A FUMAÇA QUE ENVOLVE O CORAÇÃO
As pessoas querem servir os outros e não desejam ser egoístas. Mas se você não servir a si mesmo estará sendo egoísta, porque nunca vai conseguir se ligar amorosamente a um círculo mais amplo e muito menos a outra pessoa.
Mary Oliver
É uma lei inviolável. E isto é o que ela tem de melhor: o que você dá, você recebe.
Costumamos ensinar um tipo de meditação que a tradição budista chama de Tonglen - a meditação do dar e receber. É um exercício de visualização. Você começa fazendo para si mesmo, pois os budistas acreditam que só quem dá primeiro a si tem condições de dar aos outros. É preciso cuidar primeiro de si. A seguir, faz em favor dos entes queridos. Depois, para as pessoas com quem você possa estar em conflito. E assim por diante, cada vez para um círculo maior de pessoas.
Primeiro, visualize seu próprio sofrimento como se fosse uma fumaça em volta do seu coração. Inspire essa fumaça e leve-a até a luz que existe dentro do seu coração e, quando ela se dissipar, expire a luz de seu coração em seu próprio benefício. Depois faça isso pelos outros - inspirando seu sofrimento e expirando sua própria felicidade, a plenitude da sua verdadeira natureza. O resultado costuma ser, inicialmente, uma sensação de alívio porque, no fundo, sabemos que, se não cuidarmos de nós, não podemos cuidar dos outros.
O mais incrível dessa imagem tibetana é que, quando assumimos generosamente a dor do outro, ela não fica guardada dentro de nós. Ela se consome, se dissipa em nosso coração, deixando uma energia extra em forma de luz. Esta energia continua a nos iluminar, mesmo depois de soprarmos em direção ao outro.
O exercício de meditação enfatiza este princípio psicológico básico - é absolutamente necessário você cuidar primeiro de si. Senão, ao assumir a dor e os problemas alheios, você vai ficar esperando um retorno. Vai inconscientemente cobrar do outro. E a pessoa beneficiada irá se sentir enfraquecida e, provavelmente, ressentida.
Gosto muito da Prece da Serenidade. Essa oração pede serenidade para aceitar o que não se pode modificar, coragem para mudar o que pode ser mudado e sabedoria para perceber a diferença. Vamos imaginar que você olhe para a sua vida e diga: "Há alguma coisa errada. Sinto uma enorme insatisfação e falta de amor." Seria ridículo acrescentar "Ah, não faz mal, espiritualmente vai tudo bem, vou me resignar, continuar amando todo mundo e ser feliz deste jeito".
Resignar-se, aceitando a situação, pode ser a pior escolha. Talvez seja preciso romper uma amizade, terminar o casamento, usar de firmeza amorosa com seus filhos. Não se pode passar por cima de necessidades psicológicas básicas na esperança de alcançar um reino espiritual maior e mais rico. Não é fácil aprender a pedir aquilo de que você precisa. Não é fácil pedir aos filhos, amigos ou companheiros o que você precisa. Nem é fácil pedir ao Grande Espírito, ao grande mistério. Mas é necessário aprender a pedir. E o meio mais fácil de aprender a pedir é pedindo. Só se aprende fazendo. Peça explicitamente. O Grande Espírito deseja que você o faça. Seu companheiro - ou companheira - não sabe ler pensamentos: diga clara e serenamente o que deseja.
Sempre acreditei na necessidade de conhecer bem o terreno para evitar as minas enterradas. Aprenda a ler os sinais, não os despreze nunca. Mesmo o lado mais obscuro nos oferece suas lições. A raiva é uma grande mestra que nos ensina a dar e receber amor, porque raiva é resposta a uma ação. É como um gongo que soa anunciando: "Alguma coisa está completamente errada." A mensagem pode ser penosa, mas é simples e clara.
As mensagens alegres também são claras e simples. Agradecer, incentivar, dizer: "Você me ajuda a viver" são atitudes que despertam mais amor nas pessoas, levando-as a reproduzir o mesmo gesto. Até que um dia, eu espero, estaremos cercados de gente generosa, cuja simples presença nos fará bem.
É uma lei inviolável: o que você dá você recebe. Expressar gratidão é em si um dom simples. Mas seu efeito é prodigioso: cria mais amor no mundo.
Joan Borysenko, Psicóloga clínica norte-americana. É autora de trabalhos em que reúne a medicina, a psicologia e a espiritualidade a serviço da cura individual e coletiva. É autora do best-seller Minding the Body, Minding the Mind.
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