de uma população ao clima quente ou frio se traduz em características como a do nosso povo, que é festeiro e extrovertido (quente) e a de povos nórdicos de clima frio, que se mostram com tendência a serem introvertidos e introspectivos.

Como seria uma descrição do tipo Quente e do tipo Frio? Sintetizando, pode-se descrever deste modo:
Quente = Frio
Movimento = inatividade
Expansivo, extrovertido, centrífugo = introvertido centrípeto
Ativo = passivo
Corajoso = retraído
Otimista = temeroso
Aventureiro = segurança acima de tudo
Independente das qualidades aqui envolvidas, pode-se considerar que há uma fronteira delimitadora entre uma e outra polaridade e que podemos, cada qual, nos identificar com uma ou com outra das qualidades propostas, mas a outra nunca está ausente, ela apenas não predomina ou não é dominante.
Alguns de nós até se aproximarão de um tipo quente típico, aquele que sempre toma a iniciativa, sempre pensa e age "pra frente e para o alto" sendo heróico e seguindo o modelo destemido da proposta moderna para o Mito do Herói.
Vice-versa, hoje tão fora de moda, temos o tímido, o analítico que não age antes de garantir sua segurança e de avaliar previamente cada passo, poder-se-ia chamá-lo de temeroso, facilmente.
Dá até pra lembrar, neste momento, o exemplo do "quente e ariano exército alemão" (os filhos do fogo), cheio de ímpeto e força avançando sobre uma Rússia retraída e inibida, cujo exército recuava não deixando atrás de si nem mesmo uma madeirinha para os alemães queimarem e, ao final, todos sabemos que o resultado foi positivo e vencedor para aquele general que soube retrair-se, retirando-se, conservando suas poucas forças até que o aliado maior chegasse: o inverno ( o frio). Esse exemplo ilustra bem o ocorrido com a frente oriental do exército nazista: perdeu a guerra...
Pois bem, conosco ocorre algo idêntico, pois qualquer desequilíbrio nosso, especialmente no momento ou época errada pode significar derrota e sofrimento, portanto, temos que, todos nós, sermos capazes de migrar de uma polaridade para a outra, dependendo do caso, pois a identificação parcial e radical com UMA das polaridades pode ameaçar o todo, sempre. No exemplo acima, o "invencível, sempre com a razão, ativo, intrépido, ofensivo e vencedor comando alemão pagou por seus, digamos, erros básicos e por seu desrespeito às mais simples leis da natureza...
Continuemos nossa reflexão em âmbito menos coletivo e grandioso:
Se o Quente está associado ao diurno, podemos imaginar alguém que só exista para o dia, para a atividade, a ação e a produção e que, assim dividido em sua natureza instintiva mal construída, acaba tendo sérios distúrbios do sono (repouso, inatividade, manutenção) e sofrendo muito com o fim de semana onde não tem um papel ativo a ser exercido e quase explodindo de stress, quando parado no trânsito, sem poder fazer coisa alguma...
Não é à toa que hoje em dia, a maior parte dos lazeres de fim de semana pressupõe corridas, desafios e competição, isso, claro, para uma parcela considerável das pessoas economicamente ativas...
A outra parte da população descansa, pinta, canta, cozinha, assiste filmes e televisão, teatro ou shows, ficando passiva ou inerte a maior parte do tempo, chamando a isso de "merecido descanso". Nada é por acaso, nunca...
Conhecemos, todos nós, os que se sentem desconfortáveis quando obrigados a uma "paradeira total" enquanto existem outros que se sentem desconfortáveis se expostos a uma atividade incessante. Há amantes da atividade (quentes) e amantes da inatividade (frios).
E... os opostos se atraem? Claro que sim, eles inclusive se complementam um ao outro e se tornam inseparáveis. Não por acaso, encontramos pessoas especializadas em um dos opostos cercadas por pessoas identificadas com o seu contrário:
Muitos casais e relações de todo tipo são construídas com base em tais confrontos de opostos.
O controlador e o caótico, o ordeiro e o desordeiro, o analista frio e o rebelde/revolucionário.
Temos o que assegura e o que, entre aspas: destrói, desmancha ou dilui.
Temos o conformado e o revoltado...
Existem os agentes da manutenção e da segurança e existem os agentes da revolução e da transformação. Existe o hábito e existe a mudança.
Existe o conhecido e familiar e existe o desconhecido e "estranho (ameaçador)".

Para o Universo, todos têm a mesma importância, o mesmo valor, todos concorrem para o equilíbrio de tudo e de todos, já para nós humanos, ora existem os bons e os maus, os certos e os errados, o que está na moda e o que não está na moda, existe o bonito e o feio, o aceitável e o inaceitável.
Podemos nos identificar com cada uma destas características, exercer com isto uma escolha adequada à nossa natureza, mas sem obrigatoriamente perder a chance e a oportunidade da mudança e da alternância, pois se a perdemos, perdemos a "fluência" e então nos sobra a rigidez e a estabilidade de uma só e única condição para o nosso funcionamento. A Neurociência do cérebro, modernamente, está contribuindo com descobertas importantes a este respeito.
Naturalmente, em todas aquelas situações em que agir pela polaridade oposta à qual estamos identificados seria a coisa mais inteligente a fazer, acabamos sofrendo derrotas e experimentamos uma sofrida desadaptação ao mundo. Geralmente afetando negativamente nossa auto-estima.
O mesmo se pode exercitar quanto a outras "qualidades básicas" como o Seco e o Úmido, apenas como exemplo de qualidades típicas de todos nós. Este outro essencial e básico par de opostos será alvo de outra reflexão minha a ser publicada aqui muito em breve, formando um quarteto estrutural.
E eu estou, de propósito, prendendo-me apenas às mais simples...



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luis
Luís Vasconcellos é Psicólogo e atende
em seu consultório em São Paulo.



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