A MENINA QUE COLECIONAVA CONCHAS
Era a primeira vez que via o mar. Encantou-se, mas ficou assustada com o barulho. Ergueu os bracinhos achando que podia tocar o céu com a ponta dos dedos. Sentiu a brisa fresca da praia, viu a lua nascer enquanto o sol ainda luzia.
Pés de pele fininha, delicados e pequenos, como pãezinhos gordinhos. Quis correr. Sentiu algo duro machucando a sola delicada e viu uma conchinha. Foi amor à primeira vista. Aquela coisa tão áspera e bela ao mesmo tempo!
Essa foi a primeira lição de sua vida: a aspereza tem seu lado terno.
Lição que aproveitaria mais que tudo em seu destino. Resolveu que teria muitas, muitas
conchinhas na vida. Como a experiência havia sido dolorosa, apesar de bela, pensou: pra cada dor da vida, uma concha vou guardar.
E assim foi.
Dava nome à cada uma das conchinhas; associava-as à pessoas ou fatos; datava, catalogava.
Tinha um diário onde colocava o nome da cada concha, a data e o fato a ela relacionado. Quando sentia saudades de alguma pessoa-concha, colava-a em seus ouvidos para ouvir, misturado ao som do mar, a voz do ente querido afastado ou perdido para sempre. Nunca mais se afastou do mar. Nunca mais teve a pele fina em seus pés.
Construiu uma casa de conchas. Dormia ouvindo embalada pelas vozes das conchas.
Seu nome?
Pérola.
Thaty Marcondes
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