Você é autoabusivo?
por Silvia Malamud em PsicologiaAtualizado em 08/04/2020 11:35:29
A maioria das vítimas tem como característica principal um desejo bem-intencionado de acertar e de serem amadas. Ingenuamente, imaginam que todos estejam nessa mesma frequência. Por conta desse padrão perceptivo, ocorre uma negação massiva de alguns sinais de sobrevivência que deveriam ser levados a sério.
A crença infiltrada insiste em dizer que o mal do outro inexiste, sendo que este é o palco onde as mais aterradoras histórias de sequestro emocional se instalam. Infelizmente nem todos são bem-intencionados e muitos sequer têm consciência moral sobre seus próprios atos.
O adoecimento psicológico da nossa era induz ao pensamento de que o importante é a satisfação pessoal ilimitada, mesmo que isso possa provocar dor em qualquer um que seja.
Erroneamente, muitos de nós vivem em cárceres autoabusivos sem se dar conta. Estão trancafiados em imagens de perfeição, negando aspectos humanos que dizem respeito à imposição de limites que geram saúde emocional entre outras coisas; tudo em nome de acreditarem que tais atitudes não seriam aceitas socialmente. A linha do bom senso consigo mesmo está devastada tanto para mais como para menos. Perdemos a medida e é este o cenário em que abusadores de toda sorte fazem os seus maiores estragos.
Somos seres agressivos por excelência e essa força faz parte da nossa constituição. Saber dizer não, fazer esportes, trabalhar e outras tantas ações que podemos ter, fazem parte do bom uso dessa poderosa energia. Hoje existe muita distorção sobre o que pode significar sobrevivência saudável.
Num olhar bucólico e, por que não dizer romântico, a maioria das vítimas de relacionamentos abusivos possuem boa índole e naturezas solícitas que perdem a medida quando se contaminam com as referências do politicamente correto. Visam demostrar o seu amor prevendo as necessidades da parceria afetiva, na crença de que quanto mais fizerem pelo outro, mais a parceria igualitária será dinamizada. Ledo engano. O orgulho de estarem fazendo a "coisa certa", de agradar e de aparecerem bem socialmente faz com que não consigam perceber as suas próprias necessidades. E o abusador sabe disso, abusando deste bom senso fazendo o que bem quiser dentro da relação.
Um dos erros iniciais das vítimas, para evitar desentendimentos, é a dificuldade de falar "não", mesmo quando a situação está muito prejudicial deixando-a triste. No desenvolvimento desta trama, porém, ela vai se calando porque qualquer opinião contrária pode causar conflitos sem fim e a vítima só quer paz. Com o tempo, o que costuma acontecer como grito de sobrevivência e para que um colapso maior não ocorra, são emoções como a raiva e a indignação.
A agressão narcisista é um fato real, embora não seja física e nem facilmente visível, pode durar tempo demais, ultrapassando todas as linhas vermelhas, prejudicando tanto a cognição, como a saúde geral e o discernimento das vítimas.
Ao se tornar lúcido num relacionamento abusivo, a pessoa deve reunir forças, buscar ajuda e sair o mais rápido possível da situação.
Quanto mais despertos, melhor!