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Sonhos recorrentes: Um caso de regressão - Parte 4

por Ronaldo Cardim em Psicologia
Atualizado em 08/04/2020 11:35:11


Existem sonhos que se repetem ao longo de grande parte da vida e que têm sua causa estruturada na hora do nascimento.
Esses sonhos também vêm carregados de uma forte carga emocional e sensação de realidade, e trazem imagens e símbolos infinitamente surreais, absurdas.

Outra característica comum a esses sonhos é a sensação de continuidades nos momentos que seguem o acordar. Ou seja, por alguns breves momentos após acordar a pessoa sente o sonho continuar acontecendo misturado ao mundo real.
E não é raro ainda, encontrar relatos desse tipo de sonho onde a pessoa sente alguma dor enquanto está sonhando e ao acordar e até no decorrer do dia seguinte ainda percebe uma sensibilidade dolorosa em alguma parte do corpo. O mais comum nesses casos são dores de cabeça, ombros e pescoço.

Vou aqui, mais uma vez, fazer uso de um exemplo para ilustrar essa explicação.
"Uma mulher, trinta e oito anos, casada, um casal de filhos adolescentes, muito bem estabilizada financeiramente, nível intelectual e cultural elevados, relacionamento familiar estável. Vida e relacionamento social bastante ativa, normal e equilibrada. Ela teve no decorrer de toda vida uma relação muito "estranha" com fezes humanas. Eram dois fatos que ocorriam desde criança e, com a maturidade, ela foi se sentindo incomodada com aquilo e foi buscar ajuda na terapia".

O primeiro fato era um tipo de sonho que tinha periodicamente.
No sonho que tinha desde muito criança, via-se em cenários diferentes que variavam com a fase de idade. Nesses diferentes cenários, estava sempre em algum lugar onde havia fezes humanas. E embora nesses sonhos ela sempre acabasse de alguma forma se sujando nas fezes, não havia a sensação de nojo ou sujeira. O sentimento que mais destacava era de medo com desconforto e dores nas regiões dos ombros, pescoço e cabeça. Ao acordar, sentia desconforto e dores de cabeça, pescoço e ombros.

Num desses sonhos, via-se em uma saleta muito apertada e as paredes começavam a se comprimir apertando ela e a tudo que havia lá dentro, em outros estava em pequenas cavernas subterrâneas que desmoronavam. Com tudo caindo sobre ela, via-se compelida a esgueirar-se por uma minúscula abertura que sempre havia em uma das paredes. Sentia essa fenda muito estreita e lhe apertando muito e, ao escapar desse aperto, tinha que correr sempre por caminhos onde havia fezes humanas. Lembra que apesar de sempre pisar, sentir o mau cheiro e às vezes cair em meio as fezes, não havia nojo ou repugnância. Pelo contrário, apesar das dores e mal-estar, tinha uma sensação de alívio e de liberdade que prevalecia. Em várias vezes as dores de cabeça, pescoço e ombros continuavam ainda por algumas horas após o sonho.

O segundo fato era algo que jamais havia contado nem para familiares nem para médicos. Sentia que era algo exageradamente bizarro e constrangedor e tinha dificuldade de admitir até para ela mesma que aquilo ocorria. Era tão constrangedor para ela, que não conseguiu falar sobre aquilo nas primeiras sessões da terapia.
Começou contando que quando criança era comum ter desarranjos intestinais sempre que passava por uma situação estressante. O terapeuta lhe mostrou que isso era comum até com adultos e nada de muito importante trazia para entendimento dos sonhos.

A partir daí seu constrangimento ficou visivelmente aumentado. Disse que "apesar da vergonha que estava sentindo" iria contar, pois era para isso que tinha vindo.
Ocorre que com o passar do tempo foi naturalmente percebendo que o que lhe dava sensação de alívio não era expelir as fezes, mas o seu odor. Quando sentia cheiro fecal sentia-se acalmar, como se ficasse livre do peso do stress. E concluiu dizendo que, a partir da adolescência, parou de ter os desarranjos intestinais. Porém, desenvolveu um costume que, quando passava por uma situação muito estressante, ia ao banheiro e forçava uma defecação, e com o cheiro exalado sentia acalmar-se. Muito constrangida, chorou copiosamente em um claro estado de catarse. Perguntava se estava fora do juízo normal, se isso denotava uma patologia mental de séria gravidade.

Com o devido cuidado, o terapeuta mostrou-lhe que embora pudesse parecer algo anormal, não era com certeza de gravidade maior, pois esse costume não colocava em risco a segurança dela ou de outrem, nem tampouco a expunha diante de situações constrangedoras. A essa altura, era inevitável não fazer uma relação entre o costume bizarro que tinha, com os sonhos recorrentes e igualmente estranhos. A relação entre o comportamento e os sonhos, ambos fortemente ligados a fezes humanas, estava clara, porém, não dava para ter a menor ideia do que poderia significar aquilo tudo. Por isso, o terapeuta sugeriu recorrerem à regressão. Após uma considerável resistência por questões religiosas, a mulher aceitou, visando realmente buscar entendimento para tais comportamentos e sonhos. Foram necessárias muitas sessões até ela conseguir entrar em um estado profundo de relaxamento onde fosse possível levá-la a uma indução ideal para o processo regressivo.

Em uma sessão que coincidiu ser imediatamente posterior à uma noite em que ela teve o sonho e ela já familiarizada com a sequência de indução ao relaxamento, o que diminui consideravelmente o nível de ansiedade, ela sentiu como se flutuasse a uns cinquenta centímetros acima do corpo. Começou a dizer que se sentia molhada e rapidamente viu-se mergulhada em algum recipiente com um liquido estranho e ouvindo ruídos igualmente estranhos. E essa combinação de estranhos transformou-se de imediato em algo profundamente familiar, agindo como um catalisador puxando toda sua consciência ao local e o momento, que identificou como sendo o ventre materno exatamente uma hora antes de seu nascimento. Aí sentiu que já vinha vivenciando um grande desconforto, há algumas horas, quando então a mãe havia entrado em trabalho de parto. Uma forte sensação de medo e insegurança surgiu ao sentir que a segurança que representava o útero materno estava comprometida. De repente, sentiu-se fortemente comprimida e empurrada de cabeça para baixo por um canal muito estreito. Ao passar por esse estreito canal, sentia uma forte pressão e dor na cabeça e ombros. Quando já estava com a cabeça toda para fora, registrou um odor muito forte. A mãe enquanto fazia força para o parto, expeliu uma quantidade grande de fezes e quando acabou de sair o corpinho do nenê, este esbarrou nas fezes da mãe. Tudo se passou na casa da mãe, um parto normal acompanhado apenas pelas duas tias maternas. Este detalhe de seu nascimento, ela nunca ouvira falar, pois a mãe faleceu quando ela era ainda uma pré-adolescente. Conseguiu, porém, confirmar esses detalhes com as tias que acompanharam a mãe no seu parto.

Ao retornar ao nível normal de consciência após a sessão trazia lembrança completa e clara de cada imagem e de cada sensação e emoção vivenciada naquele processo.

Nas sessões seguintes com a ajuda do seu terapeuta pode fazer todas as ligações entre os fatos vivenciados na sessão de regressão e os sonhos e comportamentos estranhos que tinha.
Viu que o cômodo apertado cuja parede se movia e a apertava e as pequenas cavernas dos sonhos eram o útero da mãe. A associação do odor das fezes da mãe com a sensação de liberdade que sentiu ao sair do aperto criou o estranho costume de ir ao banheiro e sentir o odor das próprias fezes para acalmar-se. E assim com todas as outras associações e entendimentos feitos e assimilados, tratou com o terapeuta que voltaria a procurá-lo se voltassem os sonhos ou se tivesse novamente os comportamentos anteriores ao deparar-se com situações estressantes. Porém muito tempo se passou e não teve até agora necessidade de voltar ao terapeuta.



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cardim
Ronaldo Cardim é Terapeuta Corporal e Psicoterapeuta Holístico, formado em psicologia, trabalha com as técnicas: Shiatsu, Zen-Shiatsu, Massoterapia Corporal, Massagem Bioenergética, Massagem de Alongamento, Sei-Tai (manipulação da coluna), Psicoterapia Holística, Relaxamento induzido, Hipnoterapia Condicionativa, Regressão (TVP).
Atende em seus consultórios em Tupã/SP (14) 3496.6310 e em Marilia/SP (14) 3413.9979

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