A Janela da Eternidade
Debruçai vosso espírito na Janela da Eternidade e procurai ver a real paisagem que se descortina.
Dois irmãos debruçam-se nesta Janela e um fica parado, até imóvel pelo medo e pela dúvida. Quantos obstáculos já colocou na sua vontade que é superada por sentimentos mais fortes de negatividade. Olha com preguiça para o lado e constata que o outro irmão parece não ver os desvios e atalhos, as dificuldades da mesma Estrada.
Este segundo, vivia sem preocupar-se sem ver com os olhos da matéria o final da Estrada, já que os olhos de sua alma viram muito mais além. E os ouvidos de seu corpo nada escutaram, porque o cantar dos pássaros estava distante, assim como o murmúrio dos riachos, mas os ouvidos de sua alma ouviram o cantar de águas límpidas, etéreas e o cântico de mil pássaros a alegrar os dias dando a vibração da luz aos lugares sombrios. Sentiu que tanta melodia só poderia levá-lo a um fim que seria eterno. Seus pés não podiam tocar a relva para saber se era macia, mas não estava preocupado com seus pés e sim com sua alma, e a alma não caminha, flutua. Não poderia falar com os irmãos que iam mais adiante e conheciam os embustes da caminhada, porque sabia que as pedras do caminho não se mantêm no mesmo lugar para todas as criaturas. Nem todos transpõem dificuldades com o mesmo espírito de luta. Compreendeu então que não se preocupava também em saber onde e como cairia. Desejava ferir seus joelhos, ralar suas mãos, se esse fosse o preço para ver e ouvir toda a beleza que pressentira existir por trás de toda a dor e sofrimentos que lhe fossem impostos. Teve coragem e sem olhar para trás, abriu sua porta e partiu, caminhou, levantou, sofreu e sorriu, alegrando-se com suas dores.
Reconfortava-se com a luz de cada dia que se seguia à escuridão das noites. Lavando as feridas com a água pura dos regatos, ele seguiu corajoso e destemido.
Um dia ao despertar, sentiu-se leve e viu que seu corpo continuava adormecido em meio aos pássaros e aos arvoredos. Seus pés não estavam doídos nem cansados, não havia feridas nos joelhos. Seu corpo de opaco se transformara em luz. Pensou em caminhar e viu que flutuava. Os companheiros de jornada, cada um com sua luz, o esperavam e estendiam as mãos dizendo:
"Vinde, irmão, pois agora não teremos mais que falar em dores e dificuldades passadas. Vamos unir nossas luzes e voltar ao irmão que ainda está debruçado, na mesma Janela, sem sofrer, sem amar, mas sem viver!
Vamos levar a força que lhe falta para iniciar a caminhada, para que algum dia possamos todos ser felizes, vendo que a coragem de viver impera em todos os corações, que a maldade foi substituída pelo amor, a fraqueza pela força, a escuridão pela luz. Vamos, irmão, porque queremos um dia ficar tranqüilos em relação a todos os irmãos".
E voltaram à triste Janela, quando o irmão, sem saber porque, abandonou o medo e saiu confiante no cantar dos pássaros que viu passar...
Gotas de Amor, psicografia de Maria de Nazaré, 18/07/1974
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