Você sabe o que é um crescimento pós-traumático pela via positiva?
por Silvia Malamud em PsicologiaAtualizado em 08/04/2020 11:35:19
Um aprendizado sobre a importância do autoconhecimento, do autorrespeito e da mudança drástica que ocorre quando se decide sair de padrões viciados onde as pessoas se esquecem de si mesmas em nome de outros.
Lucélia veio pela primeira vez em meu consultório desejando mudanças em sua vida e, embora não tivesse a menor noção de como seria o seu processo terapêutico, acreditou na jornada de autoconhecimento que estava dando início. Em sua bagagem, trazia a sua certeira percepção interior de que algo dentro de si mesma não estava a contento e que poderia ser melhor. E estava certa. Ao longo de sua vida, como tantos de nós fomos, Lucélia fora emocionalmente abusada em inúmeras situações. Naquele momentos, ainda sem consciência de sua própria situação e mesmo sem ainda ter a clareza total dos fatos, suas angústias lhe ajudavam a saber que algo de errado circundava sua vida.
Durante o período do seu processo terapêutico, Lucélia passou por diversas descobertas, resgates de aspectos importantes de si mesma que estavam esquecidos ou não ativados, inúmeros ganhos de ordem emocional, transformações e renascimentos. Pôde se reinventar sem precisar apagar de sua mente tudo o que passou, mas podendo redimensionar suas percepções e vivências dentro dos contextos já vividos. Como consequência, conseguiu conquistar uma vida repleta de significados muito maiores do que jamais teria imaginado anteriormente.
Essa foi a sua meta terapêutica, cuidar dos bastidores do seu psiquismo, dar conta e ser verdadeira com seus próprios sentimentos. Como consequência, começou a validar as suas intuições e percepções, na medida em que deixava de ser negligente consigo mesma em nome de outros.
Por meio das terapias de reprocessamento cerebral em EMDR e Brainspotting, foi possível, inclusive, recuperar memorias perdidas, digerir conteúdos difíceis de vida e ressignificar crenças sobre si mesma e sobre a realidade que vivia. Ousou mudar cenários e hoje é a prova viva do quanto que o crescimento pós-traumático pela via positiva pode existir para todos nós independente das circunstâncias anteriormente vivenciadas.
Tenho plena convicção de que sempre podemos nos autossuperar em infinitas novas possibilidades de ser. Todos nós temos uma capacidade inata de sair de situações extremamente difíceis e mesmo assustadoras e de trilharmos novos e inusitados destinos sem precedentes. Em algumas circunstâncias, precisamos de uma mão amiga para este feito, em geral, um auxílio terapêutico competente.
Sinto-me extremamente honrada de poder participar destes preciosos e sagrados processos com os meus pacientes. Sempre que eles chegam para iniciarem um processo terapêutico, confesso que desejo que eles se surpreendam e que eu possa me suspender com eles. E o que acontece dentro da singularidade de cada um colorindo diferentemente cada tipo de resgate, sempre é emocionante.
Sair do aprisionamento das bolhas de sofrimentos emocionais e ter a vida resgatada dispondo de toda a energia vital que temos para outros tipos de escolhas é da ordem do divino.
Ter noção do que é lesivo para a alma e rumar para o que é bom e prazeroso é um dos patamares mais impactantes e surpreendentes que podemos alcançar em nossas jornadas terrenas. Um estado de leveza e simplicidade ao qual não estamos acostumados a existir.
Todos nós merecemos viver em padrões de excelência; saber quais são eles, como funcionam e como podemos efetivamente nos beneficiar vivendo com e por eles é a meta a ser conquistada. Pode parecer difícil de entender, mas aprender a viver em nada mais e nada menos do que no melhor, de início, pode não ser uma tarefa fácil para quem não está acostumado e nem sabe que a vida pode ter outros coloridos, bem mais vívidos.
Passar pela dor e reprocessá-la, com maestria, literalmente transforma a vida numa grande e positiva aventura.
Quando você consegue se sair bem de situações complicadas, ganha em aprendizados e pode se reinventar totalmente pela via positiva.
Quanto mais despertos, melhor!