A LÁGRIMA
Bendita seja a dor, torturante e aflitiva,
que, na função purificante e corretiva,
impõe ao pecador a taça de amargura;
ou quando, revestida de sublimidade
para a remissão excelsa da humanidade,
reflete-se na lágrima confortante e pura!
Já nos primeiros dias da criança
a dor, produzindo a lágrima, lança
o estima fatal dos sofrimentos;
pois, aos pequeninos ainda inconscientes,
ela se manifesta nos olhos inocentes
para denunciar os seus padecimentos.
Na primavera da vida, como a flor,
quando o jovem desabrocha para o amor
nos momentos mais felizes e risonhos,
a lágrima transparece, indiferente,
traduzindo a magoa do adolescente
pelos desenganos dos primeiros sonhos!
Na melancolia da ausência e da saudade
também sentimos a profundidade
da dor, como no adeus de despedida,
quando a lágrima, indiscretamente,
parece proceder do coração da gente
a expectativa da hora da partida.
A lágrima atormentada do desesperado
é como a revolta do injustiçado
quando lhe roubam a força do direito.
difere do lacrimejar de comoção,
em que sentimos, lentamente, o coração
compadecido a palpitar dentro do peito.
A lágrima do perdão – a lágrima que redime,
de todas é talvez a mais sublime
pelo poder espiritual que ela encerra;
é o traço de união para com Deus;
é o caminho que conduz aos céus,
e a última ligação do homem à Terra!
Porém, nem tudo é pranto e agonia,
porque existe ainda a lágrima de alegria
nos instantes de grande emotividade;
é quando, com surpresa incontida,
entre a tristeza e as agruras desta vida
sentimos, de repente, a felicidade!
Apesar do meu esforço de inteligência
não consigo descobrir qual a essência
da lágrima em seu mistério e sutileza.
Pois, além de se tornar indescritível;
ela é também um contra-senso incompreensível,
porque se revela na alegria e na tristeza!...
Bernardino Nilton Nascimento
[email protected]
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