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Verdadeira história da relação homem-mulher

por Flávio Gikovate em Psicologia
Atualizado em 10/01/2007 16:50:28


Atualmente ainda é grande o número de mulheres que têm uma visão unilateral e, até certo ponto machista, acerca da história das relações íntimas entre homens e mulheres. É fato que os homens sempre foram fisicamente mais fortes e se beneficiaram disso para, antes da vida em sociedade, terem acesso às mulheres que lhes despertavam o desejo. Em sociedade, porém, as escolhas e as parcerias sempre foram regulamentadas. Determinados homens deveriam se casar com determinadas mulheres e as escolhas eram feitas pelos pais deles. Ao homem cabia uma série de deveres e direitos, sendo o mesmo verdadeiro para as mulheres. É fato que os homens tinham seus direitos matrimoniais, o que significava que as mulheres tinham que estar sempre disponíveis sexualmente. Isso só se modificou de poucas décadas para cá.

Os casamentos não foram fundados, ao longo da história, em sentimentos amorosos. Quando um homem quisesse ter acesso a qualquer outra mulher que lhe despertasse o interesse sexual ou sentimental, dependia completamente da concordância dela. Ou seja, dentro do casamento ele tinha direitos e deveres e agia como se fosse o rei, o chefe; mas o clima não era de natureza amorosa e sim de associação para fins reprodutores e para, juntos, enfrentarem as adversidades da vida prática. Qualquer vivência de caráter erótico ou sentimental, que sempre acabava por acontecer, dependia dele se fazer interessante aos olhos das mulheres, sendo que estas já eram interessantes, porque haviam despertado neles o interesse sexual e/ou sentimental. Dependiam, portanto, da aprovação delas.

Elas iriam admirar e aceitar a aproximação de determinados homens que tivessem as prendas que elas valorizavam. Ou seja, afora o contexto conjugal, o homem sempre foi muito preocupado em agir de uma forma que agradasse às mulheres. Se elas valorizassem os caçadores de grandes animais, era a isso que eles iriam se dedicar. Ao valorizarem os guerreiros, estimulavam os homens para as guerras. Os homens não queriam as guerras e nem as caças. Queriam as mulheres! Os homens sempre quiseram as mulheres e agiram desta ou daquela forma porque achavam que estavam provocando a admiração delas.

É terrível ver a história masculina por este ângulo triste, no qual o masculino sempre se definiu a partir do feminino. É assim até hoje: se as mulheres valorizarem homens simples, sem carro, cultos, poetas e delicados, assim seremos! Se valorizarem os carrões, então queremos ter os carrões. Não para ter os carrões e sim para termos acesso às mulheres.

É por este ângulo que estou vendo a questão e é por isso que não posso aceitar com facilidade esta idéia de que as mulheres foram apenas vítimas da opressão masculina, que elas foram pisoteadas e prejudicadas. É fato que eles as afastaram das boas condições de trabalho social (isso quando pensamos na história recente da humanidade e não nos milênios que nos antecedem). Fizeram isso para se defender, para terem o poder econômico com o qual pretendiam neutralizar o poder sensual feminino. É por fraqueza que fizeram o que fizeram. O homem sempre foi o sexo frágil, justamente porque sempre quisemos muito (e ainda queremos) ser bem aceitos pelas mulheres.

Quando se ouvem os relatos das inseguranças sexuais dos homens mais delicados, daqueles que não são os cafajestes, eles estão sempre preocupadíssimos em não decepcionar as mulheres com quem estão se relacionando. Eles estão o tempo todo preocupados em não fracassarem sexualmente diante daquelas deusas a quem eles atribuem o direito de julgá-los e de avaliá-los como criaturas dignas, como verdadeiros homens. Isto pode inclusive provocar neles tamanha insegurança que os impulsiona na direção daquelas mulheres que eles menos valorizam e que eles acreditam que agradarão com mais facilidade. Assim, muitos homens legais acabam por se afastar das mulheres que eles gostariam de namorar justamente porque não acham que vão ser aceitos por elas, que não vão estar à altura delas nem mesmo no plano sexual.

Ora, isso não é superioridade e nem dominação. É fraqueza e insegurança. Os homens machões, aqueles que precisam depreciar as mulheres o tempo todo, são movidos por inveja. Falam mal de mulher, mas nos carnavais de antigamente eram os que se fantasiavam com roupas femininas! Queriam ser mulheres porque queriam despertar o desejo visual que sentem por elas. Queriam se sentir desejados do mesmo modo que desejam. Toda hostilidade gratuita é manifestação de inveja. Os machões sentem inveja das mulheres. Os melhores homens se sentem inseguros e não se percebem à altura delas. Onde está a tão falada potência masculina, a tão temida superioridade e dominação dos homens sobre as mulheres?


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flavio
Flávio Gikovate é um eterno amigo e colaborador do STUM.
Foi médico psicoterapeuta, pioneiro da terapia sexual no Brasil.
Conheça o Instituto de Psicoterapia de São Paulo.
Faleceu em 13 de outubro de 2016, aos 73 anos em SP.

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